Santo bolinho de bacalhau !!!

O amigo e grande médico do Fluminense - Michel Simoni -, rindo muito, falou comigo no final do jogo: ?Daniel, vou receitar ao Romário um bolinho de bacalhau em toda véspera de jogo do Fluminense.? Tal descontração é a cara do bom ambiente tricolor depois da saída da ovelha negra chamada Régis.

O jogo contra o Grêmio foi especial para mim em vários sentidos. Era a minha volta a cobrir o Fluzão no Maraca, até o momento estou invicto, e iria ter o prazer de ver o baixinho de perto. Conversei aproximadamente meia hora antes da partida começar com o sempre simpático vice de futebol Marcelo Penha e mais uma vez pude constatar que muitas notícias plantadas por certos jornalistas, como o interesse em Taffarel e o Fla-Flu no dia 4 de setembro, são pura fantasia.

A minha rádio colocou dois repórteres em campo no duelo de Tricolores e desta vez não pude ficar no meu lugar favorito, perto do banco do Flu, ao lado da comissão técnica. Nesse setor vi o Fluzão ser campeão estadual e tive a honra de dar um abraço no saudoso Ximbica, em seu último gol comemorado. Contra o Grêmio fiz ponta e fiquei atrás do gol, à direita das tribunas de rádio, bem perto da torcida gaúcha que estava na cadeira.

A presença de público não foi tão boa. Cerca de 25 mil pessoas vieram prestigiar a terceira participação do Flu no Brasileiro. Antes do jogo, por iniciativa do amigo e diretor de marketing Pedro Carneiro, foram distribuídas 10 mil bandeirinhas brancas do Flu, o que deram um colorido especial à festa que a torcida sempre protagoniza. Apesar do número de torcedores não ser tão alto, o barulho foi muito maior do que com os 70 mil da estréia. Por que será?

O jogo começou e havia um total clima de incerteza no ar. Não dava para ficar muito otimista após o desastre no acanhado Anacleto. Enfrentávamos nosso terceiro time azul seguido, que tinha uma camisa que mais lembrava o Napoli do que o Grêmio. Nos primeiros minutos, os pampas tiveram mais iniciativa. O ótimo Luis Mario mostrava ser um perigo. A sorte é que Grafite colaborava.

O Grêmio estava melhor, mas nosso ataque mostrou ser muito superior na nossa primeira chegada. Aos 10 minutos, Beto lançou Romário na área. O lançamento não foi perfeito, mas o baixinho acreditou na bola que estava praticamente perdida e serviu com perfeição, no melhor estilo garçom, para o Magnata. Era só fazer e Magno fuzilou o marrento Danrlei. 1 a 0 Flu. Centésimo primeiro de Magno com a camisa tricolor. Vigésimo nono gol dele na temporada. Foi inevitável a minha vibração na hora do gol, assim como alguns xingamentos que ouvi pelos torcedores ga(y)úchos, mas tudo bem.

A galera do verdadeiro Tricolor (o resto são times de três cores) se animou depois do gol e Magno quase faz o segundo no embalo. Todavia, o time errava muito passe e o árbitro Marcio Resende, como sempre, amarrava o jogo, marcando faltas demais. E numa delas, toda torcida ficou tensa ao se recordar da peleja anterior. Rodrigo Fabri, que fez um gol de falta no Hélton (outro que adora tomar gols de falta) na vitória do Grêmio por 3 a 2, tinha uma oportunidade mais ou menos do mesmo lugar. Eu estava bem atrás do gol e fiquei tenso ao olhar para o Murilo. Felizmente a bola foi para fora, sem perigo. Na reposição de bola, nosso goleiro repôs errado e Romário chegou perto para dar um esporro nele.

O Grêmio não era bobo e Luis Mario fazia a festa em nossa zaga, que batia cabeça. Zé Carlos deu uma vacilada, Luis Mario pegou a bola, cruzou, Grafite cabeceou livre e a bola foi para fora. Pouco depois do lance, mais uma falta para o Grêmio, dessa vez mais longe, na intermediária. Murilo fez o certo. Mandou abrir. Anderson Lima perdeu a referência da barreira e acabou isolando.

O Flu partia quase sempre pela esquerda, com o bom Marquinhos. Flavio estava tímido demais no apoio, apesar de Beto estar perto para ajudar. Num dos contra-ataques pela esquerda, Diniz perdeu a bola e Rodrigo Fabri partiu com ela. Fabinho matou a jogada e mostrou ter regularidade mesmo ao tomar mais um amarelo. No desenrolar da jogada, o Grêmio quase empata. O infernal Luis Mario foi lançado, finalizou bem e Murilo fez ótima defesa no canto esquerdo.

O Flu teve poucas oportunidades até o fim, mas no final quase marca o segundo em duas vezes. Aos quarenta e quatro, numa falha do pentacampeão Anderson (que nos em...) Polga, o esperto Magno quase marca de novo, ao encobrir Danrlei e a bola bater caprichosamente no travessão. Seria um golaço. Já nos acréscimos, Magno Alves, que arrebentou no primeiro tempo, deixou Romário na cara do gol. Danrlei saiu com arrojo e salvou.

Fim de primeiro tempo. 1 a 0. O Fluzão atacaria para o meu lado na segunda etapa. No intervalo falei com Flavio, Fabinho e Zé Carlos. O Flávio prometia atacar mais na segunda etapa, Fabinho reclamava do rigoroso árbitro e Zé Carlos comentava que o posicionamento da zaga estava sendo ajustado - fato que levou Robertinho a chamar os dois zagueiros várias vezes a beira do campo quando o jogo parava.

