Pelo menos, é possível, depois de muito tempo, comentar um jogo do Flu e dizer alguma coisa diferente. Sim, porque, até agora, a única coisa a dizer era que o time havia #jogado a toalha#, #entregue a Deus#, #desistido de jogar# etc.

Desta vez, não. Os jogadores demonstraram vontade de vencer, correram, tentaram. Perdemos por causa de duas falhas da nossa defesa que nem mesmo um time de várzea comete. No primeiro gol deles, o Leandro cruzou e o Rissut se afastou bastante para não atrapalhar o Aluisio.

Talvez o Rissut quisesse aprender a matar no peito, e por isso afastou-se para olhar. Mas escolheu um péssimo professor, porque o Aluísio é tão ruim que mal conseguiu dominar. Todo desajeitado, matou mal e chutou pior ainda. Mas a bola, mesmo fraquinha, quicou e entrou, mansamente. FH também bobeou. Esperava uma porrada, e veio um peteleco.

No segundo gol deles, outro vexame da defesa. Todo mundo olhando para o dia de ontem e o Leandro (ah, que saudade!) colocou-se bem, livre, e matou o FH.

Mas até que começamos bem. O São Paulo deu a saída, o Flu tomou a bola, o Ulisses (que é ótimo jogador) foi ao fundo e cruzou para Tuta marcar. Até Horcades faria o gol, de tão fácil. E o Flu continuou com boa pegada, com disposição.

O problema é que há muitos jogadores sem condições técnicas de jogar em clube de primeira divisão. No time deste sábado, por exemplo, havia Rissut, Romeu, Beto, além de outros sem condições físicas, como Petkovic, Pedrinho e Tuta. Fica difícil, assim, vencer um time bem armado e entrosado como o São Paulo.

A partir do segundo gol, no entanto, o Flu partiu com decisão para tentar o empate. Mas faltaram força física e gabarito técnico. Um jogador como o Beto, com 1,63m, só pode ser profissional de primeira divisão se for um talento indiscutível, um Maradona, um Romário, um Juninho Paulista de cinco ou dez anos atrás.

Como o pobre Beto não é nada disso, o que vemos são cenas patéticas de um peso-pluma que tropeça na bola e não consegue uma jogada sequer, não vence uma disputa, não cria uma situação de gol.

Já com o Tuta ocorre exatamente o contrário. Não tem mais arrancada, não tem velocidade, não consegue correr. Não consegue pular e disputar na cabeça, apesar do tamanho de peso-pesado.

Além das dificuldades físicas e atléticas, o nosso Tuta não sabe finalizar. Quando estava um a um, ele recebeu uma bola livre, perto da marca do pênalti. O Horcades, de novo, não perderia. Bastava chutar, e dava até tempo de ajeitar para o pé certo, o direito.

Como sabe que tem a velocidade de um cágado, e que poderia ser desarmado, o Tuta resolveu bater de primeira, de chapa, com a canhota. Qualquer menino de sete ou oito anos chutaria mais forte. Saiu um peteleco próximo ao corpo do Rogério Ceni. Mole, mole para o marqueteiro.

No segundo tempo, o Flu veio ainda mais aguerrido. E tão confuso quanto no primeiro tempo. A falta de talento e de mínimas condições de Beto e Tuta, e a total decrepitude do Petkovic, no entanto, continuarem impedindo a reação.

O Pet pensa que ainda é o mesmo jogador. E, aí, quer dominar a bola em nosso meio de campo e driblar. Não consegue, porque está fraco e lento como uma bicicleta velha. Desarmes, só consegue quando avança pra tomar a bola do Rissut, do Ulisses, do Romeu. São os únicos de quem consegue tirar a bola.

E aí confunde o jogo, torna lenta a saída de bola, tira a confiança dos colegas # confiança que, aliás, já não é lá essas coisas.

Não fizemos um só gol de falta em todo o campeonato, e nem em cobrança de escanteio (a não ser os dois que o Pet fez direto, os tais gols olímpicos).

O usual é o Pet cobrar o escanteio fraco, no pé do primeiro defensor, na linha da pequena área. E tome contra-ataques, porque nossos zagueiros geralmente vão para a área.

Outro defeito grave: três zagueiros, mais o Marcão e o Romeu, com o Rissut ou o Rogério pela lateral, tudo isso impede que o Flu tenha saída de bola ou chegada no ataque. É uma lentidão mortal.

Sobra apenas para o Pet, que recua e não tem forças para armar. Para ajudar, o Tuta recua e começa a combater também no meio de campo. E aí ficamos sem ataque. O Flu é um time lento, pesado, sem alternativas de contra-ataque rápido, sem criatividade.

E com falhas terríveis de marcação, apesar do fato de que os três zagueiros que atuaram contra o São Paulo são bons técnicamente. Mas a cada jogo temos uma defesa e um time diferentes. A insegurança, assim, é geral.

Enfim, o PCGosmão tirou o Ulisses, machucado (como se machucam os jogadores do Flu!), e pôs o Henrique. Roger foi para a lateral. Lenny entrou no lugar de Romeu e Pedrinho no lugar do Anderson.

E aí tivemos mais um jogador sem condições físicas de atuar entre profissionais. O Pedrinho, visivelmente, tem medo de jogar. Medo de se machucar.

Pedrinho evita as jogadas, foge das divididas, joga preocupado. E nem o Pelé conseguiria jogar assim, com um medo inconsciente.

O São Paulo se fechou, Muricy pôs o Ramalho, um volante pegador, e o zagueiro Alex Silva. Houve chances de empate, mas nosso time é ruim demais. Será milagre escapar do rebaixamento.

E, se atentarmos para a última rodada, Ponte Preta e São Caetano terão jogos contra Atlético Paranaense e Flamengo. Ou seja, se dependermos de derrotas deles, PP e SC, na última rodada, vamos cair.

Temos que chegar aos 45 pontos o mais rápido possível, se é que vamos chegar algum dia até dezembro.

O problema é que já desperdiçamos jogos cuja vitória seria obrigatória, como Fortaleza e Santa Cruz no Maracanã, por exemplo.

Fluminense 1 x 2 São Paulo: Fernando Henrique (5); Thiago Silva (6), Anderson (6) depois Pedrinho (sem nota) e Roger (6); Rissut (4), Marcão (5), Romeu (5) depois Lenny (sem nota), Petkovic (5) e Ulisses depois Henrique (sem nota); Tuta (5) e Beto (4).
Cabem algumas explicações: Rissut tem rendido mais do que Rogério, e leva nota 4 apenas pela incrível falha no gol de Aluisio. Ulisses vinha fazendo uma boa partida. É firme na marcação, ataca razoavelmente bem e é duro no combate.

Cezar Motta - cezar_motta@uol.com.br