Por favor, amigos tricolores, não me cobrem coerência, mas meu estado de espírito em relação ao time é muito diferente daquele dos dois jogos anteriores, que vencemos, contra Patético-PR e Vitória.

Tenho que ser realista e transmitir o que realmente penso sobre as condições e a realidade do Fluminense, que vive exclusivamente de sua torcida, de sua camisa, de sua tradição e da verba da Unimed.

Tenho que me render à completa falta de organização tática do time, à bagunça que é o clube, à cabeça distante de alguns de nossos melhores jogadores, à falta de estrutura para treinamento deste que é um dos melhores elencos do país.

Perdemos e levamos show de bola do Parmêra, um time muito inferior ao nosso, porque o nosso time não tem esquema tático e nem organização # o que eu vinha dizendo mesmo nos melhores momentos, tanto na Libertadores quanto nas duas últimas vitórias.

Esses jogadores do Parmêra, desconhecidos, inexperientes e medíocres, levam baile de times mais bem treinados do que o nosso, como o do São Paulo.

Eles trocam passes, valorizam a posse de bola, articulam jogadas, enquanto outros mais habilidosos e de altíssimo nível técnico como Thiago Neves, Conca, Dodô, são obrigados a correr como loucos atrás de bolas perdidas, procurando consertar a desordem que é o time.

Perdemos, e vamos perder para outros times organizados taticamente, mesmo que sejam ruins.

Porque o nosso time não tem organização tática, não tem estrutura para treinamento, não tem diretoria, não tem metas, objetivos, é um barco à deriva.

Dependemos do esforço individual e da improvisação de nossos ótimos jogadores. Quando eles desanimam, ou não conseguem se articular, e quando o adversário é bem treinado, sofremos muito.

Os tricolores que me lêem precisam saber: depois da perda da Libertadores, o bobo da corte, aquele que nos mata de vergonha e humilha a história e a camisa do Fluminense, Bob Horcades, e o inacreditável e absurdo Tote Menezes (para quem não sabe: vice-presidente de futebol do Fluminense), tiveram reunião com o presidente da Unimed, Celso Barros, na casa deste.

Os dois bobos-alegres, tristes e lamentáveis figuras, exigiram de Celso Barros a demissão de Renato Gaúcho e de Branco.

Celso Barros disse que não concordava, aceitaria em último caso, mas acrescentou que, sendo assim, a Unimed não pagaria mais o salário do técnico que eles escolhessem. Preferia ficar com Renato Gaúcho.

A cena, descrita assim de forma sucinta, sem detalhes, mostra bem um quadro de bagunça. Ao que consta, nesta semana Branco viajou para a Europa em busca de reforços. Ora, se Branco, absurdamente incompetente, não consegue contratar ninguém no Brasil, como conseguirá na Europa??

O Parmêra não é exemplo e nem modelo para ninguém, mas tem um centro de treinamento com quatro campos de boa qualidade, gramados bem cuidados, ginásio de musculação na chamada #Academia de Futebol#, no bairro paulista da Barra Funda, metas e objetivos.

O Fluminense, para quem não teve a chance de ir ao Rio e ver o treino antes do jogo contra a LDU, treina no mesmo pasto esburacado em que treinavam Preguinho, Pinheiro, Veludo, há 50 ou 60 anos. Uma vergonha.

A saída é treinar apenas jogadas de bola parada, cobranças de falta, chutes a gol de longa distância. Sim, porque não há como treinar jogadas ensaiadas, contra-ataques, passes rápidos, bola rolando no chão, em um campo de várzea, cheio de buracos e carrapichos.

Não adianta a Unimed investir uma fortuna em salários se os jogadores não têm onde treinar, não têm objetivos, comando, diretrizes. Não se sentem como parte de uma instituição forte.

E o treinador também não é atento a detalhes, não observa os adversários, não sabe direito o que fazer com o elenco que tem nas mãos.

Vou citar aqui os clubes de porte médio e os pequenos que têm melhor estrutura de treinamento do que o Fluminense: Goiás, Figueirense, Juventude, Gama (DF), Vitória, Paraná, Coritiba. Esses eu conheço razoavelmente, e treinam em condições muito melhores do que o Flu.

Falar em São Paulo, Cruzeiro, Patético-PR, Atlético Mineiro, Parmêra, Inter, Grêmio, aí já seria debochar. Todos têm CT moderno, ginásio de musculação, área de repouso para jogadores, pelo menos quatro campos em excelentes condições, piscina e área de fisioterapia.

Nesse quadro de bagunça, de desmando, de improvisação, de desorganização que impera no Flu, Renato Gaúcho é o técnico ideal.

