É difícil escrever sobre o óbvio, sobre o que já sabem todos os tricolores, principalmente os abnegados e sofridos amigos tricolores que ainda têm a generosidade de ler este maltratado escriba.

Ninguém pode acusar este time atual do Flu de falta de raça, de profissionalismo, de aplicação. Pelo menos não neste jogo na feia cidade de La Plata.

Na verdade, fomos eliminados na primeira partida, no Maracanã, quando o time foi ridículo, preguiçoso, e parecia jogar pela demissão do técnico Antônio Lopes.

Tivesse o Flu jogado no Maracanã com a vontade e a aplicação deste jogo de volta, na Argentina, e teríamos vencido bem no Maracanã.

Mas não. No Rio, o time andou em campo, até levar um gol. Neste jogo de volta, na Argentina, fomos vítimas apenas da ruindade de um time que é o pior que o Flu formou desde o tri-rebaixamento.

Um time que tem o Tuta de centro-avante, um #cérebro# com as condições físicas e espírito de competição do Petkovic, e outros jogadores de nível técnico de seletiva da terceira divisão do Rio de Janeiro, um time assim, repito, não pode pensar em eliminar ninguém, de competição nenhuma.

Além das malas que já citei, temos reservas com o nível técnico do Evando, do Juninho, jogadores que seriam ruins até para disputar uma segunda divisão.

E nem jogou o Beto, que também tem padrão técnico e físico de Estácio de Sá contra Rosita Sofia. Ou Campo Grande contra São Cristóvão.

Nenhum time de primeira divisão, hoje, contrataria jogadores como esses que citei aí acima. O Rissut, coitado, é um guerreiro. Garra, vontade, disposição, aplicação. Tudo isso ele tem demonstrado, é profissional sério.

Mas futebol, zero. Não joga nada, o pobre ?Rissut. Petkovic iria muito bem em peladas de condomínio, quando poderia dar esporro no juiz, mandar no time, parar o jogo quando bem entendesse.

O nosso Pet também, digamos, na pelada do Novo Leblon, poderia decidir quem joga ou não joga. Decidiria ainda quem seria o churrasqueiro. Escolheria a marca da cerveja, escolheria o juiz e dividiria os times. E aí, durante a partida, mandaria em todo mundo, marcaria faltas, ninguém poderia encostar nele.

Mas futebol profissional é diferente. Exige preparo físico, consistência, aplicação tática, empenho físico e concentração total durante 90 minutos. E isso o gringo não consegue mais. Arrasta-se em campo, é uma triste figura.

Bons jogadores, como Roger, Thiago Silva, e garotos bons de bola como o Lenny, o Marcelo (que não jogou), o Ulisses, se perdem no meio dessa confusão, dessa incompetência toda.

Um clube cujo departamento médico consegue ser pior do que o atendimento do plantão de hospitais municipais do Rio de Janeiro, como Souza Aguiar ou Miguel Couto.

Um clube que tem material humano na condição de dirigentes como os que temos, os Horcades, os Domingues, os Gustavos Mendes, os Totes, os Alcides, os Marcos furtados, enfim, uma instituição assim é destinada e vocacionada ao fracasso e à extinção.

Acredito que poderemos até vencer o Inter no domingo # afinal, eu acredito até no futuro da humanidade. Acho que poderemos escapar do rebaixamento, torço loucamente por isso.

Mas poucas vezes na vida estive tão desanimado com o Fluminense # a ponto de enjoar de futebol. Não consigo ver jogos de outros times ou de seleções, nem mesmo de campeonatos europeus.

E olhem que eu acompanho futebol desde os anos 50, via jogos até do Canto do Rio contra o Bonsucesso. Adorava futebol. Hoje, sinto apenas tristeza e tédio, porque futebol me lembra o Fluminense e sua triste condição.

Vou repetir, desolado, uma afirmação do começo desta crônica: temos o pior time da história do Fluminense, desde os três rebaixamentos.

Não adianta trocar técnicos. Nem o Fabio Capello ou o Felipão fariam o Rissut, o Ângelo, o Tuta, o Evando, o Juninho, o Rogério, jogar bola.

