Foi um placar empolgante, mas enganoso, porque o time voltou a jogar mal e conseguiu a goleada graças ao esforço hercúleo, quase heróico, de alguns jogadores, à garra do time, a uma enorme dose de sorte e à terrível ruindade da defesa do Fortaleza.

Mas o Osvaldo de Oliveira e o juiz quase complicam as coisas. O juiz marcava faltas em todos os desarmes da defesa do Flu, chegando inclusive a marcar um absurdo pênalti, afinal defendido pelo Fernando Henrique. Para culminar, aplicou cartão amarelo no Roger # é bom deixar claro: não foi pênalti, não havia perigo de gol e, além disso, o sujeito ainda deu um cartão absurdo ao nosso zagueiro.

Do outro lado, no ataque do Flu, os zagueiros do Fortaleza subiam nas costas do Tuta e usavam largamente o braço para deslocar nas bolas altas o nosso atacante. Quanto ao Osvaldo, parece que nunca vai aprender a substituir, a ler o jogo, a ver o que faz o outro time, as falhas que apresenta, as mexidas erradas que fez o Márcio Bittencourt.

Mas vamos por partes.

O time começou surpreendentemente bem, como sempre seguro na defesa, e conseguindo articular bons ataques. Até que saiu o gol contra (os adversários estão muito camaradas, ehehe...). Radamés apoiou pela direita e cruzou para Tuta, que entrava pelo meio na velocidade que lhe é possível.

O cabeçudo zagueiro Alan, nervoso e ruim durante todo o jogo, antecipou-se e poupou trabalho ao Tutão. Meteu a cabeçorra na bola e deslocou o goleiro Maizena. Logo aos 7 minutos de jogo.

Logo em seguida, Marcão deu uma de ponta-de-lança e enfiou belo passe na perna esquerda de Tuta, na cara do goleiro. Em vez de driblar o Maizena e finalizar sem problemas, Tuta tentou o toquezinho de canhota por cima do goleiro. Errou. A bola saiu rente à trave esquerda.

A partir daí, nossos maiores temores pareceram se confirmar. O time caiu todo na defesa e entregou o campo inteiro ao Fortaleza. O mesmo velho defeito de não ter ligação entre o meio de campo e o ataque. A defesa e o FH faziam seu trabalho, mas a bola invariavelmente caía nos pés de um cearense, que voltava a martelar nosso gol.

O único jogador que buscava fazer a ligação, levar a bola até Tuta e Lenny, não tinha talento para isso. Era o Radamés, um leão em campo, um guerreiro, mas que não tem características de meia de ligação. Juliano tentava, mas confirmava sua absoluta falta de condições físicas para atuar nos profissionais. Não consegue correr e mal se agüenta em pé.

Depois de vários arremates ridículos do Fortaleza, de ver o nosso gol salvo milagrosamente pelo acaso, de algumas ótimas defesas de Fernando Henrique e do bom trabalho dos zagueiros, o juiz cometeu finalmente o seu grande erro na partida.

Bola cruzada na área, da esquerda para a direita, longe do gol. Roger subiu com o atacante e houve um ligeiro entrechoque. O juiz deu o pênalti e ainda amarelou o Roger. Era o finalzinho do primeiro tempo. Fernando Henrique redimiu-se então de suas más fases anteriores, mostrou reflexo, agilidade, aproveitou-se de sua ótima envergadura e fez a defesa.

No segundo tempo, o Flu voltou ainda mais recuado, dando todo o espaço de que precisava o Fortaleza. O gol de empate era questão de tempo, apesar da ruindade do Leãozinho do Pici.

E veio o gol. Depois de outra boa defesa do Fernando Henrique, como sempre o Fortaleza pegou a segunda bola, o rebote. O bom lateral direito deles, o Ivan, cruzou rápido e o Reinaldo apareceu de repente, na frente do Radamés e na falha dos zagueiros de área, e jogou para dentro.

Parecia que iríamos tomar uma virada, porque o time não dava sinais de reação. Apenas se defendia. Na única vez em que o time foi à frente, dois ou três minutos depois do gol de empate deles, o Lenny sofreu falta na ponta direita.

O inútil Rogério, que arrastou-se em campo o tempo todo, teve então sua única participação positiva na partida. Bateu bem, na enorme e luzidia cabeça do Gabriel Santos, que marcou com estilo. Eram 13 minutos do segundo tempo.

