Quando o Botafogo enganava sua patética torcida no primeiro turno, no comecinho do campeonato, com aquela ilusória liderança, e o Flu patinava, com atenções mais voltadas para a Copa do Brasil, apostei então uma garrafa de 12 anos com um eufórico amigo botafoguense do Rio: o Flu vai chegar na frente do Botafogo, que é cavalo paraguaio.

Mesmo quando os tricolores começaram a se descabelar com a ameaça de rebaixamento, e o Botafogo ainda liderava, mantive a convicção de que iríamos ultrapassar a cachorrada. Cachorros paraguaios.

Nosso time tem graves deficiências para uma disputa de Libertadores com chances de título, mas insisto em que, neste Brasileirão, apenas o São Paulo (e agora, talvez, o Flamengo) tem um elenco individualmente superior ao nosso.

O Flu despencou na tabela porque houve a acomodação após o título da Copa do Brasil, por contratações erradas, como Somália, e pelos incríveis #erros# de arbitragem, que nos surrupiaram oito pontos.

Quem discordar em relação ao elenco e às comparações que fiz, por favor, que o faça com educação, sem agressividade ou ofensas.

No caso do São Paulo, a vantagem deles começa pela estrutura do clube, organizadíssimo, programado para vencer títulos. E continua com a ajuda ostensiva das arbitragens e com o fato de que tem o mais equilibrado dos elencos: os reservas que entram têm o mesmo nível dos titulares.

Em alguns casos, os reservas são até melhores, como o centro-avante Borges # que é melhor e mais rápido e mortal do que o titular Aloísio Chulapinha.

No caso do Urubu, sua diretoria fez boas contratações, como Fábio Luciano, Ibson, Christian, Roger Galisteu, o anão argentino, entre outros.

Como tem bons laterais, bom goleiro e uma base que vem desde o ano passado, o time urubulino é equilibrado individualmente. Falta, no entanto, a eles, o que sobra no São Paulo: organização, estrutura, planejamento (ainda bem).

Contra o Sport, o jogo começou morno, meio arrastado, com os pernambucanos com medo do Flu, visivelmente respeitando o nosso time. E, no primeiro tempo, Thiago Neves, Alex Dias e David perderam gols incríveis, na cara do goleiro Magrão.

Nossa grande vantagem é ter um sistema defensivo forte, o melhor que temos em muitos anos.

Mas havia erros de passe irritantes, quando tivemos chances de contra-atacar de forma mortal. O Romeu, por exemplo, é bom no desarme, mas fraco na saída de jogo, na organização. E volantes, no futebol de hoje, têm que saber passar bem a bola, organizar jogo.

O David é aquele mediano/medíocre, que não se destaca em nenhum fundamento.

Para nossa sorte, o time do Sport é fraquíssimo individualmente, como a esmagadora maioria dos times deste fraquíssimo Brasileirão.

Só mesmo cabeças-duras ainda podem acreditar que o sistema de pontos corridos é melhor do que o anterior, que era brasileiramente criativo, com os emocionantes mata-matas.

No segundo tempo, o jogo melhorou, e o Flu deu mostra de bom preparo físico. Ou, então, eu estou sofrido e calejado com jogos como este, contra o Sport, em que normalmente o Flu saía derrotado e suplantado fisicamente.

Por esse histórico de sofrimento, sempre espero o pior em jogos contra times médios, principalmente no Norte e no Nordeste. Todos já vimos filmes assim, que terminam com final ruim pra nós.

Se o Flu perdesse ou empatasse, estaria pessimamente colocado e, aí sim, perigosamente próximo de Paraná, Flamengo, Figueirense e da turma que está com passagem reservada para o inferno.

Para cúmulo do inaceitável, uma derrota ou empate nos poria atrás do Curintcha, um dos piores elencos desde medíocre campeonato # e além de tudo, um clube envolvido com o crime organizado.

O Flu trocou o fraco David pelo sonolento Cícero. E o jogo, que parecia perigoso contra nós, ficou favorável quando, aos 27 minutos, Thiago Neves cobrou escanteio e Cícero, ainda frio, subiu com estilo no meio da zaga e jogou lá na teia de aranha, sem chance defesa para o goleiro-mil, o Magrão.

