O Osvaldo de Oliveira é um bom técnico, um sujeito humano, que sabe como unir um grupo, estimular a camaradagem, a solidariedade e o companheirismo. Sabe usar a psicologia para aparar arestas e domesticar vaidades.

Ao contrário do Abel Braga, que é passional, sangüíneo, explosivo, quase irracional, o Osvaldo é um sujeito calmo, zen, que respeita o ser humano (antes de ser rigoroso com o profissional), provavelmente um leitor de Paulo Coelho, Lia Luft, Nuno Cobra, e de livros de auto-ajuda.

O Abelão, por sua vez, deve ler #A Arte da Guerra#, de Sun Tzu, mas certamente joga o livro na parede, com raiva, ou o rasga, quando as coisas não dão certo. Aí, diz que o velho chinês era meio veado, e toma logo umas doses de uísque, pra se acalmar.

O Osvaldo come arroz integral, soja, saladas, grãos, bebe chá de camomila. O Abelão come picanha, carne sangrenta, bebe conhaque, café forte e uísque. Osvaldo ouve Chopin. Abelão ouve Wagner.

Legal, o Osvaldo. Todos nós, tricolores, sentimos um certo alívio quando vimos o time relaxado e jogando de forma solta, sem nervosismo, bem armado. Uma postura mais racional em campo, nas entrevistas.

Elogios gerais ao Osvaldo, e deboches gerais para o Renato Gaúcho, por exemplo, e sua trupe mambembe e xexelenta, seus improvisos, seu pragmatismo pouco acadêmico, de tchurma de praia.

Claro que eu me incluo aí, na turma que estava satisfeita. Bati palmas para o Osvaldo, para o esquema do time e para a definição de um time titular. Ainda bato. Mas uma coisa sempre me incomodou. O que seria? Por que eu continuava com um pé atrás, sem confiança total?

Vamos recapitular: o Osvaldo definiu um esquema tático, escolheu um time titular incontestável (nenhum torcedor discorda), mas a gente sentia que faltava alguma coisa.

Não vale dizer que #o trabalho apenas começou, o time está em formação#, e coisas semelhantes. Nenhum time hoje dura mais do que um ano, os resultados têm que vir rápido.

Depois dessa derrota dolorida contra o Vasco, trágica para o momento do clube, as coisas, enfim, ficaram mais claras.

Por que tínhamos uma certa implicância com o Osvaldo em 2001, apesar da boa campanha no Brasileirão? Por que, apesar de ele ter encontrado a escalação ideal, continuamos todos meio desconfiados dele e do time?

Vamos especular algumas respostas possíveis:

1) Porque ele não sabe substituir. Só troca jogadores no final dos jogos, quando é impossível a reversão do placar. Ou, então, substitui errado.

2) Porque ele não tem variações táticas. O esquema é aquele, todo mundo logo percebe. Dá certo no começo mas, depois da primeira seqüência de vitórias, fica manjado. Hoje, um técnico adversário inteligente põe marcação forte em cima do Lenny, que é só um garoto de 18 anos, põe marcação forte sobre o Petkovic, um veterano de 34 anos, e sobre o Arouca, outro garoto, de apenas 19 anos, e pronto. Joga com paciência, disciplina, velocidade, com garra e força para anular o Flu.

3) Porque ele, Osvaldo, parece ser leniente com jogadores displicentes, ou em má fase, e que rendem pouco. Todos sabemos que os técnicos brasileiros de sucesso (não considero nesta análise o caráter, a honestidade, porque isso o Osvaldo tem. Ele é íntegro. A questão é a postura, a cobrança, a exigência). Ele é paternalista. Acredito (e posso estar errado) que ele se preocupa demasiadamente com a pessoa do jogador, com o ser humano, até mesmo em detrimento do rendimento do time. E isso não cabe em um profissionalismo exacerbado como este do
futebol.

4) Em 2000/2001, o Osvaldo fez indicações erradas ao Fluminense, como Gilmar Fubá, Jorginho Tetra, Bismarck e insistiu em fracassados como Caio, por amizade aos jogadores. E por não saber substituir e variar esquemas táticos. Apostava mais na confiança que tinha em alguns jogadores, quando o futebol hoje exige mais dedicação, vigor, profissionalismo.