Sim, porque não exige melhores condições de trabalho, não é um estudioso, tem preguiça de planejar e se reciclar, e é um bom motivador, bom para competições mata-mata, como Copa do Brasil, na base do jogo a jogo.

Quando se trata de competições de tiro longo, como um Campeonato Brasileiro, Renato não funciona tão bem. Porque não planeja, não é bom de estratégias de longo prazo, despreza uma boa retaguarda técnica e científica, prefere a improvisação.

Outro problema do Renato é que não aperfeiçoa jogadores, não corrige deficiências crônicas como a do Júnior César, que é um desperdício de capacidade física e até de uma certa habilidade. Não burila jogadores de ótimo potencial como o Tartá.

Até os buracos da Avenida Pinheiro Machado sabem que Júnior César chega fácil à linha de fundo, tem velocidade, preparo físico, raça, mas não pensa, não raciocina, não sabe cruzar, e nem tem calma para encontrar a melhor solução quando chega ao fundo.

Um técnico mais detalhista e com melhores condições de trabalho já teria corrigido os defeitos do Júnior César, ensinado o nosso Anão a ter calma quando chega ao fundo, a olhar para onde vai lançar a bola, a cruzar corretamente.

O que vimos neste jogo lamentável contra o Parmêra foi Washington em nossa própria área, ou como um volante, marcando Valdívia e Kleber, ou pela ponta direita.

Vimos o canhoto Conca correndo como um louco atrás de Maicossuel em nossa defesa, como se fosse um lateral direito.

Vimos, como sempre, o nosso jogador mais perigoso, Thiago Neves, dando carrinhos e cobrindo Júnior César e Rafael pelas laterais, marcando lá atrás, em vez de jogar pertinho da área, lá na frente, fazendo o que sabe fazer.

Por que? Porque o time não tem esquema, os jogadores não têm papel definido em campo, são obrigados a improvisar, a correr e a gastar muito mais energia do que deveriam.

Vemos a cada jogo um time que não consegue sair jogando, erra logo o segundo passe, vive de chutões para a frente, a esmo, e que é marcado com facilidade por qualquer time ruim que tenha um técnico observador.

Sim, porque qualquer técnico pé-de-chinelo sabe quais são as nossas falhas, conhece a nossa falta de esquema de jogo.

Nossa única jogada de gol é a bola parada de Thiago Neves na cabeça de Washington, Luiz Alberto ou Thiago Silva. Até o técnico do time dos Bombeiros de Brasília, o Risada, sabe disso.

Fora disso, vemos Thiago Neves dando carrinhos em nosso campo de defesa, assim como Washington, Conca, e o Dodô vindo até o circulo central buscar bola. Claro que é impossível chegar à área adversária, criar chances de gol.

Alguém aí seria capaz de me dizer o que quer o Branco, qual a estratégia dele, o que ele planejou para o Flu neste campeonato? Sabem se ele pretende contratar alguém, se conhece as carências do time?

Eu sou capaz apenas de dizer que ele quer, de qualquer jeito, receber judicialmente o dinheiro que os diretores do Flu, em 1994, roubaram dele. E roubaram mesmo!

Fora isso, não sei mais. O que o Renato Gaúcho combinou com os jogadores para este jogo contra o Parmêra, ou para o jogo contra o Figueirense no domingo? Duvido que alguém saiba, porque nem ele sabe. Não há planos, estratégias. Não há tática, nada...

Por isso, precisamos homenagear, todos os dias, jogadores como Fernando Henrique, Thiago Silva, Luiz Alberto, Conca, Thiago Neves, que seguram a onda mesmo sem esquema de jogo, sem estratégia de curto ou longo prazo, sem direção, sem orientação, sem estrutura, sem nada.

Desculpem, amigos, a mensagem pessimista. Quando leio nos jornais a nossa escalação, fico otimista.

Mas quando me lembro do lugar em que treinam os jogadores, dos homens que #dirigem# o Flu, da falta de treino adequado, da bagunça, da falta de objetivos, metas e projetos, aí o otimismo murcha.

A única coisa que sou capaz de garantir hoje, triste com essa derrota lamentável e vergonhosa, é que o Fluminense não tem a menor condição de ser rebaixado, porque tem o melhor elenco do Brasil.

Mas só isso não é suficiente. E, cá pra nós, não agüento mais perder do Parmêra...

Parmêra 3 x 1 Fluminense # Fernando Henrique (8); Rafael (5), Thiago Silva (7), Luiz Alberto (7) e Júnior César (6), Fabinho (6) depois Tartá (6), Arouca (5), Thiago Neves (7) depois Marinho (sem nota) e Conca (6); Washington (6) e Dodô (6).

Cezar Motta - cezar_motta@uol.com.br