SEMPRE FLU

Triunfo épico

Ninguém e nada descreveriam melhor Flu 2 x 1 Vasco do que o profeta Nelson Rodrigues e o seu Sobrenatural de Almeida. Tudo levava a crer que perderíamos. A bruxa estava solta no dia dela. Árbitro horroroso, Romário ausente, ataque de nervos, defesa cardíaca de sempre, um a menos, faltas desnecessárias (e muitas duvidosas) para Pet e Ramon cobrarem, mas uma garra incomum aliada à sorte dos verdadeiros vencedores trouxe a vitória.

Quem deu o pontapé inicial da partida foi o nosso Riva. Boa parte da torcida tricolor presente, maioria entre os 30 mil pagantes, nem o viu jogar, mas todos cantaram: ?Recordar é viver! Rivelino acabou com você!? Um certo elástico num tal de Alcir, drible mais bonito da história do Maracanã, que o diga. Que Toró siga os passos desse atleta, que foi um dos maiores dos nossos gloriosos 100 anos.

O jogo começou bem movimentado. Logo no primeiro minuto, Marquinhos quase abriu o placar para a gente numa falta bem cobrada. Aliás, pelo menos isso ele sabe fazer. Contra o Bota quase deixou o dele também.

As bolas paradas eram a tônica do jogo para os dois lados. Aos 20? tivemos mais uma chance. Falta de longe, Beto soltou um canhão, o bom goleiro Fábio (acredito ser até melhor do que o Hélton) defendeu e Romário não conseguiu pegar o rebote. Os bacalhaus fizeram a festa e começaram a encarnar no Baixinho.

A alegria dos cruz(credo)-maltinos, que conseguem a coerente façanha de votar no PPB (Eurico) e PT (Lula) ao mesmo tempo, se concretizou aos 24 minutos. Romário fez aquela cena clássica: mão na coxa esquerda, caminhada lentamente em direção a beira do gramado e saída do campo. Magno Alves (que é bem melhor do que Roni) entrou em seu lugar.

A torcida do WascO foi à loucura. Tripudiaram em cima do nosso sinistro. Foi bichado para lá, cheirador para cá, corno ali,... As viúvas do Ed(i)mundo se revelaram. Pena, para eles, que pegaram no pé do Beto também. Esqueceram que ele estava em campo. Devem ter ficado com a cabeça quente e tomado muita cachaça depois do jogo. Se eu fosse eles nem me preocupava. Afinal, se o Fiasco (vice) da Gama cair, no ano seguinte sobe. Por quê? Vai ser vice!!!

A torcida tricolor ficou totalmente arriada após a saída do nosso salvador e o time da Barreira cresceu em campo. Aos 30?, o refrigerante Pet cobrou falta, o futuro alaranjado (se bem que se depender da Adidas, ele vai esperar sentado) Kléber vacilou e Valdir perdeu um gol feito. Nosso seguro Kléber se redimiu logo depois, ao fazer uma bela defesa em outra falta cobrada por Pet.

O ataque vascaíno se mostrava incompetente. O Valdir estava isolado e quando tinha oportunidade fazia, felizmente, algo patético. O Sidney ?Baby Johnsons? (tinha que ter saído daquela fábrica de bambis) ficou com pena e quase colaborou com um gol contra. Justiça seja feita também. Apesar desse lance, o ex da Cristiana de Oliveira voltou, após longa inatividade, razoavelmente bem ao time. Para quem estava sem ritmo de jogo, valeu. Já houve uma evolução na qualidade de passe do nosso meio-campo.

Só dava o time que segue a orientação do Detran, usando sempre o cinto de segurança obrigatório, mas por pouco não abrimos o placar no finalzinho do primeiro tempo. Roni deu um excelente toque para Magno e na jogada ficou bem evidente a diferença dele para o Romário. Era só fazer e Magno tentou driblar Fábio, mas o goleiro deles agarrou a bola com facilidade.

Fim da primeira etapa. Zero a zero graças a Kléber e Fábio. Antes do segundo tempo começar, veio a chuva. Fiquei preocupado na hora porque estava com uma febre de 39 graus, mas mesmo em estado combalido não podia deixar de ir ao Maraca. O que o amor não faz quando você deseja algo... Minha namorada Dany, que virou torcedora do Fluminense por minha causa, é testemunha.

Estava na Tribuna de Imprensa, que fica um pouco acima das cabines. A chuva estava pegando forte no meu setor. Temendo uma pneumonia, pulei a grade que separa o setor das cadeiras especiais. Fiquei sentado à esquerda, onde atacaríamos e estava toda a nossa torcida.

O segundo tempo, apesar da chuva, começou ainda mais movimentado. As duas equipes mostravam um ótimo condicionamento físico. Parabéns, Paulo Paixão, os atletas tricolores estão voando em campo. O jogo estava emocionante, digno de um clássico com uma grande rivalidade. Era lá e cá. Dava para sentir que sairia um gol a qualquer momento.

Aos 15´, falta perigosíssima no bico da área esquerda para os lusitanos. Para mim (meus amigos dizem que sou muito parcial e nesses lances a minha opinião não vale), não foi falta. O juiz Michael Jackson começava a se complicar. Para quem tem Pet e Ramon (esse nos deixou saudades), falta naquele lugar é como se fosse um pênalti. Os árbitros, lógico, sabem disso. Eu(já tô)rico também. Falta cobrada por Pet e defesa tranqüila de Kléber, muito bem colocado.