Mas vamos deixar o Osvaldo em paz um pouco, porque eu não o trocaria por nenhum outro técnico agora. Eu, na verdade, continuo apoiando o nosso treinador, apesar de ver nele os defeitos descritos.

Foi apenas uma análise sobre o estilo de trabalho dele, e sobre o qual ele deveria refletir. É preciso aprender e retirar lições dos erros que cometemos.

Que ele tem qualidades, tem. Mas tem velhos defeitos, que afloraram agora, na hora da onça beber água.

Não evoluiu muito nos últimos quatro ou cinco anos, e precisa se reciclar, aprender novas coisas, ser menos paternalista. Não pode ir para boates com jogadores, precisa cuidar de detalhes físicos, táticos e técnicos. Técníco é técnico. Jogador é jogador. Quando se misturam, a torcida é quem sai perdendo.

Faltam ainda, ao Flu, variações táticas, falta ao Osvaldo usar melhor o elenco que tem nas mãos, o Evando, o Pitbull, falta surpreender os adversários, coisa que o Renato Gaúcho tem dado mostras de, agora, saber fazer.

O Renatão melhorou muito, tem aprendido com as porradas que leva e com o trabalho. Mas eu ainda prefiro o Osvaldo no Flu, que isso fique claro. É só uma constatação de que o Renato vem evoluindo.

O time do Flu tem pontos fracos. Rogério chegou como uma grande contratação, uma esperança de liderança, de temperamento forte, de boa técnica, de jogador acostumado a ganhar títulos: Libertadores, Copa do Brasil. Um vencedor, e que passaria sua experiência ao jovem grupo. Mas, hoje está claro, é um ponto fraco do time.

O Rogério não marca mais ninguém, porque é lento, cansado. E também não apóia pela lateral. Não consegue mais. Deixa, no vestiário, um paletó conceitual, nas costas de uma cadeira imaginária, e vai para o campo tomar um cafezinho.

No campo, limita-se, preguiçosamente, a carimbar as bolas que chegam aos seus pés e atrasá-las para um dos Thiagos. Nada mais. Um burocrata # lento, improdutivo, apagado, previsível e com salário astronômico (neste caso, o oposto de um burocrata). Ai, que saudades do Gabriel!

O Tuta...bem, nem preciso explicar o problema que é o Tuta. Contra defesas frágeis, em jogos fáceis, o Tutão ainda dá conta do recado, tapeia todo mundo. Faz o pivô, engana as defesas, demonstra uma certa presença física.

Mas quando o jogo é duro, a marcação é forte, e o time precisa de um centro-avante um pouco mais veloz, ágil, mortal, capaz de decidir, aí não podemos mais contar com o Tuta. É apenas um peso morto.

Ele não é omisso, preguiçoso, nem covarde, nada disso. Luta como um leão, briga, bate, apanha, mas não tem mais punch, não tem agilidade, técnica, explosão muscular. Está cansadão, lento, sem impulsão, sem velocidade.

Com o Tuta de centro-avante, só mesmo por acidente podemos ganhar um título importante. Esta Copa do Brasil é tão fraca que até daria para ganhar com ele no comando do ataque.

Mas o Renato armou bem o seu time, e vai ser difícil reverter isso. Ah, que falta faz também o Leandro Guerreiro, com quem os que não entendem de futebol tinham implicância!. Viramos vários jogos perdidos no ano passado graças a ele.

Em jogos decisivos, está difícil também contar com o Petkovic. Não que ele tenha jogado mal. Jogou melhor, por exemplo, do que o bom Morais e do que o Ramon, do Vasco.

O problema é que o Petkovic ainda acha que é o cérebro do time, que todas as bolas têm que passar por ele, que ele tem que bater todas as faltas, escanteios, laterais, tiros de meta.

Sente-se sempre na obrigação de fazer uma jogada brilhante, genial # quando, na maioria das vezes, bastaria fazer um feijão-com-arroz bem feito. E o corpo não ajuda mais. Está cansadão e sem força física.

