Fluminense 3 x 3 Americano - 28/02/2003 Os mistérios nebulosos do além Uma das piores sensações que existe é a impotência diante da banalização do horror. O pior é que a triste realidade não se resume na insegurança generalizada. No Rio de Janeiro, desordem e falcatrua já são oficiais, atingindo até o futebol. Com isso, somos obrigados a ver resultados manipulados nos bastidores e o destino é sempre o mesmo. Flamengo x Vasco na final e Americano beneficiado. Foram mais dois pontos roubados, que somados aos tirados contra o Vasco e o Friburguense, praticamente nos dariam o título da Taça Guanabara. Estava totalmente desanimado para escrever, mas meu amigo Ant deu um estímulo e fizemos outra parceira a quatro mãos. É mais uma mistura de realidade com ficção, que, pelo menos a nós, ajudou a diminuir um pouco nossa agonia. Romário tomava o avião rumo ao Catar enquanto o Flu entrava em campo para jogar uma partida importantíssima para suas pretensões de classificação. O melhor time do Rio chegava no penúltimo jogo da primeira fase precisando desesperadamente vencer. Tudo isso graças a artimanhas que o tiraram do Maraca, sua verdadeira casa, e levaram certos árbitros a trabalhar num mundo que deveria ser justo e honesto. Começa o jogo. Um clima especial toma conta da linda torcida que enfrentou o calor infernal e o horário adverso para assistir a mais um show do Tricolor. O avião decolava, levando nosso bem mais precioso, mas nos 20 minutos iniciais até o Romário ficou esquecido. Apesar de um poderoso chefão, claramente contra o Flu, estar presente, nosso time jogava tão bem que nada poderia abalá-lo. Nove minutos. Carlos Alberto faz o que sabe fazer melhor. Dribla dois marcadores e toca para Ademílson. O substituo do Baixinho não é nem um pouco decisivo, mas velocidade é com ele mesmo e ele aproveita isso para cruzar na medida para Fábio Bala. Nosso matador só completa para o fundo do gol. 1 x 0. Ao contrário dos jogos contra o Olaria e Volta Redonda, inauguramos o placar no Laranjal. O perigo parecia não rondar mais. Esbanjávamos alegria e talento. Houve mais seis minutos de espetáculo pelo gramado, com jogadas que arrancavam aplausos, e depois partimos para o segundo gol. Era hora. Jancarlos estava numa tarde inspiradíssima e tabelou com Fábio Bala. Só toques curtos e desconcertantes. Dois marcadores até trombaram entre si. A bola acabou sobrando limpa para o artilheiro isolado do Campeonato marcar. 2 x 0. Dentro do avião, Romário enrugava a testa. Não. Estava tudo bem. Tudo bem mesmo. Ele, do alto de sua existência, sentia que seu time não tinha ficado órfão. Sua conta bancária ia muito bem e os próprios colegas receberiam seus salários. Ele pensava na possível guerra, no carnaval do Rio, nas areias da Barra, nos jogos no Maraca,... Tudo passava por sua cabeça, mas foi passageiro. Logo, ele se tranqüilizou. O Baixinho mal sabia que no Reino Laranjal, o espetáculo continuava. The show must go on! A coroa de rei passou para Carlos Alberto, que desfilava com classe em sua casa. Aquele time lembrava o primeiro tempo contra o Flamengo e o segundo tempo contra o Botafogo. Era irresistível até para certos jornalistas nem sempre simpáticos. O terceiro gol parecia ser questão de tempo. E foram apenas três minutos entre o segundo e o terceiro gols. Nesses três minutos fizemos a bola rolar como se fosse uma pérola massageada pelos deuses que regem o futebol. A dupla do ?J? das nossas laterais fazia maravilhas, reverenciando o rei Carlos Alberto, que havia descido para brincar com seus súditos. Falta apenas o gol dele para selar uma agradável tarde. Alex Oliveira recebe lançamento e é derrubado pelo desengonçado goleiro de Campos. Ele pede para cobrar o pênalti, e até merecia, mas o rei chama, mais uma vez, a responsabilidade para si. Obviamente a bola entrou enquanto o arqueiro mergulhava pesadamente no canto oposto. 