SEMPRE FLU

Quando o custo paga o benefício

Minha quarta-feira começou muito bem. Foi a estréia num novo emprego e torcia pelo dia fechar melhor ainda à noite. A rádio faria o jogo do Flu no esquema ?geladão?. Uma TV no estúdio, com quatro microfones disponíveis para cada um. O locutor Luis Carlos Monteiro ficou, no centro, ao lado do comentarista Rubem Leão. Eu, na ponta-direita, e o tricolor Rogério Ribeiro, na esquerda, fomos os repórteres.

Antes de o jogo começar liguei para o Marcelo Fischel e fiquei contente ao ver que a parceria com o nosso homônimo da Bahia está bem encaminhada. Acredito que será algo melhor do que a com o Matsubara. Também tinha conversado com o Beto durante o dia e comentei a falta que ele faz no time. Deu para sentir que ele sabe bem do peso que está carregando e não gosta tanto desta responsabilidade de ser o único a armar jogo.

Peguei os dezoito relacionados do Flu (dessa vez, Malzoni ficou no banco, isso porque Zada e Carlos Alberto não viajaram) e vi na escalação o jovem volante Célio, substituindo o suspenso Fabinho, com a camisa dez. Tenho um pensamento que jogadores juvenis ou juniores só devem ser lançados quando o time está muito bem, caso contrário será difícil suportar a pressão, por mais que o atleta seja bom e tenha personalidade.

Bem, durante o jogo, Célio, que vem da ?geração de ouro? das divisões de base tricolor, mostrou que deve fazer companhia ao Fábio Cordeiro. Mais um queimado com apenas uma atuação. Nem os inesquecíveis Bob Brum e Cadu conseguiram tal proeza. Triste ver o nível dos cabeças-de-área que o Flu tem fabricado.

Se fosse só o Célio de ruim estava bom. No entanto, com exceção do Murilo, foi tudo um desastre. Levamos 2 a 0, em dois gols do limitado Cláudio Pitbull, ambos em falhas gritantes de marcação. Mais uma vez poderia ter sido de muito mais. O time, dessa vez, fez mais faltas, mas também fez algo fácil - destruiu muito e construiu pouco.

Durante a partida houve a mesma sensação de sempre. É só levarmos o primeiro gol que vem uma certeza - no máximo, com muita sorte, conseguiremos um empate. Em vez de comentar o jogo lance a lance, farei uma análise de alguns jogadores. Não vou incluir o Murilo, por não ter comprometido, o Célio, já citado acima, o Roni e o Yan, que entraram no segundo tempo.

Flávio leva olé de qualquer molambo. Ao seu lado, o melhor zagueiro-central do mundo ficaria desesperado. Ofensivamente, o pegador da ex do Roger consegue ser pior. Ele pensa que é craque e tenta sair driblando, até porque não sabe cruzar. O que acontece ... Quase sempre perde a bola, armando um perigoso contra-ataque adversário.

Ao lado de Flávio, César é o outro ?guarda?, que nem precisa de propina, para liberar a via direita. Desde 2001, ele consegue ser pior a cada partida. É mais um caso de regressão no Reino Laranjal. Na Copa João Havelange de 2000, ele começou bem nos profissionais. Hoje em dia, seu nível beira ao deu um pré-fraldinha.

O líbero da vez foi o Andrei. O zagueiro de Juan Figger só sabe dar bico para tudo quanto é lado. Faria muito sucesso na NFL. Neste jogo, ele teve ao menos um mérito. Finalmente deixou de acertar faltas apenas na barreira ou na arquibancada. Uma delas foi no gol. Todavia, infelizmente, não era o Hélton ou o Murilo que estava na meta adversária.

Para completar os trapalhões faltou o nosso Mussum. Zé Carlos lembra aqueles garotos lesadões da turma de colégio, que eram os últimos a serem escolhidos nos times da aula de Educação Física. Só não era excluído pelo professor para não ficar com trauma mais tarde e virar um psicopata. Ele parece lembrar bem dos tempos infantis, pois é chegado num escorrega. Chega a dar pena vê-lo em alguns lances bisonhos.

Na lateral-esquerda temos mais um jogador em visível fase descendente. Marquinhos parecia que ia dar caldo, parecia que sabia cruzar, parecia que tinha garra, parecia que era bom na marcação, mas, na prática, está demonstrando ser um genérico falsificado. O torcedor tricolor, como qualquer consumidor esclarecido, tem o direito de protestar e exigir qualidade no único lateral-esquerdo do Flu. Junior César e Rodolfo nem genéricos são. São drogas mesmo.

Para começar o meio-campo tem o nosso guerreiro Marcão. Até ele foi contaminado pela apatia reinante e fez uma péssima partida contra o Juventude, talvez a pior dele com a camisa tricolor. Ele tem crédito, mas a torcida precisa ter autocrítica. Por mais que roube bolas, Marcão está longe de ser um jogador de Seleção.

Outro do meio-campo é Fernando Diniz. Mais uma vez, a viúva do Oswaldo fingiu que jogava e a torcida finge que acredita. Ele nunca foi com a cara do Robertinho e não é agora, que o técnico começar a ser questionado, que jogará bem. Quem dera que esta enceradeira fosse igual ao Zinho na Copa de 94 ...

No ataque temos o Magno Alves, o protótipo do que os cariocas chamam de ?paraíba?. Ele corre o tempo todo, arrisca algo sempre que está com a bola, mas é limitado intelectualmente. Com um QI pouco dotado fica difícil acompanhar o raciocínio de um craque genial que é o seu companheiro de posição.

Sempre sonhei em ver Romário com a camisa tricolor, mas, incrivelmente, o sonho está virando um pesadelo. Ele está tornando o que todos os tricolores sempre quiserem ser - um espectador privilegiado do time dentro de campo. Bem, em alguns jogos, eu até fico no campo, mas não dentro das quatro linhas durante os 90 minutos. Assistindo o baixinho, tão isolado com a 11 tricolor, rola aquele tesão encubado, citado pela Manuela no Big Brother.

Para completar falta o Robertinho. Gosto muito dele como pessoa, converso com ele quase todos os dias, mas, como jornalista, tenho liberdade para criticar o seu trabalho. Os jogadores têm feito poucos treinos táticos e muitos coletivos. Eles gostam disto, porém, assim, fica difícil criar entrosamento e definir um esquema.

O time começa num 3-5-2, fica confuso, e vai para um 4-4-2. No segundo tempo há substituição, vira um 3-4-3, mas muda de novo e parte para um 4-3-3. A salada de números não surte efeito nenhum. É um bando em campo, com cada uma não sabendo direito qual a sua função.

A cada jogo dá a impressão que não há posições certas no time. Diniz joga na lateral-esquerda, Marcão fica na zaga, Magno no meio, Andrei não sabe onde joga, César parece uma barata tonta e por aí vai ... Deve ficar claro que a equipe atual está longe de ser uma Laranja Mecânica, apesar de a torcida ser.

Agora, após mais um desastre, terá uma reunião no Conselho e pressões devem vir de todos os lados para haver mudanças. Não basta trocar de técnico. É preciso também trazer bons jogadores. Daí surge a pergunta: com que dinheiro? Bem, será muito mais caro pagar o preço de uma eliminação da fase final. Chega de economia porca !!!