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Um Clube Moribundo E Desleixado. (08/02/2018)

Ao ler as notícias dos clubes paulistas, gaúchos e mineiros, além do Flamengo, sinto uma amarga nostalgia do meu Fluminense. Fico imaginando o que sentiam os torcedores fieis do Santa Cruz, do Atlético Goianiense, do Guarani de Campinas, do América.

Nós, tricolores, estamos no mesmo limbo do futebol em que vivem esses agora pequenos clubes, fora da realidade profissional dos que frequentam o noticiário esportivo.

Não podemos mais sonhar com títulos, ou sequer boas campanhas. O Fluminense tornou-se um time sem expressão e um clube moribundo.

Olhamos agora para esses times como os brasileiros olhavam para a Champions League. Agachados e conformados.

O estadinho das Laranjeiras nem para treinos pode ser mais usado. No máximo, um joguinho ou outro dos times da base. Não digo elefante branco porque o tamanho do local não permite. No máximo, uma anta branca, imóvel, sem utilidade.

Esses sentimentos me vêm da leitura dos dois ótimos artigos de Paulo Brito no NetFlu denominados ?Dossiê Laranjeiras: Um clube belo, preguiçoso e sem lar?, que recomendo vivamente.

Vivemos um período de morte anunciada, e a turma das resenhas de televisão já verbaliza isso abertamente, sem pejo, sem disfarces.

O pessoal do Sportv ainda tem pudores, porque há tricolores que assinam o PPV e a recomendação é evitar manifestações depreciativas contra as torcidas.

Mas na Fox Sports e no Esporte Interativo, ou lá que nome tenha aquele lixo, já dizem: Fluminense e Botafogo não têm mais importância, não são mais do grupo de elite do futebol brasileiro.

Claro que há desonestidade na afirmação, porque somos o único carioca campeão brasileiro nesta década ? e duas vezes, por sinal. Além do Fluminense, só Curintcha e Cruzeiro ganharam brasileirões nesta segunda década do século. Mas que perdemos consistência e relevância, ah, isso perdemos!

Volto ao estádio das Laranjeiras. O artigo do Paulo Brito (tido como um inimigo da diretoria) mostra que um projeto de reutilização das Laranjeiras como um estádio para 15 mil espectadores é viável e que o tombamento pelo Inepac é apenas um pretexto para não fazer nada.

Nenhuma entidade que cuide do patrimônio histórico municipal, estadual ou federal autoriza qualquer coisa que não seja mediante um projeto. Tragam um projeto que nós examinaremos, é a resposta institucional. E nenhum projeto foi jamais apresentado, embora houvesse alternativas, projetos, ideias.

Essa é a marca das nossas diretorias, e não é de hoje. A inércia, a mediocridade, o deixa-para-lá, o desleixo, o desinteresse, a covardia, a omissão. Não é implicância com a atual gestão, porque o Fluminense, desde os anos 70, parou no tempo e não produziu mais líderes, dirigentes, ninguém capaz de revitalizar e devolver o nosso clube à vida.

Passamos 12 anos em um coma induzido, respirando por um aparelho chamado Unimed. O clube deitou-se à sombra, e chegou até a parar de pagar impostos entre 2007 e 2010. O presidente da época hoje banca o fodão nas redes sociais, contando vantagens.

Mas a condição de moribundo chegou muito antes, em 1986. É que uma instituição como o Fluminense não morre de repente; é uma morte lenta, sofrida, triste, como a de um velho navio que naufraga aos poucos e é abandonado pela tripulação.

Tivemos um alento, como disse, quando pensávamos ter atingido o fundo do poço, com a terceira divisão. Houve ali uma sinergia com a torcida, uma diretoria disposta e a chegada da Unimed, além das mudanças trazidas pela Internet, que possibilitou a reunião de tricolores de todo o Brasil.

Mas a torcida parece ter jogado a toalha. Como aconteceu com a do América e a do Guarani. Em um programa do canal a cabo ?Mais Globosat.com?, chamado ?Dia de Clássico?, vi a torcida do Santa Cruz, de Recife, se lamentando. O Santinha já foi o maior clube do Nordeste, com o maior e melhor estádio, o Arruda, e com a maior torcida.

Um torcedor, sentado nos decadentes degraus da arquibancada, dizia: ?Perdemos praticamente tudo, até o orgulho. Só nos restou a saudade e o Arruda. Temos agora que lutar pra não perder também o estádio?. E nós, que nem estádio temos mais?

Nossos problemas não são erros crassos cometidos por iniciativa própria. Nada disso. São as omissões, a apatia, a falta de coragem, de iniciativa e de ideias. Chegamos ao cúmulo de perder uma audiência trabalhista porque o advogado do clube faltou. Esqueceu-se do compromisso.

Perdemos o melhor jogador do elenco, a única esperança, no mínimo, de uma boa venda, por falta de pagamento de salários e de depósitos do FGTS. Nossas receitas voltaram a ser parcialmente penhoradas por causa de calotes.

Perdemos o Engenhão para o Botafogo em agosto de 2007 porque o então presidente achou que não precisávamos de estádio. Vamos agora de novo pagar aluguel ao Botinha pra jogar lá, e as receitas com estacionamento e bares vão para os cofres deles. Omissão, conformismo, preguiça.

É até cansativo listar de novo as omissões. Em 2013, fomos novamente massacrados nacionalmente pela grande mídia, por causa do erro da Portuguesa-SP. E o presidente fugiu para a Disney, escondeu-se.

Ao longo do ano passado, cansamos de ler absurdos verbalizados pelo presidente atual, pelo vice de futebol demitido, por jogadores e agora pelo Paulo Autuori. Todas elas declarações que desmoralizam institucionalmente o Fluminense. Se nem os dirigentes, nem os funcionários mais graduados respeitam o clube, quem há de respeitar?

Espero que a torcida não desista. Porque, ao contrário do Santa Cruz, nem estádio nos resta. No início dos anos 70, João Saldanha dizia que não havia espaço no Rio de Janeiro para quatro grandes clubes. E previa: Botafogo ou Fluminense, no futuro, vão morrer, porque Vasco e Flamengo se consolidaram.

Hoje, quando leio o presidente dizendo que ?o Fluminense é um clube vendedor?, e o Paulo Autuori dizendo, com ar arrogante, superior, que ?o nosso maior reforço são os salários em dia?, a sensação é de quase luto. Isso não é o Fluminense.

Acham que estou exagerando? Então leiam, ouçam e vejam o noticiário dos clubes paulistas, por exemplo...É um outro mundo, não é mais o nosso.

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