É sempre bom ver uma vitória do Flu, e com gols de garotos. A gente vibra, é ótimo, as crianças gostam, a torcida local do Flu comemora.

Mas, no duro, não gostei do time. Só vencemos porque o Figueirense piorou muito em relação àquele time do Mário Sérgio. Claro, o Marão é muito mais treinador do que o Alexandre Gallo.

Vencemos também porque um monstro entrou em campo com a camisa do Fluminense, e ganhou TODAS as bolas que disputou, atuou como uma verdadeira fera, com raça, dignidade, inteligência, senso de cobertura, aplicação, respeito à camisa e à torcida, preparo físico perfeito, reflexo, categoria.

O nome deste excepcional jogador é Roger, o melhor em campo, assim como já tinha sido o herói do Flu na conquista da Copa do Brasil no mesmo Estádio Orlando Scarpelli.

Ainda bem que o Flu apostou em Roger e o manteve no elenco até dezembro do ano que vem. Arrebentou neste jogo contra o Figueira, mais uma vez.

Mas vimos, no primeiro tempo, um time mal escalado, mal treinado, com três zagueiros. Tudo bem, desde que tivéssemos alas, boas jogadas pelas laterais, a fim de compensar os três beques e mais três volantes: Fabinho, Maurício e Arouca.

Thiago Neves ficava na ligação, mas caía demais pela esquerda e ainda está abalado e jogando pedrinhas, jogando nada. No ataque, isolado, solitário, Adriano Magrão.

Foi um guerreiro, procurou jogo, recuou, brigou, mas fica difícil pra um jogador de pouca mobilidade como ele, um típico centro-avante de referência, ficar tão isolado. Jogo feio, bicões para o alto, nenhuma jogada articulada.

Outro monstro foi o goleiro Fernando Henrique, autor de defesas sensacionais, uma delas em seqüência, no primeiro tempo. Defendeu o primeiro chute, cara a cara, no canto, e ainda defendeu o segundo chute em rebote.

Tudo bem que o atacante do Figueira mostrou uma lamentável ruindade, mas foram defesas difíceis, sim senhores.

Além dessas duas defesas, FH fez mais duas dificílimas, sendo que uma delas foi em um chute frontal do zagueiro Chicão, bola rasteira, quicando, no canto, e cheia de veneno. FH, corretamente, espalmou para o lado, demonstrando velocidade e reflexo.

Está crescendo muito o nosso goleiro, de apenas 23 anos. Gostem ou não alguns tricolores de baixa auto-estima.

Mas Gabriel continuou dormindo, Júnior César fez uma das mais lamentáveis apresentações de um jogador profissional que já vi # errou até mesmo cobrança de lateral, que foi revertida pelo péssimo Carlos Eugênio Simon.

Como péssimo, perguntarão alguns ingênuos, já que o Flu venceu?? Porque ele não deu um gol do Júnior César no começo do jogo (o nanico chutou na cara do gol, a bola bateu no travessão, quicou dentro do gol e saiu).

Foi péssimo o Simon porque não expulsou o André Santos no fim do jogo, quando impediu um contra-ataque do Flu ao aplicar um golpe criminoso de caratê no joelho do finíssimo do garoto Vinicius Tartá, que partia em velocidade.

O Simon deixou ainda de dar um pênalti claro no Tartá. Thiago Silva arrancou pela direita e rolou para o Tartá, que limpou e chutou. O zagueiro, em vez de bloquear o chute, solou a canela finíssima do garoto, chegando a dar a impressão de fratura.

O Simon inverteu faltas, marcou absurdos, como uma #falta# inexistente do Roger aos 43 minutos, na linha da área do Flu. É um patife, um sem-caráter, um canalha, um fraudador de resultados, que se dispõe a fazer o trabalho sujo, como ajudar o Curintcha a vencer o mesmo Figueira no domingo passado.

Não interessa. O que interessa é que foi uma boa vitória, embora o Figueirense tenha tido uma atuação ridícula. Seus jogadores não conseguiam dominar as bolas, erravam tudo, falhavam de forma lamentável, tudo sob as vaias da própria torcida.

O Flu também errou muito, principalmente enquanto o jogo estava equilibrado, Thiago Neves errava tudo em campo, e Adriano Magrão estava isolado no ataque.

