Se não fosse o Romário ...

Neste fim de semana fui liberado do trabalho por causa do ano novo judaico. No entanto, quando o assunto é Fluminense, algo que faz parte da minha religião particular, não tem feriado, folga ou tempo ruim. Então fui ao Maraca assistir Flu x Figueira, mas dessa vez como torcedor, acompanhado dos amigos jornalistas Cauê Rademaker e Emiliano Tolivia.

Como é bom ver o jogo nas arquibancadas Posso usar a camisa do meu time, xingar alguns jogadores, fazer vários rituais que o lado profissional impede. Sabia que era um jogo de vida ou morte e precisava estar presente para apoiar o Flu. No estádio havia eu, que entrei sem pagar por causa da credencial de imprensa, e outros 6634 torcedores. Público pequeno, mas também depois do Fla-Flu era previsível. Não imaginava antes do Campeonato que o Flu de Romário levaria tão poucos torcedores num jogo.

A partida começou e logo aos 2?30??, na primeira chegada tricolor, saiu o gol. Flávio cruzou e Magno Alves cabeceou no ângulo esquerdo do goleiro catarinense. Surgiu um flashback do Fla-Flu, pois houve gol do Flu no primeiro ataque. Dava a impressão que seria mole e íamos golear.

Dava, mas Fernando Diniz, perseguido pela torcida durante o jogo, não tocava a bola para o Romário, só para o seu amigo Magno Alves, que errou muitos passes depois do gol. O único que tentava municiar Romário era Beto, que, às vezes, demonstrava até um excesso de respeito ao baixinho ao deixar de finalizar algumas bolas.

Só dava Flu e aos 14 minutos chegamos com perigo. Marquinhos, que quase não apoiava mesmo com o time jogando mais pelo seu setor, cruzou rasteiro, Magno pegou de primeira e a bola foi para fora. Se Magno desse um corta-luz e deixasse a bola passar, ela cairia nos pés de Beto, que estava livre e em melhor posição para marcar.

Aos 17?, Magnata se redimiu de alguns erros que vinha cometendo. Ele roubou a bola do lateral deles e cruzou para Beto. Era só chutar e fazer, mas dessa vez houve o corta-luz na tentativa da bola chegar no Romário, que estava marcado por dois. Logo depois, Beto perdeu mais um gol porque só pensava no Romário. Aos 23?, o nosso camisa 10 foi lançado por Diniz. Beto olhou para Romário antes de finalizar e perdeu uma grande chance.

Aos 24?, um lindo lance. Marquinhos cruzou mal, Romário pegou a bola na ponta-direita, ajeitou por cima para o Sidney, que vinha de trás, pegou de primeira e quase fez um golaço. A bola bateu caprichosamente no travessão. Se fosse o Fabinho, os gandulas teriam trabalho.

Aos 27?, Romário deu um belo passe de calcanhar para Marquinhos, que cruzou na cabeça de Beto, mas a cabeçada foi fraca, nas mãos do goleiro. Era um jogo só do ataque tricolor contra a defesa alvinegra. O segundo gol parecia ser questão de tempo. Romário sempre tocava a bola de primeira, mas Magno vacilava ao carregar a pelota demais.

Apesar de eles quase não chegarem, a marcação do Flu falhava nitidamente. Os jogadores tricolores esperavam o adversário chegar perto e só paravam as jogadas com faltas. Na zaga era um show de bola rifada, um bumba meu boi. A zaga deles conseguia ser pior, pois ficava apavorada com o Romário e quase fez um gol contra aos 39 minutos.

Diniz cada vez irritava mais. Estava fácil chegar, era jogo para golear, mas Diniz não soltava a bola. Ele sempre tem que dar aquela voltinha, como se estivesse numa passarela. Pena que ele não foi para o São Paulo no lugar do Régis. Lá, ele poderia fazer isso porque o seu amigo Oswaldo o aplaudiria.

Um fenômeno raro acontecia. A torcida Força Flu gritava até mais alto do que a Young, mas todos foram ao delírio quando o placar anunciou gol do Paraná no Flamengo. Aliás, o urubu é um freguês convicto do Tricolor de lá, assim como somos do Rubro-Negro de lá também.

Assim que pintou o gol paranaense, a torcida tricolor incentivou e o time veio num rápido contra-ataque. Beto partiu pelo meio, tocou para Romário e o baixinho, mesmo marcado, deu um passe que só ele é capaz de dar. Era só fazer e Magnata, na cara do gol, teve apenas o trabalho de empurrar a bola para as redes. 2 a 0 Flu, aos 43 minutos.

O primeiro tempo acabou e tudo levava a crer que pintaria uma goleada fácil para o Flu. O Figueirense, pior time do Campeonato, não chegou uma vez ao gol tricolor. Murilo repôs várias bolas erradamente, como sempre, mas nem assim eles conseguiam chegar com perigo.

Antes de o segundo tempo começar, quase toda a pequena torcida, que estava no tradicional ponto à esquerda das cabines de rádio (a torcida tricolor só não fica por lá nos jogos contra o Flamengo), foi para a direita, onde o Flu atacaria. No deslocamento para lá escutei um animado grupo de desconhecidos cantar aquela musiquinha, inspirada em Yellow Submarine, que o nosso Big Beto criou. A faixa da Sempre Flu, na parte das cadeiras amarelas, dava um colorido especial a este canto.

O segundo tempo começou e o Figueira fez duas substituições. Entraram William e Marcelinho, destaques do time na Série B de 2001 (não entendi porque ficaram no banco), e um dos que saíram foi o coroa Edu Manga, que não viu a cor da bola no primeiro tempo.

