SEMPRE FLU

Flu 3 x 0 Santos - Aplausos para Thiago Neves

Por Victor Mélo (Jornalista)

O mês de julho passou e, com ele, foi embora o nosso sofrimento. Depois de cinco partidas sem vencer, o Flu voltou a jogar com determinação e conquistou uma vitória incontestável sobre o Santos, no Maracanã. Hoje, tivemos, inclusive, um virtuose. Um solista que tomou conta do espetáculo e fez a orquestra ser aplaudida de pé pela platéia. Todos os cravos do dia devem ser jogados para Thiago Neves. Sozinho, ele desestruturou todo o sistema de marcação do Santos e ainda fez dois gols na nossa vitória por 3 x 0.
Após os resultados do último mês, a torcida já estava se perguntando: "O time não tem mais encanto?" Acomodação era a palavra que me incomodava neste período. Pensavam os boleiros: "Já estamos na Taça Libertadores e o título nacional ficou muito distante. Vou agora bater a minha bolinha na sombra, sem precisar suar a camisa".
E os nossos bravos cavaleiros já não eram tão valentes assim. Acharam que apenas o dom de jogar futebol era suficiente para o Flu conquistar novas vitórias. Ledo engano. Era preciso correr.
Trouxemos a Copa do Brasil porque a equipe tinha obediência tática e, principalmente, se entregava em campo. No Campeonato Brasileiro, foi assim que derrotamos o líder São Paulo dentro do Morumbi e que atropelamos hoje o até então embalado Santos.
Quando começou a faltar vontade, as peças enferrujaram e o Renato teve dificuldades para fazer a engrenagem funcionar. Mas, mesmo nesse período de instabilidade, a nossa defesa continuava consistente e assim permaneceu. Ela é a base da nossa força. Acredito no Carlinhos, no Thiago Silva, no Roger e no Luiz Alberto. Infelizmente, só não confio nos nossos goleiros e me desespero com as limitações do Júnior César. Precisamos buscar um bom lateral-esquerdo, diretores!
Neste domingo, o Santos passou longe da nossa meta e a vitória foi construída com facilidade, sem sobressaltos. Envolvemos o adversário a partir dos 18 minutos e poderíamos ter saído do Maracanã com uma goleada memorável. Tudo bem, amigos, tivemos piedade.

