Vencemos, vamos comemorar, estamos juntos na liderança, com 13 pontos ganhos, desbancamos a arrogância do Luxemburgo e dos paulistas, embolamos o campeonato, mas vamos convir, sem esconder a verdade, nem nos iludir: o time jogou pessimamente, ganhou por acaso, e graças à ruindade do time do Santos.

O primeiro tempo, então, foi de dar raiva. Disse à minha mulher, que lia os jornais desinteressadamente: #A melhor maneira de terminar mal um domingo, de estragar um final de semana, é ver o Flu jogar no domingo à noite#.

A derrota parecia iminente. Time preguiçoso, estático, arrastando-se em campo, frouxo na marcação, e torto: parece que só existe a faixa esquerda do campo.

Repararam? O Flu só joga a um metro da linha lateral do lado esquerdo. E parece que só o Marcelo é capaz de criar alguma coisa. O lado direito do nosso ataque (e da nossa defesa) é uma terra de ninguém. No primeiro tempo, não foi nem sequer uma bola para lá. O Rogério, até ele, que em tese é o ala direito, veio trocar passes de um metro com o Marcelo, na ponta esquerda.

Outra coisa insuportável é que o Lenny e o Tuta ficam inteiramente isolados na frente. E o Tuta não ajuda o Lenny. Várias bolas recebeu o Lenny, arrancou, cercado por três zagueiros, e acabou encurralado em uma das bandeirinhas. Pois ninguém chegou para ajudar. O jogador mais próximo estava a mais de 20 metros dele.

O meio de campo não encosta. Quando encosta, vem lentamente e permite que a defesa adversária faça um bloqueio impossível de ser batido na entrada da área. O contra-ataque é feito a passos de cágado, como em um velho time de cachaceiros depois da feijoada da tarde de domingo.

A cena mais comum, depois que a nossa defesa recupera a bola, ou o Fernando Henrique faz a defesa, é a do Petkovic recebendo, com preguiça, na nossa intermediária, sendo desarmado seguidamente, com enorme facilidade, e permitindo contra-ataques mortais. De quebra, faz aquela cara de quem está com saudade dos Bálcãs.

Irritante. Apenas no segundo tempo, os jogadores do Flu tentaram alguma coisa, mas com os velhos vícios. Bolas longas, sem objetividade, em busca de um Tuta pesado, lento, sem recursos. Ou de um Lenny absolutamente isolado e apanhando muito. E o Pet batendo pessimamente faltas e escanteios, desperdiçando todos os lances livres.

Como o time do Santos é ruim, cansou também de pressionar. E, aos 24 minutos do segundo tempo, em mais uma das irritantes bolas longas em busca de Tuta, sempre de costas para o gol, e bola que sempre pega os zagueiros de frente, a sorte nos sorriu, finalmente. O Luiz Alberto tentou atrasar de cabeça para o Fábio Costa (que não tinha pegado na bola até aquele momento). E encobriu o goleiro deles, ridiculamente.

Pensei, aliviado: #se o time segura este resultado até os 40 minutos, e resiste à pressão, podemos até garantir um empate#. Mas era um pessimismo exagerado. Uma mudança que realmente deixou claro que não iríamos perder foi a saída do inútil Rogério para a entrada do Radamés. Pelo menos, ganhamos em vigor físico, em vontade.

O Juliano substituiu o Petkovic, e mostrou que não tem condições de ser titular, apesar dos pedidos de alguns tricolores. O Juliano não tem empuxe, não tem força, é lento, não tem desempenho físico de jogador profissional, apesar de já ter 19 anos. Daquele mato não sai coelho.

Destaque absoluto para o Fernando Henrique, o Roger e, um pouco abaixo, o Marcão e o Marcelo. Pareciam os únicos jogadores com vontade de vencer, apesar de os dois Thiagos também lutarem muito # mas estavam em um péssimo dia. Arouca faz uma falta terrível, e o Osvaldo não consegue encontrar uma solução para a ausência do nosso motorzinho.

Outro fator de irritação é a narração dos dois estrumes da Sportv. Contei 12 ou 13 vezes em que eles passaram mais de um minuto elogiando o Luxemburgo, falando no Luxemburgo, que ele é #elegante#, que é #competente#, que se veste de forma #impecável#, que pode ser suspenso pelo STJD, o que seria #uma pena#. E o jogo rolando.

Ainda no primeiro tempo, o Thiago meteu o braço no tal Wellington Paulista, uma falta que todo zagueiro faz, e tivemos que aturar dez ou quinze minutos de Vanderlei Luxemburgo xingando o juiz em altos brados, xingando o bandeirinha, exigindo que o seu jogador fosse mostrar o olho machucado ao juiz. Tudo isso sob elogios dos jumentos que, supostamente, teriam que transmitir e comentar uma partida de futebol.
Quando o Luxemburgo atendia um celular, com a sua cafonice típica, lá vinham os elogios e comentários incessantes: #É um grande estrategista. Não deve ser uma ligação particular, para tratar de negócios, deve ser de algum observador que ele postou, inteligentemente, lá em cima#, como se só ele fizesse isso. E o repórter, pressuroso, #é o Serginho Chulapa, que sempre fica lá no alto passando observações para o Luxemburgo#.

É impressionante o fascínio que esse cafajeste exerce sobre os debilóides que trabalham com futebol, como os dois asnos que nos perturbaram hoje. E eles queriam a expulsão do Thiago de qualquer jeito.

O outro cafajeste, o Fábio Costa, está sendo acusado de ter agredido um gandula. E se defende dizendo que #não pode um menor de idade trabalhar em um jogo desses#. Ou seja, o garoto apanhou dele porque #é dimenó#.

Mas em uma análise realista final, se o Flu não melhorar muito, se o Arouca não voltar logo, e em boa forma, se o RAdamés não tomar a posição do Rogério, não acredito que possamos nem mesmo vencer o Fortaleza lá no Castelão # aliás, só me lembro de derrotas nesse jogo, algumas humilhantes, como os 5 a 0 do segundo turno do ano passado, uma das seis derrotas seguidas que nos tiraram da Libertadores. A grama lá é alta, o campo é pesado, o jogo exige força, atenção e vontade. Acorda, Osvaldo!!!
Fluminense 1 x 0 Santos: Fernando Henrique (9); Thiago Silva (6), Thiago (5) depois Gabriel Santos (5) e Roger (10); Rogério (2) depois Radamés (7), Marcão (8), Romeu (5), Petkovic (4) depois Juliano (4) e Marcelo (7); Tuta (4) e Lenny (6).
Cartões amarelos: Thiago Silva, Thiago e Romeu (terceiro da primeira série).

Cezar Motta - cezar_motta@uol.com.br