SEMPRE FLU

Há 20 dias lemos e ouvimos falar em Guerrón todos os dias. Aprendemos tudo sobre a biografia de Guerrón, como joga o Guerrón, vimos os lances dele contra os argentinos Arsenal, Estudiantes de La Plata e San Lorenzo.

Revimos os confrontos de Guerrón com Júnior César, lemos e ouvimos que ele está vendido ao Getafe da Espanha, apesar do #interesse# demonstrado pela triste, ridícula e patética figura de Horcades.

Desde que o Fluminense chegou a Quito, ouvimos, lemos e vimos as entrevistas de Renato Gaúcho avisando que Guerrón teria marcação especial, que Cícero jogaria pela esquerda, ajudando Júnior César a marcar Guerrón, que o negão equatoriano não teria espaço.

Jogo iniciado, Guerrón recebe do Fluminense um imenso e amazônico latifúndio para jogar como bem entende. Com menos de um minuto de jogo, Guerrón avança pela ponta direita, livre, em uma solidão desesperadora.

Teve tempo de ajeitar o cabelo espichado à base de henê, coçar os fundilhos, admirar o espetáculo da torcida da LDU, pensar no que ia fazer, lembrar-se das bobagens do presidente Rafael Correa, imaginar como será a vida perto de Madri e, finalmente, na falta do que fazer, cruzar para Bieler abrir o placar.

A vários metros de distância, dormindo, Júnior César apenas admirou a evolução do equatoriano. Cícero? Não entrou em campo, deve ter ido para Guaiaquil por engano. Luiz Alberto? Não foi visto no lance. Thiago Silva teve correr como louco, mas sem tempo para impedir a finalização do argentino. Ridículo.

Dez minutos depois, pareceu a todos nós que o Flu repetiria suas façanhas anteriores, principalmente aquela de Buenos Aires. Thiago Neves recebeu pela meia direita e sofreu falta violenta. Sentindo a perna, desistiu da cobrança, que ficou para Conca. Chute perfeito, no ângulo direito de Ceballos.

Todos pensamos: agora, o time vai acordar e, pelo menos, tentar marcar o time da LDU. Ledo engano. O Fluminense permaneceu apático, caminhando em campo, assustado com o grito da torcida equatoriana, apenas olhando passivamente o fraco time da LDU tocar a bola.

Nosso time não conseguia nem mesmo chegar perto e, quando chegava, perdia de forma lamentável todas as divididas. A parada de 20 dias foi terrível, como temíamos. O time perdeu ritmo, calçou sapato alto, parecia pensar que a vitória viria sem esforço, sem marcação dura, sem jogo.

Era como se o time da LDU fosse formado por super-atletas, enquanto o Flu atuava com meninos subnutridos e assustados. O segundo gol deles não tardou. Escanteio cobrado, a defesa do Flu ficou olhando o cabeceio de um cucaracha. Fernando Henrique fez defesa espetacular, com o pé, na base do reflexo.

A sobra da bola foi para quem mesmo? Para o solitário, isolado, não-marcado Guerrón, perto da linha da grande área. Chute forte, no ângulo, sem defesa, aos 25 minutos.

Logo depois, Washington recebeu livre, diante de Ceballos. Teve tempo de correr um pouco com a bola e ajeitar o corpanzil para o chute fraco e equivocado de canhota, chute de menino de seis anos.

Washington poderia ter cortado o zagueiro para o meio e ajeitado para a perna direita. Ou fazer como Romário e Ronaldo, meter na corrida mesmo o bico do pé direito na bola, com força.

Aos 32 minutos, aconteceu então o que nunca aconteceu antes: cobrança de escanteio e nossa zaga perdeu a bola alta; gol de cabeça do Campos. Aos 45, de novo. Escanteio cobrado, Washington desviou de Fernando Henrique e deixou na medida para novo gol de cabeça deles.

Nosso time parecia o Arsenal no Maracanã. Um bando de meninos medrosos e assustados. A torcida equatoriana gritava #olé#, o time da LDU tocava a bola sem ninguém incomodar, parecia treino de dois toques sem adversário.

Gabriel, Cícero, Júnior César, Igor, Arouca, Thiago Neves e Washington não estavam em campo. Pane total.

No segundo tempo, logo aos 6 minutos, bola cruzada da direita, Thiago Neves desvia de cabeça e marca o segundo gol. Conseguiríamos evitar o desastre?

Àquela altura, um terceiro gol seria um presente dos céus, uma derrota por apenas um gol de diferença. Mas esse tal terceiro gol nunca veio.

Ao contrário, aos 43 minutos, pertinho do final, Fernando Henrique operou novo milagre. Bola chutada à queima-roupa, FH espalmou no puro reflexo. A bola bateu no travessão e o nosso goleiro conseguiu finalmente agarrá-la, sob assédio de um atacante cucaracha.

Nosso time tem agora a missão de reverter mais um resultado negativo, um quadro semelhante àquele que tínhamos contra o São Paulo. Se marcarmos um gol logo no começo, será ótimo.

Mas tudo para o Fluminense é difícil. E assim é mais gostoso. Vamos tirar essa diferença no Maracanã, empurrados pela nossa maravilhosa torcida e com os jogadores acordados e com vontade de vencer e fazer história. É possível e vai acontecer. Duro vai ser esperar até lá...

LDU 4 x 2 Fluminense: Fernando Henrique (8); Gabriel, Thiago Silva, Luiz Alberto e Júnior César; Igor, Arouca (depois Maurício), Conca e Thiago Neves; Washington (Dodô) e Cícero.
Gols: Conca, aos 11 minutos do primeiro tempo, e Thiago Neves, aos 6 do segundo.