Resultado: perde bolas idiotas, que valem aos adversários contra-ataques terríveis. Aí, ele põe as mãos nas cadeiras e reclama do juiz. Posso queimar a língua, e torço para isso.

Pode ser que ele volte à forma dos primeiros jogos que fez pelo Flu no ano passado, e que nos dê grandes alegrias. Mas está também muito manjado. Os técnicos adversários sabem como anulá-lo. E está chutando e batendo faltas muito pior do que o Jancarlos, por exemplo. E quer bater tudo...

A responsabilidade, então, toda, recai sobre a defesa e sobre o Arouca e o Lenny. A defesa, como já escrevi várias vezes, é excelente, mas não pode segurar sempre o jogo quando o ataque e o meio de campo deixam de existir.

E os garotos são exatamente isso: apenas, ainda, garotos. Arouca, Marcelo, Lenny, são promessas de jogadores geniais, mas é injusto esperar que, agora, resolvam tudo.

Enfim, temos problemas, e não vai ser fácil reverter esta situação e meter dois gols no Vasco. Eu apostaria em uma vitória simples que nos levasse aos pênaltis. Dá tempo de reverter, é possível. Mas não é mole.

Não vejo no Osvaldo (e aí ponho de novo na berlinda o nosso técnico) capacidade de surpreender, de surgir com uma variação tática ou de escalação que quebre a espinha do aplicado (e medíocre) time do Vasco.

Nem vejo também ascendência psicológica do Osvaldo para reverter o quadro e injetar testosterona nos jogadores.

Ele, Osvaldo, armou um ótimo time, mas que não consegue sair de armadilhas táticas e nem de um adversário com disposição física. Ficou manjado, todo mundo sabe como joga o Flu e quais são os pontos fortes e fracos.

O jogo...bem, todos nós vimos. O Flu poderia ter marcado um ou dois gols no primeiro tempo, se não fossem todos os defeitos que apontei acima. O Pet batendo tudo, a lentidão e as limitações do Tuta, a leniência do juiz com a violência do Vasco, a falta de determinação.

E o juiz? O que era falta da defesa do Flu, não era da parte da defesa do Vasco. O que era empurrão do Roger e do Thiago, não era da parte dos zagueiros do Vasco sobre o Lenny.

Mas, justiça seja feita, o Vasco não foi desleal. Foi guerreiro, duro, viril, jogou no estilo da Libertadores; um futebol físico, de enorme aplicação tática, #agonistico#, como dizem os italianos.

Nosso time é ainda mole, não sabe jogar em partidas pegadas, duras, de grande exigência física e mental. Não é um time pronto, por exemplo, para uma Libertadores. Falta força física e mental, repito.

Só o Thiago, o Marcão e o Roger. É pouco. Falta o Leandro Guerreiro (ah, que saudade!).

Aliás, Marcão voltou mal, sem ritmo. Lutou e ajudou muito na marcação, mas cometeu erros terríveis com a bola nos pés quando saía para o jogo.

Enfim, amigos, tudo o que escrevi aqui pode ser totalmente desmoralizado na segunda partida, porque o nosso time é, inegávelmente, melhor do que o do Vasco, tecnicamente.

Mas não adianta ser melhor em tese se, dentro de campo, faltar vontade, e se não fizermos o esperado: gols. Nada está decidido. Mas é preciso uma mudança no espírito do time (e do técnico) para o próximo jogo.
Fluminense 0 x 1 Vasco: Fernando Henrique (5); Thiago Silva (5), Thiago (6) e Roger (5); Rogério (4), Marcão (5), Arouca (6) depois Romeu (6), Petkovic (5), e Jean (5) depois Cláudio Pitbull (5); Tuta (3) e Lenny (5).
Cartões amarelos: Romeu (está fora do segundo jogo, recebeu o terceiro cartão) e Jean.
Juiz: Wilson Seneme (SP), bom no geral, mas tolerante com o jogo violento.

Cezar Motta - cezar_motta@uol.com.br