No segundo tempo, o Flu voltou bem melhor. Dava para sentir que o segundo era questão de tempo. A bola procura o baixinho e ele não perdoa. Aos 16 minutos, Magno penetrou pela esquerda num rápido contra-ataque e tocou para Beto no meio. Beto lançou Romário na área. Nesse local, o herói do tetra é rei. Ele deu um lindo drible da vaca no fraco Claudiomiro e antes de ele chutar, eu já vibrava atrás do gol. Só foi dar um sutil toque de cobertura no Danrlei a partir para o abraço. Golaço com a grife Romário. Quem mandou o limitado Claudiomiro, sem bola, dar uma bordoada no baixinho no lance anterior? Recebeu o troco na bola. 2 a 0 Fluzão.

Após o gol, a eufórica e criativa torcida saudou o ídolo com uma nova música. Romário, que foi um terror no Fla e chapa quente no Vasco, é o sinistro do Flu. ?Oh !!!!! Oh ! Oh ! Oh ! Oh !!!!! Oh ! Oh ! Romário é sinistro !!!? O tricolor Januário de Oliveira deve ter gostado do rótulo.

Depois do gol surgiu um relaxamento e dava a impressão que o Flu tomaria unzinho, algo que quase sempre acontece. Numa vacilada na área tricolor, Murilo fez uma grande defesa a queima roupa e no rebote, Zé Carlos salvou em cima da linha. Logo depois, Sidnei saiu machucado e o promissor Carlos Alberto (jogador que o tricolor José Roberto Wright foi injusto ao dizer, em sua coluna no Lance, que está ficando mascarado) entrou, mostrando que o Robertinho estava ousado. Tirou um volante e colocou um meia armador com o time vencendo por 2 a 0.

Carlos Alberto criava sempre algo de bom quando tocava na bola e o Flu chegava com perigo nos contra-ataques. Entretanto, o Grêmio também martelava e, de tanto tentar, chegou ao gol. Aos 32?, Marquinhos falhou, Luis Mario penetrou na defesa, passou por Zé Carlos e mandou bala no Murilo. 2 a 1. Eles descontaram, mas a torcida estava com o time e gritou forte: ?Nense !!! Nense !!! Nense !!!?, após o gol sofrido.

Todo banco do Flu aquecia ao meu lado e, de repente, vi o massagista Jerônimo correndo e chamando Roni. Quem iria sair? O Magno estava jogando muito e o baixinho só sai se pedir. Robertinho optou pelo Magnata. A torcida saudou o nosso maior artilheiro na história dos brasileiros, ao lado de Washington (meu ídolo de infância) e Ézio, com 33 gols. ?Ah !!! Magno Alves !!!?

O dedo do contestado treinador tricolor funcionou. No primeiro toque de Roni, o jogo foi liquidado. Aos 38?, Roni cruzou pela direita na cabeça dele. Romário livre é saco. 3 a 1 Flu. Segunda vez que Roni entra e deixa Romário livre para marcar. Praticamente todos os titulares e muitos reservas abraçaram Roni e Romário. Uma bela comemoração que foi pertinho de mim e que levou a torcida a loucura. A fatura estava mais que liquidada.

O Grêmio ainda teve algumas chances para diminuir, o técnico Tite, inclusive, reclamou de um pênalti, mas acabou 3 a 1 mesmo. Foi uma correria só entre os repórteres quando o jogo terminou. Todos foram até o Romário, mas preferi falar sozinho com Roni, Carlos Alberto e Marquinhos. O Roni comentou a jogada do gol, Carlos Alberto falou da alegria do grupo e Marquinhos enalteceu a torcida tricolor, afirmando que fica sempre arrepiado quando entra no Maraca e vê a massa verde, branca, grená, laranja e cinza.

O vestiário do Flu, como em toda vitória, estava muito festivo. Uma multidão de repórteres se aglomerava esperando o Romário. Os demais atletas saíam quase despercebidos. Beto foi o primeiro que todos queriam falar. Ele elogiou a atuação do time e disse que nem se compara o ambiente do Flu com o do Fla. Romário saiu logo depois e falou calmamente com o batalhão que o cercava. Ele disse que o Flu tem que jogar bem fora de casa também, lamentou não ter feito seu centésimo gol em brasileiros, enalteceu o trio formado por ele, Magno e Roni, além de falar sobre os batizados bolinhos de bacalhau e carne que comeu.

Eu estava suando em bicas, comprei dois guaranás naturais e parti para o tradicional Bar dos Esportes para rever a galera Sempre Flu. Por lá, Marcelo Teixeira, Danilo, Pedro Carneiro, Mauro Cristóvão, Rodrigo Barbosa, Casoba e muitos outros amigos bebemoravam mais um triunfo tricolor.

O desafio da vez é o enfraquecido Galo. Os espertos dirigentes atleticanos deslocaram a partida do imenso Mineirão, campo que o Flu leva vantagem em vários sentidos, para o acanhado Independência. Troca lamentável. Ano passado ganhamos por 3 a 2 num jogo emocionante. Que a vitória se repita e marque uma série de outros bons resultados fora de casa.

Daniel Cohen - daniel.cohen@sempreflu.com