3 x 0. Nesse instante, Romário olhou para Zé Colméia e sorriu. Parecia sentir tudo que se passava lá embaixo. Um ser iluminado, com todo o seu poder, passava bons fluídos lá de cima, mas as qualidades do Fluzão começaram a atrair olhares nada amistosos. Forças do mal se agruparam, tentando escurecer nosso templo. Uma inveja concentrada atingia o Laranjal como um raio laser invisível. O ?doutor? da Federação estava presente e a arbitragem ficou intimidada ao vê-lo com cara de mau. Por obra sabe-se lá de quem, Ronaldo, ex-botafoguense, cedeu seu aparelho corporal para as sinistras forças. Depois de um rapa em um atacante do Flu, na tentativa de roubar a bola, era clara a idéia de que ele já estava possuído. Demonstrava força e vontade fora do comum. Muito bem escolhido, pois o Fluminense havia humilhado seu ex-clube no domingo. E o que o Alvinegro do Rio não fez num jogo, ele executou num lance. Num ataque que parecia sem perigo, Ronaldo conduziu a bola e chutou, cego, deixando aquela, que havia sido tão bem tratada nos primeiros vinte minutos, entregue ao acaso. O mau agouro, abastecido pela inveja de mentes subdesenvolvidas, conduziu a ex-pérola de maneira rude, grotesca e fatal. Kléber, como herói que é, não se entregou e ainda tocou nela, mas forças maiores a fizeram entrar. Com o gol, até o juiz se animou e, para mostrar serviço ao Seu Eduardo, amarelou as duas cabeças da defesa tricolor. Um jogador do Americano derrubou Alex Oliveira e depois ainda pisou na perna dele. Marcão cobrou um cartão, mas quem levou foi o nosso capitão. Em seguida, César fez uma falta normal de jogo no meio-campo, segurando levemente um adversário, e tomou o seu terceiro amarelo. A tarde que começara tão alegre ganhava um certo ar temeroso. A torcida que cantava e aplaudia sentia o golpe no coração como uma flechada, mas ainda estava 3 a 1. Romário, lá em cima, acordava após um breve cochilo e voltava a enrugar a testa. Dessa vez não era a guerra, nem saudades antecipadas do Rio. Não podemos afirmar com certeza o que era, até porque é difícil penetrar em mentes geniais. No campo, nossos guerreiros voltaram a corresponder ao hino sagrado. O susto passou rapidamente, assim como o resto do primeiro tempo. 3 a 1 era um bom resultado. Mais do que o espetáculo, o que valia era os três pontos contra um adversário direto. No intervalo, o calor ainda estava presente, mas não incomodava tanto. Pairava uma certa aflição para o segundo tempo. O Flu não costuma repetir a mesma atuação nas duas etapas. O segundo tempo começou e os dez primeiros minutos passaram voando. Felizmente, nosso domínio estava de volta. O rei Carlos Alberto quase fez um golaço após driblar o caótico Charles, mas o zagueiro Laerte cortou em cima da linha. No lance seguinte, um atleta deles faz uma falta muito pior do que a do César, mas o juiz apenas sorri. O árbitro parecia bem diferente depois de uma bronca no fim do primeiro tempo. O jogo caminhava para os quinze minutos, Fábio Bala ia marcar o seu terceiro, mas o juiz inexplicavelmente apitou. É a lei de que a vantagem a nosso favor é para ser ignorada. O Americano fez uma falta lá atrás e foi marcado perigo de gol. Logo depois, Marcão sofreu pênalti, mas tentou dar seqüência na jogada. Se ele fosse um atacante, teria caído quando recebeu o pontapé. Porém, penal a nosso favor só se for mesmo escandaloso. Renato Gaúcho não é bobo e percebeu que deixar qualquer jogador do Flu pendurado em campo era uma temeridade. Rodolfo e Djair entraram no lugar de César e Marcão. O jogo caminhava tranqüilo, como foi contra o Madureira, mas acabamos dando um tiro no próprio pé por causa das substituições. Como seria bom ver nosso time saindo das Laranjeiras com mais uma goleada, diga-se de passagem, merecida. O velho lema de ?quem não faz, leva? pegou. Aos trinta minutos, num dos poucos contra-ataques que conseguiu realizar, o Americano avançou pela esquerda com Léo Macaé, outro que cedia seu material para ser incorporado por sabe-se lá quem ou o quê. O refugo do Vasco tabelou com o companheiro e foi ajudado por forças ocultas que faziam a bola pipocar daqui e dali para sobrar à sua frente dentro da área. Que perigo! No entanto, Kléber estava lá. Ele sempre está lá. Macaé estava na área, em menos de um segundo percebeu a chegada de Rodolfo, e se jogou, simulando um forte esbarrão. O juiz premiou o ator com direito a um pênalti. O atacante deles foi esperto, pois sabia bem as suas limitações. Com as intenções explícitas do árbitro, o mergulho na piscina verde do nosso quintal não foi deixado de lado. O apito não foi surpresa para ninguém. O gol foi. Marcelo Carioca poderia errar aquele pênalti. Afinal, até Romário erra. Por falar nisso, ele agora estava calado. Estranhamente calado, olhando para o nada enquanto passava o dedo pelo cinto do avião. 