Eles iriam para o tudo ou nada e logo no primeiro minuto houve pênalti para eles. Sidney cortou um cruzamento com a mão e o penal foi bem marcado. Tiago Gentil foi gentil conosco e deu uma de Baggio. A bola isolou. Pênalti muito mal cobrado.

A torcida tricolor deu uma animada, mas o time deu uma parada. O Figueira martelava e parecia que sairia um gol deles, até porque o Flu não consegue ficar um jogo sem sofrer gol. Aos 5?, William lançou Selmir, nas costas de Andrei, que parou pedindo impedimento. Selmir tocou na saída de Murilo e descontou.

A zaga do Flu era um Deus nos acuda e aos 6?, Marcelinho, em bom chute, por pouco não empatou. Aos 9?, mais uma vez, quase gol deles, sempre em falhas individuais da zaga tricolor. Aos 10?, saiu Diniz, muito vaiado, e entrou Yan, não menos vaiado. A torcida gritou ?Bota pra vender? ao viúvo do Oswaldo. Diniz discutiu asperamente com Renato Gaúcho e deve ir para o banquinho, ou nem isso, no jogo contra o Gama.

Aos 12?, Sidney (será que está bichado?) se machucou sozinho. Que urucubaca tem esse jogador... O santo do Fabinho (no Laranjal vale tudo e Fabinho se negou a ficar no banco de reservas) é forte mesmo. Zada entrou muito aplaudido e em sua primeira jogada quase dá um gol para o Romário.

O time tricolor, que estava sem criar nada no segundo tempo, melhorou com a entrada de Zada. Aos 14?, Beto, sempre pelo meio, lançou Romário. O baixinho driblou o goleiro, ia marcar, mas o bandeirinha marcou impedimento erradamente. Impressionante a falta de sorte do Romário neste tal de centésimo gol em Brasileiros.

Mesmo com o time tomando mais iniciativa e criando mais, os zagueiros e laterais tricolores deixavam todos malucos. Uma mania deles incomoda muito. Sempre ficam pedindo impedimento, saída de bola, falta, ..., mas não esperam o árbitro apitar para deixar de ir na bola. Neste tipo de situação havia vários lances bobos que viravam perigosos.

Aos 24?, Romário achou Zada e ele estava na cara do gol. Cena parecida ao segundo gol do Magno. Zada acabou desperdiçando bisonhamente a jogada e ainda deu uma bicicleta horrível no rebote. Aí se fosse o Roger ... Aos 29?, Zada retribuiu o presente. Ele tocou para Romário, que driblou dois dentro da área e quase faz. O goleiro deles pegou bem. Que ?nhaca? !!!

Logo depois, aos 30?, o tradicional chupa-sangue Yan arriscou mais uma bola de longe. Desta vez a bola foi em direção ao gol, no canto direito, e o goleiro deles aceitou. 3 a 1. Parecia que o Flu deslancharia rumo à goleada.

Parecia, mas ao 34?, Murilo jogou uma bola fácil de ser encaixada para escanteio. Córner cobrado, pane geral na defesa tricolor e Selmir, mais uma vez, completou para o canto direito. Gol muito parecido ao terceiro que tomamos do Flamengo. Incrível falha. A torcida pegou no pé de César e Murilo.

Realmente o Flu precisa trazer um bom zagueiro urgentemente. Só espero que não inventem o Fabão. Para o gol contratamos o bom Cléber, que deve roubar a vaga de Murilo. Cléber fez uma das maiores defesas que vi na minha vida, numa cabeçada do Caio no Fluminense 1 x 1 Botafogo do Torneio Rio-São Paulo.

O jogo contra o Figueirense lembrava a partida contra o Gama no ano passado. O que me deixava ainda mais indignado é que o time catarinense só tinha feito dois gols em seis jogos no Campeonato, número até então igualado na partida. Só não imaginava que o número ainda seria ultrapassado e que alguns minutos de pesadelo estavam por vir.

Aos 35?, Magno saiu aplaudido (a Young o adora) e Roni entrou. O jogo estava perigoso. Em qualquer bola vadia podia sair o empate deles, o que seria desastroso para o Flu. E aos 41 minutos, o drama surgiu. Eles fizeram ?um, dois? no limitado setor direito de nossa defesa, o mesmo onde Athirson fez a festa. No final da jogada, Mendes, sem ser incomodado por Andrei (parece que ficou com medo de fazer um gol contra) completou para o gol e decretou o empate.

Naquele exato momento, a lembrança dos tempos de rebaixamento, quando nada dava certo, pairou na cabeça de muitos. Aos 42?, Romário foi lançado na área e perdeu de cabeça. Um senhor bem idoso, perto de mim, xingou o Romário de tudo, mas aos 44?, o baixinho salvou. Marquinhos, o Kojac, cruzou na área rasteiro, Romário se livrou com categoria do zagueiro e tocou no canto esquerdo. Finalmente, o centésimo dele. Ao meu lado, o velhinho nem vibrou no gol.

O juiz ainda deu três minutos de descontos, foi sofrimento total até o fim, mas o jogo acabou e voltamos a ser os melhores do Rio, o que no atual panorama não é mérito nenhum. Agora, o adversário é o Gama, que tem Dimba e Paulo Nunes no ataque. Imagina se este fosse o ataque do Flu ... Seria rebaixamento na certa. Que a fantástica torcida tricolor de Brasília, sob o comando dos quatro webs da Sempre Flu, compareça em massa e leve o Flu a mais uma vitória. Se depender dela sei que o Flu vence, o problema é o time, que às vezes gosta de perder para ele mesmo.

Daniel Cohen - daniel.cohen@sempreflu.com