Quando, lá pelos 20 minutos do segundo tempo, o time do Gimnasia (uma espécie de Marília ou Ituano argentino) começou a ganhar confiança e sair mais para o jogo, tenho a mais absoluta certeza de que todos os torcedores do Flu no Brasil pensaram: não vamos vencer, e pior ainda, vamos tomar um gol.

Desisto de tentar entender o que acontece com o Flu. Os jogadores não conseguem dominar a mais fácil das bolas.

O Tuta recebeu uma dezena de bolas limpas, em boas condições, mas não consegue controlar, a bola foge dele e cai no pé do adversário.

O Juninho, na entrada da área do Flu, recebeu um passe errado de um argentino. Estava absolutamente livre, mas a bola bate em seu pé e corre cinco metros, até o pé de outro argentino.

Ninguém acerta mais um fundamento sequer. Os passes errados foram de matar de raiva até um tricolor iogue ou zen budista.

O time é fraco, mas os jogadores erram muito mais do que o curriculum deles faz prever. Não são tão ruins assim. Alguma coisa está muito fora de lugar no Flu.

O Alex Escobar especulou que seria nervosismo, insegurança. Passes errados de dois metros. Falta de reflexos, de iniciativa e de vontade.

Medo de arriscar arrancadas ou jogadas individuais. O Flu deve ter tido, a seu favor, dezenas de escanteios e faltas na lateral da área do Gimnasia.

Mas não adianta nada. Todos sabemos que vêm os cruzamentos, das faltas laterais e escanteios, mas nenhum jogador do Flu acerta uma cabeçada sequer.

Do outro lado, em nossa defesa, bastou um único e mísero escanteio para que eles marcassem. O Gardel subiu livre e cabeceou como quis.

Além do medo da bola, os jogadores demonstram uma apatia irritante. Todo mundo foge do jogo. Só começamos a jogar quando o desastre estava consumado e já havíamos sofrido o gol dos argentinos, que nem esperavam pelo presente.

Aí, um a zero para eles, o Flu demonstrou um pouco mais de aplicação, e foram criadas umas quatro chances de gol incrivelmente desperdiçadas. Por falta de confiança, de garra, de vontade de vencer.

O gol que o Rogério perdeu, quando o jogo estava ainda zero a zero, não se pode perder.

Rogério tabelou com Tuta e recebeu dentro da área, pela direita, mas na cara do goleiro. Até eu faria. Chutou cruzado, fraco e torto. Se ele entra com raiva, com decisão, chutando com vontade, faria o gol.

Da mesma forma o Marcão, aos 47 minutos do segundo tempo, na cara do gol, na pequena área, preferiu aplicar mais um drible e rolar para o Tuta que, como sempre, estava pessimamente colocado.

O gol mais feito que já vi este ano. Desperdiçado, claro.

Faltou decisão, vontade, raça, coragem para entrar em campo e vencer. Jogo fácil, adversário fraquíssimo.

Certamente o time do Gimnasia fará em La Plata (a feia capital da província (estado) de Buenos Aires) tudo o que não fizemos no Maracanã.

Vai meter uma correria pra cima do Flu, jogar com raça, e marcar logo no início uns dois gols. Já vimos este filme várias vezes, e sempre morremos no fim, como índio de faroeste.

Nossos jogadores não sabem mais chutar, cabecear (alguém aí lembra de algum gol do Flu de cabeça este ano, em cobrança de escanteio ou de falta??). Não conseguem mais passar uma bola, driblar, deslocar-se.

Não demonstram vontade de vencer, e a situação é preocupante. Nem penso mais em Sulamericana, porque estamos virtualmente eliminados. O medo é mesmo o rebaixamento.

Não adianta mais trocar o Lopes. Se chega um Tite, por exemplo, até que tenha tempo de conhecer o elenco, a tragédia estará consumada.

Temos que ir com o Delegado mesmo, e torcer para que ele encontre uma escalação próxima do ideal e devolva a confiança aos jogadores.

E rezar pelo Petkovic e pelo Marcelo. Sem eles, é melhor nem pensar no que pode acontecer (o pior é que todos pensamos o tempo todo naquilo...)

Fluminense 1 x 1 Gimnasia y Esgrima de La Plata: Diego (5); Rogério (5), Anderson (4), Thiago Silva (5) e Marcelo (5) depois Ulisses (sem nota); Marcão (6), Roger (6), Juninho (5) e Juliano (4) depois Lenny (sem nota); Evando (4) depois Pitbull (6) e Tuta (3).
Gol: Cláudio Pitbull de falta, aos 41 minutos do segundo tempo.

Cezar Motta - cezar_motta@uol.com.br