A partida - O jogo de hoje começou morno. Nos primeiros minutos, o Santos tentou adiantar a marcação e o Flu não demonstrava muito interesse em atacar. O Renato colocou uma linha de três jogadores de contenção no meio-campo, Romeu, Maurício e David, e ainda pediu para os laterais só apoiarem na boa. O resultado de tanta cautela foi que só conseguimos a primeira oportunidade aos 18 minutos. Thiago Neves bateu um escanteio pela esquerda, Somália desviou e Anderson cabeceou com perigo. Esta oportunidade inflamou a equipe, que apertou a marcação no meio-campo, diminuiu o espaço do Peixe e começou a mandar no jogo. Maurício e Romeu ganhavam as disputas de bola e Thiago Neves começou a brilhar. Quando acionado, o meia passava com desenvoltura pela marcação paulista, trocava passes com os companheiros, virava o jogo, caía pelos dois lados do campo e, de quebra, ainda chutava a gol.
O Santos era um time acéfalo e só assustava quando atacava pelas laterais. Rafael e Júnior César não apoiavam o ataque e também deixavam muito espaço para o adversário, que criou duas chances em jogadas de linha de fundo. Mas, apesar das dificuldades dos nossos laterais, o Flu conseguia impor o seu ritmo de jogo. O time tomou conta do meio-campo e o gol passou a ser uma questão de tempo. Aos 24 minutos, Thiago bateu uma falta pela direita e obrigou Fábio Costa a fazer uma boa defesa.
Aos 36´, depois de ensaiar algumas jogadas de bola parada, o Tricolor, enfim, abriu o placar. Rafael sofreu falta pela direita, Thiago Neves (sempre ele!) bateu com efeito e Luiz Alberto escorou sem piedade: 1 x 0.
No segundo tempo, o Santos voltou a adiantar a equipe. O Flu se entrincheirou e tentava surpreender nos contra-ataques rápidos. Aos 4 minutos, o nosso bravo goleiro Ricardo Berna abriu a sua pequena loja de horrores. Numa bola cruzada na área, ele foi tentar encaixar e a "batata quente" ficou queimando em suas mãos. Foi o suficiente para assustar a torcida.
Aos 9´, Thiago Neves tratou de acalmar os tricolores. Ele passou fácil pela fraca marcação do Peixe e acertou um cruzamento milimétrico para Somália. O centroavante se atrapalhou no momento de concluir e a bola passou à esquerda do goleiro Fábio Costa.
Aos 19 minutos, Thiago fez a diferença mais uma vez. O meia recebeu um lançamento primoroso (acreditem!) de Júnior César, ganhou na corrida do lateral Dionísio e finalizou com precisão: 2 x 0.
A torcida ainda comemorava quando Thiago Neves voltou a detonar a zaga do Peixe. Na intermediária, Rafael deu uma joelhada na bola, que subiu muito e morreu no pé esquerdo do nosso camisa 10. Com calma, ele acertou um chute forte e marcou o terceiro do Fluzão.Vitória definida!
A zaga também merece uma menção honrosa neste domingo. Anderson e Luiz Alberto não deram espaço para o ataque do Santos e o sempre perigoso Kléber Pereira quase não tocou na bola. A marcação no meio-campo também foi eficiente e conseguiu neutralizar as tentativas do Santos de penetrar na área.
Para não dizer que não falei das sombras, continuo preocupado com o nosso ataque. Não acredito no Somália. No Grêmio, ele era sinônimo de canelada. No São Caetano, foi até artilheiro do Paulista. Como o Flu está mais para o Tricolor dos Pampas do que para o Azulão, em maio, cheguei à conclusão de que a contratação do centroavante seria mais um equívoco da diretoria. Ele até me impressionou nos primeiros jogos que fez com a nossa camisa 9. Marcou gols, ensaiou comemorações pouco convencionais e animou a legião. Mas alguns colegas de imprensa acabaram evocando o Casal 20 e, como castigo, veio a maldição. Thiago e Somália não podem ser comparados a Assis e Washington. Vivo a religião tricolor desde os tempos do "eu-menino" e sei muito bem que esse tipo de pressão acaba com os nossos atletas. O Casal 20 fez jus ao apelido após conquistar três "canecos" do Carioca, vitórias eternas sobre os nossos maiores rivais e um título brasileiro. Os apressados cometeram mais uma heresia. Mas, vá lá, ainda me animei com o Somália. Por pouco tempo, infelizmente. Após o jogo contra o Atlético Mineiro, comecei a me lembrar das velhas dúvidas que cercam o atacante e já não confio no seu faro de artilheiro.
Mais uma vez, o Renato decidiu apostar no Rodrigo Tiuí. Ele correu muito na partida de hoje, se esforçou, mas não me convenceu. Aliás, Jean, Alex Dias e Tiuí não são os jogadores adequados para o ataque de um time que pretende ser campeão brasileiro. Como sou um otimista convicto, ainda não incluo nesta lista o Soares, que tem muito potencial e pode ser útil quando recuperar a forma física.
Amigos, aprendi com o tempo que ser tricolor é não ter meias medidas. Nas Laranjeiras imortais, desde sempre, o paraíso dorme no mesmo quarto do inferno. Espero que a vitória incontestável da noite deste domingo possa, enfim, apagar aquelas chamas do mês de julho.

Saudações tricolores.

FLUMINENSE 3 x 0 SANTOS

Ricardo Berna (5); Rafael (6), Anderson (8), Luiz Alberto (8,5) e Júnior César (6); Romeu (7,5), Maurício (7,5), David (6) (Cícero - sem nota) e Thiago Neves (10) (Ivan - sem nota); Rodrigo Tiuí (5) (Soares - sem nota) e Somália (5). Renato Gaúcho (7,5) .

Gols: Luiz Alberto, 36 minutos do primeiro tempo; Thiago Neves, aos 19 minutos e aos 26 minutos do segundo tempo.
Cartões amarelos: Luiz Alberto e Rodrigo Tiuí (Flu); Marcelo, Baiano, Domingos e Kléber Pereira (Santos).
Público: 6.002 pagantes.
Renda: R$ 79.098,00.