3 x 2. A idéia de goleada já era passado. No além, sorrisos escárnios saltitavam, prevendo um final inesperado e melancólico para os torcedores do Mais Amado do Brasil. Os três minutos que separaram o segundo do terceiro gols não tiveram nada de artístico, bonito ou especial. Eram cenas nitidamente manipuladas pelo amargo desconhecido que veio montado num infernal Léo Macaé, cavalo perfeito para as entidades do mal. Quem, senão um exu inimigo, ousaria provocar a maravilha tricolor em sua casa depois do gol? Gol que não foi humano, não foi lógico, mas foi gol. 3 x 3. Pior não foi o gol, mas ver as comemorações de Eduardo Viana e Léo Macaé em nossa casa. Do males, o menor. Ainda tínhamos doze minutos para tentar uma reação. E não adianta pensar em acréscimos, pois eles só existem quando prejudicam o Flu. Mesmo com os jogadores do Americano fazendo cera e a delegação de Campos atirando bolas dentro do gramado, sabíamos que seriam os habituais dois ou três minutos. O Reino desabou. O rei Carlos Alberto, por um momento, se sentiu só. Desprotegido, ele tentava jogadas individuais. Sabia que as esperanças de milhares de almas boas e salvas se residiam nele. Os soldados caíam por terra. O bravo Jadílson começava a errar lances simples. O não menos heróico Jancarlos continuava tentando... Era só pressão ao nosso favor rumo ao salvador quarto gol. E o fizemos. Ademílson deu uma de Romário e fez o tão esperado. A torcida tricolor comemorou, gritando para espantar as bruxas, o mal-olhado, a tão falada urucubaca do futebol. Mas contra o além não dá. O bandeirinha viu um impedimento e o juiz, sabedor de tudo (?) e de quanto ($), confirmou a suposta ilegalidade, anulando o nosso tento. Foi o golpe fatal. A tristeza tomou conta de toda a atmosfera. Em vários lugares, visíveis e invisívels, gargalhadas ecoavam pelos confins, com a certeza de que, muitas vezes, o mal vence o bem. Enquanto isso, sobre o Atlântico, Romário tinha a cabeça levemente reclinada. Olhos fechados e imóveis, mas num suspiro surgiu uma frase definitiva: "Contra o além, meu peixe, não dá". E fica complicado mesmo, ainda mais sem o salvador Baixinho e, daqui a pouco, sem o rei Carlos Alberto. Daniel Cohen - daniel.cohen@sempreflu.com JOGOS ANTERIORES: - 29/01/2019 A Super-libertadores Com Norte-americanos e o Fluminense - 16/10/2018 Os Ralos Por Onde o Dinheiro Some no Flu - 05/10/2018 A Mentira Como Forma de Gestão... - 25/09/2018 Um Desolador Vestiário Com Salários Atrasados - 14/09/2018 Um Desolador Vestiário Com Salários Atrasados - 14/09/2018 Ou Mudamos, ou Morremos - 26/08/2018 Fluminense 1 X 2 Avai - Copa do Brasil // Por Neto Fluritiba - 01/03/2018 Força Abel Braga - 29/07/2017 Atlético-mg X Fluminense //por Marcos Cabidelli - 21/05/2017 Fluminense X Santos //por Marcos Cabidelli - 14/05/2017 Liverpool X Fluminense //por Marcos Cabidelli - 11/05/2017 Flamengo X Fluminense //por Marcos Cabidelli - 07/05/2017 Fluminense X Flamengo //por Marcos Cabidelli - 01/05/2017 Fluminense X Vasco //por Marcos Cabidelli - 23/04/2017 Fluminense X Goiás //por Marcos Cabidelli - 21/04/2017 Goiás X Fluminense //por Marcos Cabidelli - 13/04/2017 Botafogo X Fluminense //por Marcos Cabidelli - 09/04/2017 Flu 1 X 1 Vitoria # Por Lierson - 15/11/2016 Cruzeiro 4 X 2 Flu # Por Lierson - 06/11/2016 Flu 2 X 2 Vitória # Por Lierson - 28/10/2016 Coritiba 1 X 1 Flu # Por Lierson - 24/10/2016 Flu 1 X 2 São Paulo # Por Lierson - 17/10/2016 Flu 1 X 2 Flamengo (que Várzea!) # Por Lierson - 13/10/2016 Santos 2 X 1 Flu # Por Lierson - 05/10/2016 Flu 3 X 1 Sport # Por Lierson - 01/10/2016 Corinthians 0 X 1 Flu # Por Lierson - 25/09/2016 Corinthians 1 X 0 Flu ( Outra Garfada Descarada!) # Por Lierson - 21/09/2016 Grêmio 0 X 1 Flu # Por Lierson - 18/09/2016 Flu 1 X 2 Chapecoense (de Novo!) # Por Lierson - 15/09/2016
|