Não é só o time que é péssimo, pior do que vários times que disputam a segunda divisão. A nossa diretoria, o material humano que comanda o clube, é o que de pior pode existir.

Não falo de caráter, ou de honestidade, porque seria leviano de minha parte. Não conheço ninguém a ponto de acusar quem quer que seja de desonestidade, ou falta de caráter.

Mas não posso deixar de constatar, com enorme tristeza, que é uma gente absolutamente despreparada, desqualificada, absurdamente vaidosa, medíocre, incompetente, e que está levando a nossa paixão à decadência irreversível # e, a longo prazo, à extinção.

Institucionalmente, o Fluminense está hoje muito abaixo de clubes como o Goiás, o Atlético Paranaense, o Paraná Clube, o Juventude, o Figueirense, todos clubes apenas médios.

Ou seja, chegamos ao ponto de ficar abaixo de clubes médios. Os acontecimentos em torno do zagueiro Thiago, por exemplo, desmoralizam qualquer instituição.

Um departamento médico como o que temos desqualifica qualquer clube profissional. Dois meses de salário atrasado, em pleno século 21, tornam qualquer instituição uma aberração administrativa, uma vergonha esportiva e profissional.

Por que esses homens que comandam o Flu fazem tanta questão de dirigir o clube, se não têm mínimas condições para isso? O que explica semelhante vaidade?

Por que esses elementos insistem em destruir uma instituição secular, com milhões de apaixonados, como se o Fluminense fosse propriedade deles? Com que direito fazem isso?

Todos sabemos que burrice é uma das qualidades humanas que não conhecem limites. Mas quando somada a vaidade, prepotência e arrogância, aí a burrice torna-se destrutiva e perigosa como um câncer.

Sobre o jogo do Flu contra o Gimnasia, tenho a dizer que começamos bem o jogo. Muita raça, força e vontade. Parecíamos um time argentino.

Mas era evidente que o Flu não agüentaria aquele ritmo e aquela pancadaria até o fim, principalmente na casa deles e com torcida adversa. Não é o estilo do Flu.

O diferencial tinha que ser a técnica. O Flu tinha que ser um time tão aguerrido quanto eles, mas com mais técnica e agressividade no ataque e criatividade no meio de campo.

O Pet não tem mais condições físicas, como disse antes e todos os amigos sabem. Ataque, não temos. A única cabeçada em escanteio que o Tuta acertou em dois anos de Flu foi neste jogo: Pena que o gol tenha sido contra...

O Lenny começou muito bem, mas volto a pedir aos tricolores: paciência com um garoto de 18 anos. Não pode ser o responsável pelas vitórias # a menos que fosse um gênio, o que não é. Mas pode ser um excelente jogador, dentro de dois anos.

O Fernando Henrique provou que é o titular indiscutível do Flu. Durante todo o ano demonstrou amadurecimento e evolução técnica. Pisou na bola apenas quando atirou a camisa no chão ao ser barrado injustamente pelo Josué. É melhor e tem mais potencial do que o Diego.

O Thiago Silva é um grande zagueiro, e só comete erros porque é impossível a um garoto de 21 anos manter um nível excelente durante 90 minutos em meio à bagunça que é o Flu.

Enfim, tenho certeza de que poucos amigos tricolores acreditavam que seria possível eliminar o Bangu argentino. Até para eliminar o Bangu carioca teríamos dificuldades, diante da bagunça institucional que é o Flu.

Nossas únicas esperanças para fugir de um definitivo e mortal rebaixamento são a torcida e o talento e o profissionalismo de alguns poucos jogadores.

Aos amigos que tiveram a paciência de ler até aqui, obrigado e votos de melhor sorte para todos nós no resto do Campeonato Brasileiro.

Gimnasia y Esgrima La Plata 2 x 0 Fluminense: Fernando Henrique (8); Anderson (7), Thiago Silva (7) e Roger (7) depois Evando (0); Rissut (4), Marcão (6), Romeu (6), Petkovic (4) e Ulisses (5) depois Juninho (3), Lenny (6) e Tuta (0).

Cezar Motta - cezar_motta@uol.com.br