As alterações ajudaram o Flu, porque o Figueira se desesperou ainda mais, os que entraram não ajudaram nada, enquanto os garotos Tartá e Leo Itaperuna, mesmo não enchendo os olhos de ninguém, pelo menos correram e se deslocaram, ao contrário de Fabinho e Thiago Neves.

Quando Soares entrou, vi que iríamos vencer. O Figueira estava em desespero, saindo em peso, com os zagueiros, como Asprilla, Chicão e Felipe, aquele grandão, saindo de qualquer maneira para o ataque.

Os espaços começaram a sobrar, e em um contra-ataque rápido, a bola foi cruzada da direita para Tartá, já dentro da área.

O garoto ajeitou e bateu de canhota no ângulo. Um gol, em tese, fácil de fazer, porque ele praticamente não sofreu combate, recebeu livre e com espaço.

Mas quem garante que o decadente Alex Dias faria aquele gol, ou o atabalhoado Somália, que já perdeu gols mais fáceis?

Eram 41 minutos. Mais pânico e desespero para o Figueirense, mais espaço para o Flu, atuação de gala de nossa defesa, principalmente do gigante Roger, um verdadeiro monstro, que não perdeu sequer uma disputa de bola. E também segurança absoluta do Fernando Henrique.

Em outra tomada de bola no meio de campo, lançamento perfeito para Soares na direita. Ele entrou em velocidade e bateu rasteiro e cruzado, com força.

O goleiro fez a defesa, mas espalmou rasteiro para o meio de área. Léo Itaperuna entrou em velocidade e, de cabeça quebrada e enfaixado, empurrou para as redes com o pé direito.

Vitória de um Flu que tem melhores jogadores e tinha mais tranqüilidade do que o Figueira. Mas não foi uma boa atuação, ao contrário. Se o adversário fosse mais qualificado, teríamos perdido o jogo.

De positivo, vimos uma excepcional atuação de Fernando Henrique, a atuação fenomenal de Roger, a boa recuperação técnica e moral do Maurício, que jogou muito bem, e pouca coisa mais. Os garotos Tartá e Léo não chegaram a encher os olhos, embora o gol do Tartá fosse muito bonito.

De ruim, algumas falhas do nosso comandante Thiago Silva, embora demonstrasse a raça e o profissionalismo de sempre, a preguiça do Gabriel, do Arouca, do Fabinho e a apatia do Thiago Neves.

E é isso. Uma coisa que incomoda no Renato Gaúcho, mas incomoda profundamente, é que ele não analisa o time nas entrevistas. Ele simplesmente elogia a si próprio.

No fim do jogo, aquela pergunta burocrática do repórter: #E aí, Renato, o time se impôs, os garotos mostraram serviço e você teve estrela, ao lançar os dois#.

Um técnico maduro, um Abel, um Muricy, qualquer outro, analisaria a atuação dos garotos, do time etc.

Mas o Renato, com aquela cara de garoto vaidoso e marrento, respondeu: #É, é estrela mesmo, eu tenho estrela há 44 anos.# Nenhum mérito aos jogadores, aos garotos, nada. Apenas a si próprio, ao próprio umbigo.

Resta agora esperar pelos reforços para a Libertadores. Precisamos de um lateral esquerdo, dois volantes de alto nível, um meio-campista indiscutível, um meia e dois atacantes, mas que sejam todos jogadores de ponta.

E vamos ver se vão ter conseqüência as denúncias de que alguns vice-presidentes do Flu estão recebendo dinheiro do clube nas próprias contas pessoais, o que significa crime, ou melhor, vários tipos de crimes.

Caixa dois, fraude fiscal etc. Tudo isso além da apropriação indébita de FGTS, Imposto de Renda e INSS de funcionários. Clube falido. É preciso apurar, e as informações dão conta de que o procurador Rodrigo Terra está em cima do lance. É preciso uma faxina na administração do Flu.

Figueirense 0 x 2 Fluminense: Fernando Henrique (10); Gabriel (5), Thiago Silva (6), Luiz Alberto (8), Roger (10) e Júnior César (0); Fabinho (3) depois Tartá (8, pelo gol), Maurício (8), Arouca (5) e Thiago Neves (2) depois Léo Itaperuna (7, pelo gol), Adriano Magrão (7) depois Soares (7).

Gols: Tartá, aos 41, e Leo Itaperuna, aos 44 minutos do segundo tempo.

Cartões amarelos: Fabinho.

Cezar Motta - cezar_motta@uol.com.br