É difícil, amigos, escrever logo depois de um resultado tão decepcionante como foi esse empate. Mas eu me obriguei a fazê-lo, no calor e na decepção da derrota, sem esperar o dia seguinte, sem esperar que a vida cobre as exigências do cotidiano, as contas para pagar, o choque do trabalho e da realidade. Não faltaram garra, luta, até heroísmo. Faltou inteligência.

Então, ainda com a cabeça quente pela decepção, vou tentar ser o mais analítico possível. Em primeiro lugar, vem a indignação pelo fato de que o orçamento do Fluminense (e inclua-se aí a verba da Unimed, as receitas com vendas e empréstimos de jogadores, o fato de que o Vasco não tem patrocínio na camisa e vive à míngua de recursos e na base dos salários atrasados), o orçamento do Flu, como dizia, é muito maior hoje do que o do Vasco.

Quando a equação era invertida, ou seja, o Vasco tinha todo o dinheiro do Bank of América, enquanto o Flu patinava na terceira divisão, sabíamos os resultados dos jogos antes mesmo que as equipes entrassem em campo.

O Eurico cansou-se de humilhar o Fluminense e a nossa torcida, berrando aos quatro ventos que não pagaria bicho pela vitória, porque vencer um time da terceira divisão era obrigação do Vasco.

Bom, eu me preparei para um longo histórico sobre os vermes que dirigiram o Flu ao longo dos anos 90. Em respeito aos tricolores que leram até aqui, não vou fazê-lo. Todo mundo conhece essa história de trás para frente, como nossas melhores tradições foram jogadas fora, no lixo.

Vamos ao campo de jogo, que é o que interessa. Não acredito em tabus, em superstições, em escritas, em bobagens místicas. No futebol, como na vida, os resultados são conseqüência de talento, trabalho, inteligência, estratégia, planejamento, sabedoria. Se o trabalho for bem feito, se houver competência, planejamento, seriedade, os resultados são positivos, mesmo que o talento não seja grande. Sem suor e esforço, a derrota é certa.

E, vamos ser realistas: nesses quesitos, inteligência, tática, estratégia de jogo, planejamento, o Vasco deu um banho no Flu. O elenco do Flu é infinitamente melhor do que o do Vasco, o time titular é melhor, o banco de reservas do Flu é melhor, as condições de trabalho são melhores, os salários são melhores, assim como o pagamento em dia é certo no Flu # e não é certo em São Cristóvão. Por que, então, fomos eliminados por eles?

Vamos examinar: Tudo no Vasco foi melhor planejado do que no Flu. Nossos dirigentes remunerados são aprendizes de feiticeiros. Por favor, claro que não estou dizendo que o Vasco deve ser um modelo para o Flu. Nada disso. O Vasco não é modelo para ninguém. O Eurico deveria estar preso e afastado do futebol.

O que quero dizer é que os planejadores do futebol no Fluminense precisam ainda aprender muito, precisam ser menos arrogantes. O nosso técnico, o Osvaldo, é muito bom em alguns aspectos, mas é péssimo em outros. Não é implicância com ele, mas vamos convir: ele não evoluiu, ao contrário do Renato.

Qualquer tricolor que conheça um pouquinho de futebol já sabia como o Vasco viria para o jogo: recuado, com marcação dura, com um contra-ataque organizado, apostando nas eventuais falhas do sistema defensivo do Flu. Jogar no erro. Claro! Ou seja: o fundamental, para o Fluminense, era não sofrer gols. E tentar marcar um ou dois. Um jogo de paciência.

Mas aconteceu o que todos nós temíamos. Todo mundo se mandou para o ataque, de maneira desorganizada, em bando. A cada escanteio a nosso favor, eu temia pelo pior: o contra-ataque do Vasco, já que todos os nossos jogadores de defesa iam para a área deles.

Arouca mancando e sem mínimas condições físicas não poderia nunca entrar em campo. É aí que eu não agüento o Osvaldinho! Tem que surpreender! Sei lá, escalar o Pitbull de cara, tentar algo que surpreendesse, não sei exatamente o que, não sou técnico, apenas um palpiteiro. Os Thiagos só poderia passar do meio de campo como jogada de surpresa, não a todo momento, como fizeram.

O que é que nós víamos? Exatamente a repetição do jogo anterior: todo mundo do Flu no ataque, inclusive os zagueiros, o time perdendo gols, todos marcados, sem espaço e abrindo enormes brechas para o Vasco no nosso sistema defensivo. O Vasco, por sua vez, extremamente bem armado defensivamente, e com contra-ataques bem treinados. O Flu cumpriu exatamente o script que o Renato Gaúcho queria.

Nos escanteios e faltas no ataque, a nosso favor, o Vasco recuava todo mundo. Quando o passe ou o cruzamento saíam errados, ou eram cortados, eles saíam na base dos toques de primeira de Ramon, Morais, sei-lá-mais-quem, show daquela mulambada deles, até os pés do Valdiram ou do Edílson. Estava na cara que iríamos sofrer um gol de contra-ataque. Só o Osvaldinho não sabia.

