Estava pronto para assistir a partida, meio lesado, em virtude de uma endoscopia que tive de fazer mais cedo. Quem já tomou Dormonid na veia sabe como é.

Foi quando meu amigo Jr. Cysne me ligou e pediu para que eu fizesse a coluna raio X. Substituir o imperador Cezar é complicado, mas topei. Agora, depois da partida, estou tremendamente arrependido.
Mas fazer o quê?

#A vida não é feita só de vitórias#, disse para meu filho Paulo, de nove anos, tricolor até a alma. O moleque sorriu e foi brincar. Para as crianças é mais fácil. Ele foi até dormir meio satisfeito por que o Vasco também tinha sido goleado. "Menos gente para me sacanear", alegou. E eu pensando, meio relax, no que escrever aos amigos tricolores depois do passeio que levamos.

Fomos atropelados pelo Flamengo. Depois de oito jogos sem perder para os caras, tomamos uma peia monumental. Não só pelo placar, mas pela forma. Fomos um time sem coração, sem alma, sem reação, sem nada. Um vazio só comparável a meu estômago antes do diabo do exame. Que angústia, meu Deus, ver uma equipe que nos dava confiança no início do campeonato escorrer pelo ralo pela evidente falta de preparo dos Gustavos Mendes da vida.

Mas vamos ao jogo. O primeiro tempo começou corrido, com os times bastante nervosos. Talvez com os poucos pontos na tabela a pesar sobre os ombros.
Desde o tempo do Abel, o time do Fluminense não tentava marcar mais à frente, sufocando a zaga adversária. Pois tentou. E deu certo: Fernando cortou uma bola espirrada com o peito, ajeitando para Petkovic. O gringo girou e levantou no segundo pau para uma bela conclusão de Tuta. Golaço. Eram jogados cinco minutos. A torcida urubu de novo engasgada com nosso artilheiro, que anotava pela sexta vez em seu sétimo Fla-Flu.

A péssima transmissão do Premiere ainda mostrava o replay do gol quando o igualmente péssimo Evandro Roman apitou uma falta na intermediária a favor do Flamengo. Talvez a única jogada forte deles seja a bola parada com Renato, mas o time do Fluminense, ainda comemorando, relaxou. Não deu outra: nosso goleiro anão montou uma barreirinha pequena, e o meia adversário não precisou nem pôr efeito na bola. Chute seco, forte. Nosso franzino arqueiro aceitou.

Depois do gol, o Flamengo cresceu, mas esbarrou nas boas atuações dos zagueiros tricolores, em especial Thiago Silva. Evandro Roman, o árbitro paranaense, se redimiu das inversões de falta contra o Flu e deixou de assinalar pênalti claríssimo em Juan, que driblara o arqueiro anão e tocaria para o gol vazio. Menos mal.

O jogo ficou novamente equilibrado, com muita luta e pouca técnica de ambos os lados. O Fluminense (que é a parte que nos interessa) não conseguia fazer jogadas pelas laterais, sobrando tudo para uma eventual vantagem de Tuta sobre um zagueiro em uma bola alçada. Beto, quando não pipocava para os zagueiros do Flamengo, era jogado longe nas divididas. Muito pouco para o Fluminense.

Rogério parece que tem medo de correr. Às vezes, ele pode partir, mas hesita , gira e toca para trás. Jean, bem Jean... Ficou difícil, e o empate no primeiro tempo estava de ótimo tamanho. A imagem de PC, pensativo à beira do gramado, era o retrato de um time perdido.

PC pensou, pensou, pensou e fez a primeira besteira. Desmontou o esquema de três zagueiros para colocar o Pedrinho no lugar do fraco Jean. Do outro lado, o mineirinho técnico do Flamengo reestruturou o time, com quatro no meio e dois na frente. Daí em diante, o Fluminense sumiu. Pedrinho, o homem que tinha entrado para armar as jogadas, só foi tocar na bola quando perdíamos por 3 x 1. Renato fizera de falta e Obina marcara depois de bobeada do Thiago Silva.

Como o time do Flamengo é fraco, eu ainda alimentava alguma esperança, que foi embora depois de uma cabeçada na trave do Tuta: a bola quicou no terreno e foi claramente desviada para o lado, o suficiente para evitar o gol tricolor. Quem desviou? A grama, à primeira vista, mas a incompetência do Fluminense na essência. Aquela incompetência que traz a falta de sorte para junto de si. A mesma que nos castigou quando tomamos dois gols do Grêmio nos descontos, quando tomamos um gol do Inter nos descontos e quando deixamos de marcar contra o Vasco nos descontos.

O que se viu depois foi aquela torcida imunda fazendo a festa. E por merecimento. Só não marcaram mais porque tiraram o pé. O quarto gol ainda trouxe o requinte de crueldade de ter saído em jogada do Juan. 4 x 1. Enquanto isso, Beto e Pedrinho tentavam cruzamentos para a área que não chegavam nem ao primeiro pau. Faltava força.

Todas as bolas alçadas a nossa área eram perigosas. A zaga do Fluminense parecia gritar que não confiava no goleiro. E o arqueiro, por sua vez, cada vez menor embaixo das traves, parecia implorar para que o tirassem dali. Esse rapaz não tem porte, não tem estrutura emocional, não nasceu para vestir a camisa 1 do Fluminense. Espero que o PC veja isso logo, logo.

A luz vermelha está acesa, berrando na nossa frente. A segunda divisão está logo ali. E o Fluminense não tem o direito de voltar para lá antes que todos os outros rivais façam o mesmo. Oremos.

Lauro Aires - lauroaires@uol.com.br