Com o elenco praticamente fechado, é tempo de um raio X sobre o time para o qual iremos torcer em 2007. Há muito tempo, há mais de 20 anos, não vemos o Fluminense vencer a disputa com outros grandes clubes, principalmente paulistas, por jogadores jovens e reconhecidamente talentosos, como Cícero, Soares e até mesmo Renato Silva e Luiz Alberto (ambos tirados da boca do Santos, como mariola da boca de criança).


Apesar da costumeira má-vontade de parte dos comentaristas de jornal e televisão, o Fluminense foi o clube que mais e melhor contratou neste começo de temporada. Claro que Inter e São Paulo já têm elencos basicamente prontos. Mas, fora esses dois, vejo o Flu como favorito absoluto para os canecos que disputaremos neste ano. Claro que futebol não é simples assim. Há outros fatores, e o principal imponderável é a capacidade do nosso técnico. Como já disseram todos, é a grande chance da carreira do PCGosmão para provar que é realmente um bom técnico, e não apenas um marqueteiro de terceira categoria.

Nome por nome, acho que o Ricardo Berna, realmente, parte na frente para ser titular. Como não há um grande goleiro disponível no mercado, o correto é mesmo dar a ele a chance de provar que pode ser um novo Paulo Victor # que, como ele, chegou ao time principal já com 24 anos e inteiramente desconhecido. Portanto, toda força ao Ricardo Berna, e que ele seja realmente uma grande revelação.

A não ser que Carlinhos seja uma grande surpresa (e ser apontado como o melhor lateral da Segundona não é pouca coisa), Rafael deverá vencer a disputa pela lateral direita. É um jogador leve, rápido, habilidoso, que sabe chegar ao fundo do campo e também fazer gols. Ótima contratação. Nunca vi o Carlinhos em ação, mas torço para que possa dizer o mesmo sobre ele.

Renato Silva e Luiz Alberto são bons zagueiros. Estão longe de ser craques, não são os zagueiros dos nossos sonhos, mas não havia mesmo nada melhor disponível. Podem dar conta do recado. Júnior César e Ivan deverão brigar pela lateral esquerda, e o nanico deverá sair em vantagem, pelo histórico de identificação com o Flu. Também não é o lateral dos sonhos, mas é bom jogador # não é o jogador ruim que tentam pintar, longe disso.

O meio de campo titular, pela lógica, será mesmo Fabinho, Arouca, Cícero e Carlos Alberto. O Cícero poderá dar equilíbrio ao setor, porque sabe marcar e já atuou inclusive de segundo volante. Mesmo assim, chega bem na área, faz gols e é ótimo nas cabeçadas de surpresa, aproveitando a boa estatura, de 1,82m.

Mas Thiago Neves pode surpreender. É jovem, criativo, habilidoso, mas menos aguerrido do que o Cícero. Joel Cachaça, que o dirigiu no Japão até dezembro, elogiou-o muito no #Tá na Área# # sem que ninguém perguntasse nada.

Torcedores do Náutico consultados garantem que o David também é excelente jogador, será muito útil, e ainda pode ser improvisado na lateral direita # embora não seja mais necessário. O David tanto pode jogar de segundo volante como de terceiro homem no meio. Excelente nome pra compor elenco. Completam o setor Romeu, André Moritz e Thiaguinho.

No ataque, estão nossas maiores esperanças. Se o Alex Dias não estiver em declínio físico acentuado, será um dos trunfos do nosso time. Acredito muito também no Soares, que vi jogar no Figueirense # rápido, leve, habilidoso, inteligente. Sabe fazer gols, mas também prepará-los para quem joga ao seu lado, ou para o Cícero, que chega bem de trás. Como jogador de referência na área, há Rafael Moura e Adriano Magrão. Confesso que preferia o Marcel, que está no Benfica, e que anda dando mole por aí. Mas agora é tarde.

E o grande nome do time deverá ser o Carlos Alberto. Se levar a coisa a sério, perder peso, condicionar-se fisicamente e tiver espírito de equipe, vontade e ambição, poderá ser, em 2007, o melhor jogador em atividade no Brasil. Tem potencial de sobra para isso. Precisa controlar o temperamento, porque vai apanhar muito em campo, contar com a má vontade dos juízes e a provocação dos adversários. É preciso calma, cabeça fria. Todos apostamos nele, foi a grande contratação do futebol brasileiro neste ano.

Temo, além da fanfarronice do PCGosmão, a certeza dele de que o 4-4-2 será o melhor esquema. Tenho sérias dúvidas. Rafael e Júnior César atacam bem, mas marcam mal. Apóiam o tempo todo. Há o risco de que o sistema defensivo fique frágil, a menos que Cícero, Carlos Alberto e Soares ajudem no combate no terreno adversário, e que o time jogue bem compacto e em velocidade. Ainda temos na memória as decepções que tivemos quando jogavam juntos Roger, Ramon, Romário e Edmundo. Claro que eram jogadores mais velhos, menos combativos, com características diferentes. Mas é preciso ver se a coisa vai funcionar.

Um outro ponto que merece análise é o do projeto de profissionalização capitaneado pela Unimed. Vem sendo desenhado, desde novembro, sob a tutela de Fernando Gonçalves, Marcelo Teixeira e, mais recentemente, por dois profissionais contratados junto ao Atlético-PR # um encarregado da parte técnica, de conhecimento do mercado de jovens jogadores, outro especialista em fisiologia. Um time jovem e com bom preparo físico já é um grande avanço em relação ao que tivemos recentemente.

O grande Branco entrou no esquema como o homem de frente, encarregado de assumir responsabilidades perante a torcida, anunciar as decisões deliciosas e as traumáticas, como a demissão do Marcão. Foi escolhido pelo perfil de ídolo indiscutível, inquestionável. Não estará sozinho na função de manager, o que diminui a possibilidade de erros.

Ao mesmo tempo, somos informados de que o projeto vai além da montagem de um grupo forte de jogadores. Prevê a criação da sonhada infra-estrutura, com centro de treinamento moderno, condições ótimas de trabalho a médio prazo, equipamentos etc. Tudo a cargo da Unimed. É o momento ideal para que o presidente Horcades comece realmente a trabalhar e cuide do saneamento financeiro e fiscal do clube. Atacar de frente as dívidas fiscal e trabalhista, viabilizar a participação do clube na Timemania, dinamizar a sede social, com a construção (que parto!) do tal centro cultural, do estacionamento subterrâneo etc.

O Flu tem que estar preparado para um eventual fim do mecenato da Unimed # que um dia vai acabar, claro. Quando houver o desmame, o clube tem que andar com as próprias pernas, como já aprenderam a fazer o São Paulo, o Cruzeiro, o Inter, o Atlético-PR, o Grêmio. Saneado, com as finanças em dia, com um bom patrimônio físico, o Flu será, assim, atraente para outros investidores. Vibremos todos, mas fico ainda com a impressão de uma sombra pairando sobre tudo: quais serão os termos do contrato Flu-Unimed? A empresa realmente considera um investimento em publicidade e marketing tudo o que põe no clube, ou vai apresentar a conta algum dia?

Cezar Motta - cezar_motta@uol.com.br