No contra-ataque, Beto quase fez um golaço. A bola sobrou na intermediária, ele matou no peito, esperou a bola quicar, deu um chute que pegou na veia e a redonda explodiu caprichosamente na trave direita do goleiro Fábio, que estava vendido no lance. O gol estava amadurecendo. O time mostrava muito tesão.

Aos 21´, Marquinhos estava na ponta-esquerda e o limitado Russo o derrubou. Na hora tive a impressão que nem falta foi, mas alguns amigos acharam que nosso careca foi deslocado. Ele mesmo cobrou. César se antecipou e cabeceou no cantinho direito de Fábio. 1 a 0 Flu. Nos três clássicos, nosso zagueirão (está em ótima fase) fez gols de cabeça.

Nossa torcida fez do Maraca um caldeirão após o gol. ?Ei, você aí, avisa pro Eurico que essa p. vai cair!? ?Ão!!! Ão!!! Ão!!! Segunda divisão!!!? Era só alegria, mas, em cinco minutos, o árbitro estragou tudo.

Aos 25´, Ramon cobra escanteio, Valdir mata a bola com o braço escandalosamente e o juiz faz um sinal, dando a impressão que deu mão. Todo mundo parou e o esperto bigode finalizou para o fundo das redes. O amarelão do árbitro não teve peito para invalidar o gol.

Nesse momento, a torcida do Vascocô começou a entoar aquela musiquinha do ?time da virada?. A explosão deles foi total quando Fabinho (sempre ele) foi expulso. O pior é que a falta nem aconteceu e o seu amarelo anterior também tinha sido injusto. Quando o jogador é marcado por um histórico, fica até difícil argumentar. O juiz acaba indo com perigosos pré-conceitos nas jogadas.

O Edílson Soares da Silva mostrou que tem um grave problema de visão no lance seguinte. Ele simplesmente não consegue distinguir mão de peito (ou será a regra 18?). Roni finalizou, Rogério Pinheiro cortou com a mão dentro da área e o juiz mandou, absurdamente, seguir. Pênalti claríssimo. Por muito menos foi marcado um do Zé Carlos no jogo passado.

Estava indignado. Como sempre em jogos contra o time da Colina, estávamos sendo assaltados. Para me acalmar, perto dos 40 minutos veio um torpedo da minha namorada no meu celular: ?Como está o nosso Fluzão? Estou fazendo pensamento positivo daqui. Vamos conseguir a vitória!?

Li o recado e vi uma falta sendo marcada para a gente. Falta, também duvidosa, do botinudo Géder em Roni. Se fosse do lado deles, certamente seria gol. A bola estava no centro, colada na grande área. Quem iria bater? Nossa torcida gritou: ?Yan!!! Yan!!! Yan!!!? Impressionante como muitos ainda têm carinho por ele, mas tudo bem.

Yan foi na bola, ameaçou chutar e desarmou toda a barreira. Beto (Um monstro em campo. Tem uma vibração rara e uma raça contagiante. Quando quer, joga fácil. Atuou por dois. Quem mandou o cutucarem...) veio e deu um bico no cantinho direito de Fábio. Gol!!! Vibrei como há tempos não vibrava. Desde o golaço do PC contra a Flavela que eu não vibrava tanto num gol. Os gols da Copa do Mundo não contam, pois não comemoro tanto. Minha seleção é o Fluminense Football Club.

E depois do 2 a 1, mais uma vez fomos malandros segurando o jogo. César, Marquinhos e Yan fizeram cera, forçando o terceiro cartão por ordem do Renato Gaúcho (Enfim, foi promovido no estágio para treinador). Três pontos preciosos que nos colocam no sonhado G-8 e deixam o Vascomegrama próximo do inferno.

Na saída do Maraca, confusão como em todo clássico. Nem fui ao vestiário porque queria pegar logo o metrô. No portão 16, onde a impresa vai embora, ouvi vários tiros. Também vi muita pancadaria até chegar ao metrô. Cenas de uma violência totalmente banalizada, que só uma mudança cultural forte pode impedir.

Agora vamos, muito desfalcados, enfrentar o Corinthians de Parreira no Pacaembu. É a partida mais difícil até o final da primeira fase. Qualquer resultado que não seja a derrota está bom. Nos últimos anos ganhamos deles fora de casa três vezes. Quem sabe o feito não se repete...

Do lado de baixo da tabela, vejo os nossos três cocô-irmãos. Meu palpite é que caem Gama, Botafogo, Palmeiras e Paysandu (apesar de inventarem pênaltis para eles em quase todos os jogos), mas torço para a Flavela e o WascO serem rebaixados também. Tenho certeza que pelo menos um grande vai cair. Paraná, Bahia, Portuguesa e Figueirense (esse menos) têm chances, mas acredito que escapam. Será engraçado ver o duelo contra o acesso ao Vale dos Mortos neste fim de semana. Bostafrouxo x Flavela no sábado de finados (dia bem sugestivo) e WascO x Porco no domingo. Como o mundo dá voltas... E para os vascaínos, resta um recado: ?É o destino!!! É o destino!!! O tricolor...?