A coisa se complicou quando o bom Maurício (precisa ser muito burilado, ainda) fez uma falta boba em um jogador do Sport e levou o vermelho. Já tinha o amarelo, por reclamação, no primeiro tempo. Mordido de cobra, escaldado, pensei: vamos tomar o empate, é questão de tempo.

Uma bola mal desviada por nosso melhor jogador, Thiago Silva, deu chance a Fernando Henrique de mostrar por que é o segundo goleiro menos vazado do campeonato (perde, claro, para Rogério Ceni). FH fez uma defesa espetacular, na base do reflexo, daquelas que seus inimigos classificam como #espalhafatosa#.

Mas aí falou alto a aplicação defensiva do time. E o preparo físico ficou ainda mais evidente com uma incrível arrancada de Júnior César pela esquerda.

O nanico fez um desarme, ainda na lateral, chapelou um pernambucano, e arrancou de forma incrível, por mais de 50 metros, a toda velocidade.

Como não é um prodígio de técnica, o JC se precipitou na hora de definir o lance, ou cavar um pênalti. Arriscou o chute, de forma meio precipitada, e arrumou apenas um escanteio. Mas foi o tipo de lance que dá moral ao time.

Com a expulsão do Maurício, o menino Sandro, zagueiro que se destacou este ano na Copinha-SP de juniores, entrou no lugar do cansado Alex Dias. Logo depois, Tiuí substituiu o complicado e inoperante Somália.

O jogo, por volta dos 40 minutos, parecia perigoso, com faltas próximas à área, ameaça de empate. Mas o time deles não tinha mais força física e nem técnica para uma reação.

Nossa zaga estava perfeita, e na única vez em que um jogador do Sport conseguiu o arremate, de virada, perto da marca do pênalti, novamente Fernando Henrique fez espetacular defesa na base do reflexo.

Aos 43 minutos, o Flu finalmente conseguiu atacar, meio na base do atropelo, sem organização, pelo lado direito. E Tiuí, finalmente, desencantou e mostrou serviço.

O descabelado driblou o zagueiro César já dentro da área, perdeu a bola, mas insistiu e recuperou. Já sem ângulo, encheu o pé direito. Magrão cometeu o erro de ajoelhar-se para defender e tomou o gol.

O jogo estava decidido. Agora, a torcida era para evitar tomar gol, para que nossa defesa mantenha a excelente média de menos de um gol por jogo. É a segunda menos vazada.

Temos ainda o quarto melhor saldo de gols (perdemos apenas para São Paulo, Cruzeiro e Vasco), e somos o quarto time que menos sofreu derrotas.

A colocação não é boa, portanto, porque abusamos dos empates. Foram 10, um recorde, boa parte graças a arbitragens desastrosas, como a do PC Oliveira contra o Grêmio, a do Evandro Roman no empate contra o Figueirense em Brasília etc.

A vitória nos pôs na oitava posição, com boas chances de ultrapassar Parmêra, Botafogo, Vasco e Grêmio, desde que não haja novamente o relaxamento decorrente da vaga garantida para a Libertadores.

E se tivermos novamente Gabriel motivado e em forma, e se Adriano Magrão recuperar a vontade e a garra da Copa do Brasil para formar novamente a dupla com Alex Dias.

Sport 0 x 2 Fluminense: Fernando Henrique (10); Rafael (5), Thiago Silva (9), Luiz Alberto (9) e Júnior César (7); Romeu (5), Maurício (5), David (4) depois Cícero (7, pelo gol) e Thiago Neves (6); Alex Dias (6) depois Sandro (6) e Somália (4) depois Rodrigo Tiuí (8, pelo gol).
Gols: Cícero, de cabeça, aos 27, e Tiuí, aos 43 minutos, ambos do segundo tempo.
Cartões amarelos: Maurício, Rafael e Rodrigo Tiuí.
Cartão vermelho: Maurício.

Cezar Motta - cezar_motta@uol.com.br