Dois minutos depois, com o Fortaleza ainda tonto, novo ataque, agora pela esquerda. Marcelo esticou para Juliano, que perdeu tolamente a bola para um zagueiro. Mas acreditou no lance, recuperou a bola, foi ao fundo e teve calma para rolar na medida para Tuta tocar mansamente, de canhota. Eram 15 minutos.

A defesa e o meio de campo do Fortaleza não marcavam mais ninguém. Qualquer pressão sobre eles resultaria em mais gols. O técnico Márcio Bittencourt tirou o Preto Casagrande e o Dude, dois meiocampistas, e pôs o Finazzi e o Robson, dois atacantes.
Estava mole. Em uma tentativa de contra-ataque, aconteceu uma daquelas coisas que só acontecem no Flu. O Juliano recebeu excelente bola na divisória do campo, pela esquerda. Quando tentou dominar, caiu contorcendo-se em dores, com câimbras. Jogador profissional com câimbra, ainda mais com 20 anos de idade, só no Flu a gente vê...

Quando, aposto, todos os tricolores achavam que o Osvaldo iria meter ou o Evando, ou o Pitbull, e explorar o fraquíssimo e aberto sistema defensivo deles, o nosso técnico nos fez o favor de complicar o jogo. Pôs o limitadíssimo Ângelo, que não marca, não ataca e apanha da bola todo o tempo.

Ou seja, Osvaldo eliminou qualquer possibilidade de contra-ataque, e chamou ainda mais o Fortaleza para cima. Tuta e Lenny eram obrigados a correr como loucos, sozinhos e isolados lá na frente, atrás de bicões longos dos nossos zagueiros, aqueles lances de ligação direta que tanto nos irritam.

Mas de novo a fraqueza defensiva deles nos salvou. Marcelo fez jogada de ponta-esquerda e cruzou na cabeça do Tuta, impedidaço. Todo desengonçado, Tuta conseguiu jogar no contrapé do goleiro. O placar marcava 3 a 1, eram 26 minutos, e respiramos com algum alívio.

Novamente, no entanto, o Ivan foi à linha de fundo e cruzou certinho na cabeça do Finazzi. Desta vez, a falha foi coletiva, de toda a defesa e do Fernando Henrique, que marcaram apenas a bola, esquecendo-se do atacante.

Radamés também sentiu câimbras (lutou e correu como um leão) e saiu para a entrada de Evando. Osvaldo já tinha preparado o atacante para entrar no lugar de Lenny, mas Radamés tombou e o garoto teve que segurar-se em campo. Logo, Tuta também abriu o bico e deu lugar a Pitbull.

Pensei: se armarem direito o contra-ataque, vamos meter mais uns três gols, porque estávamos com dois atacantes descansados. Mas o time não queria mais atacar. Ao melhor estilo burocrático do Rogério, todas as bolas eram atrasadas, de forma irritante, mesmo quando havia chance de um ataque perigoso.

Aos 44 minutos, novamente Rogério cobrou rápido uma falta para a arrancada de Evando que, livre, saiu na cara do Maizena. Evando deu, então, um toquezinho sutil sobre o gauchão goleiro do Fortaleza. A partir daí, foi só administrar.

Continuo muito insatisfeito com o time, apesar das duas vitórias consecutivas e da liderança. Há um grande espírito de luta dos jogadores, com raras exceções, mas nenhuma organização em campo. Nenhuma estratégia de jogo, nenhum contra-ataque ensaiado, nenhuma ultrapassagem pelas laterais, Lenny e Tuta estão completamente isolados.

Arouca faz uma falta terrível. Falta ao time a cabeça pensante, o articulador de jogadas. Se ele e Pet voltassem a jogar, e bem, haveria uma melhora considerável. Mas a nossa ponta-direita continua como terra de ninguém e alguns gols saem absolutamente por acaso.

E o Osvaldo continua sem saber substituir. Mas somos líderes, e os outros times estão muito mal. Ainda bem.

Fortaleza 2 x 5 Fluminense: Fernando Henrique (8); Thiago Silva (8), Gabriel Santos (8) e Roger (6); Rogério (5), Marcão (6), Radamés (7) depois Cláudio Pitbull (sem nota), Juliano (6) depois Ângelo (4) e Marcelo (6); Tuta (7) depois Evando (6) e Lenny (5).
Gols: Alan (contra), aos 7 minutos do primeiro tempo; e Gabriel Santos, aos 13, Tuta, aos 15 e aos 26 minutos, e Evando, aos 44 minutos do segundo tempo.
Cartões amarelos: Radamés, Juliano, Roger e Marcelo.

Cezar Motta - cezar_motta@uol.com.br