Pra que avançar os dois Thiagos ao mesmo tempo, além do Marcão, e deixar lá atrás apenas o Arouca com uma perna só? Aliás, por que escalar o Arouca sem condições de jogo, em uma partida pegada, mordida, física, exigente, duríssima?

Outro erro: o maldito lançamento longo dos zagueiros com o Vasco totalmente recuado. Lançamento longo só cabe nos contra-ataques. O resultado é que nossos zagueiros cansaram-se de jogar bolas longas na cabeça dos zagueiros do Vasco ou no peito do Tuta. A bola batia e voltava, como em uma parede.

Vou escrevendo ao sabor das emoções e ficando cada vez mais indignado, quando a intenção inicial era analisar racionalmente a derrota. O Vasco sobrou no aspecto físico? Não. Acho até que o Flu correu mais. O problema foi tático (eles tinham sempre três na disputa de cada bola) e organizacional. O Flu era um bando. Eles estavam organizados.

Antes que os falsos #experts# em preparação física dêem seus pitacos, esclareço que o preparador físico deles, do Vasco, foi corrido do Flu como incompetente, pelos #entendidos# no assunto, os tais corneteiros-conselheiros, que acham que só o Paulo Paixão no país entende do riscado. É o Alexandre Mendes, que trabalhou no Flu e foi levado para o Vasco pelo Renato Gaúcho. Paulo Paixão é tão bom ou tão ruim quanto ele. Esqueçam o Paulo Paixão!

Paulo Paixão é tão bom quanto Alexandre Mendes, ou sei lá quem que esteja no Flu hoje, o Carlito. Os métodos são os mesmos, é tudo igual. Todos fazem os mesmos cursos, sabem as mesmas coisas. A diferença é planejamento, motivação, organização, metas, ambição.

E isso tudo o Eurico, um gangster, que deveria estar preso, tem sozinho e sem dinheiro, muito mais do que a turma do Flu, com suas gravatinhas, sua arrogância, suas entrevistas de duas horas para escolher técnico.

Nenhum clube no Brasil usa um excelente orçamento como o do Flu de forma tão tacanha. Posso até estar sendo leviano, com afirmações sem base na realidade. Mas não é aceitável um Rogério, um Tuta, por exemplo, com os salários que ganham, serem tão impotentes em campo. Parecem veteranos do aterro jogando contra jovens profissonais.

Apoiei o quanto pude o Osvaldo. Mas não é possível ver um time superior tecnicamente fazendo #ligação direta# o tempo todo. Os Thiagos dando bicões para o peito do Tuta ou para as cabeçadas dos horrendos beques do Vasco. Nenhuma troca de passes no meio campo, nenhuma jogada ensaiada. Só chutões ou tentativas desesperadas. As bolas batiam no peito do Tuta e voltavam quatro metros atrás, para que os volantes do Vasco jogassem. Ou então, os beques deles rebatiam, repetindo o que escrevi lá atrás.

Nenhuma jogada de triangulação pelos lados do campo. Nenhuma troca de passes rápida, nenhuma jogada ensaiada, nenhuma maturidade em campo, nada. Só correria, bicões para a frente, Pet batendo escanteios e faltas nas mãos do goleiro ou nos pés dos beques.

Cada um por si. Nenhuma estratégia, nenhuma tática, nenhum conhecimento do time do Vasco, nenhum sinal de inteligência, de mudança de tática ou de estratégia. Apesar de termos jogadores inteligentes e tecnicamente superiores.

Por isso, nota zero para o Osvaldinho. Não parece ter o calo da vitória. Escalar o Arouca neste jogo, além disso, foi de enorme irresponsabilidade. Queima o jogador, arrisca-se a agravar a contusão do menino. Tudo errado. O cara não sabe surpreender, não sabe usar o elenco que tem nas mãos.

Ao contrário, o Renato, que tantos tricolores maldizem, demonstrou ter aprendido um monte de coisas com as derrotas que sofreu e as porradas que levou. Além disso, é um grande motivador. Não é o meu técnico dos sonhos, mas palmas para ele! Mereceu vencer, trabalhou melhor do que o nosso Osvaldinho.

Adiantou poupar o time no domingo passado e sofrer a derrota vergonhosa para o Figueirense, lá em Santa Catarina? Três pontos irrecuperáveis, que vão nos tirar uma melhor colocação final no Brasileirão. Alertamos aqui, foi burrice! O futebol brasileiro vai parar por causa da Copa do Mundo!

Poupar para quê, para que os jogadores vejam a Copa em casa, sem dores musculares? Os erros se repetem em série, anunciados, de forma previsível, no futebol profissional. Não aceito mais que jogadores como Rogério, Tuta e Petkovic, por exemplo, com os salários que ganham, joguem de maneira tão ridícula. É preciso uma cláusula de desempenho nos contratos. Sei lá. Domingo, recomeça o sofrimento.
Vasco 1 x 1 Fluminense: Fernando Henrique; Thiago Silva, Thiago e Roger (Adriano Magrão); Rogério (Evando), Marcão, Arouca (Cláudio Pitbull), Petkovic e Marcelo; Tuta e Lenny.
Gol: Petkovic, de pênalti, a um minuto do segundo tempo,

Cezar Motta - cezar_motta@uol.com.br