SEMPRE FLU

Foi emocionante, empolgante, o Josué está de parabéns mas, analisando friamente, os defeitos do time são terríveis.

Houve, claro, uma evolução enorme em matéria de raça, de empolgação, de força de vontade. O time não foi aquela apatia osvaldiana com cara de bunda, que ninguém agüentava mais.

Vencemos, e foi sensacional, mas se o time do Cruzeiro fosse melhor, mais contundente, teríamos perdido o jogo ainda no primeiro tempo.

O Josué tem um enorme crédito de confiança, mas é preciso que ele se convença de que Ângelo não dá, de que o Bruno como opção antes do Fernando ou do Radamés, tudo isso é um erro.

Todos nós sofremos demais com o enorme buraco entre a defesa e o meio de campo no primeiro tempo. Víamos o Wagner, o não-sei-mais-quem do Cruzeiro, levando a bola do meio de campo até a nossa área, e o Arouca, o Marcão, o Juliano, correndo atrás deles, fazendo faltas por trás, levando cartões amarelos.

Marcação forte no meio de campo não é assim. Quando o marcador corre atrás, está tudo errado. O marcador tem que encarar o marcado de frente, ou impedir que ele domine a bola.

Só vencemos o jogo na base da empolgação, da raça, porque taticamente o Flu continua sem existir. Claro que é cedo para cobrar isso do Josué. Acredito e confio que ele tenha percebido que é preciso treinar transição.

Não adianta 3-6-1 se não há transição rápida. O que há são bicões dos zagueiros do Flu para o Tuta, o que facilita a vida dos zagueiros adversários. Ou o zagueiro corta de cabeça, ou o Tuta não consegue dominar a bola, que bate nele como se fosse uma parede.

Outro problema no jogo deste domingo foi a baixa estatura da zaga. Marcão e Roger não são zagueiros de origem. Um era volante, e o outro, lateral esquerdo. Foram (e são) excelentes contra o Cruzeiro, e são grandes e indispensáveis jogadores, mas o segundo gol que sofremos foi um tributo que pagamos à baixa estatura deles. A zaga ideal continua sendo os dois Thiagos e o Roger. Com o Marcão de volante.

É difícil criticar jogadores como Tuta, Petkovic, Pitbull e Rogério em um jogo como o de hoje, em que foram guerreiros. Mas fica claro que o ritmo deles não é mais de uma competição de grande exigência física como o Campeonato Brasileiro.

O Pet hoje lutou, jogou com vontade, foi interessado, mas as limitações físicas são evidentes. Assim como as do Tuta, do Rogério. Já o Pitbull tem vontade e juventude, mas o biótipo não ajuda, e nem a técnica. Pesado, pernas curtas, lento, tem apenas garra e um bom chute.

Primeiro tempo: Flu todo recuado, porque o grande problema tem sido a defesa. O importante era não tomar gols. E marcamos, graças ao talento e à motivação, à garra, do Marcelo. Golaço! Criou a jogada pelo meio, e quando o Tuta foi desarmado, tomou a bola do zagueiro e chutou sem ângulo.

Vencemos, e méritos para o Josué, que conseguiu dar vontade ao time. Mas continua um velho problema: o time se defende bem, mas não há um ligação rápida com o ataque, com passagem pelo meio de campo. E como a bola volta rápido, não há ligação com o ataque, sofremos contra-ataques terríveis.

Tudo bem, o Juliano não teve uma boa atuação hoje. Foi substituído no intervalo pelo Cláudio Pitbull, que passou a fazer o mesmo papel do Juliano, sem a mesma habilidade, e sem a mesma mobilidade.

O grande mérito do time foi não desistir nunca, lutar por cada centímetro do campo, acreditar sempre na possibilidade de virada. E aí, tiro o chapéu para guerreiros como Marcão, Roger (excepcional, como sempre).

Falta muito ainda. Torço e aposto no Josué. Não sei se foi a presença dele no comando, ou a pressão da torcida e do Celso Barros. Mas o time mostrou maior motivação, vontade de vencer.

O fato é que ninguém agüentava mais a pachorra, a apatia, a preguiça do Osvaldinho. As decisões erradas que tomava. A vaidade.

Foi uma boa vitória, que nos coloca novamente no páreo, em condições morais e psicológicas de aplicar um cacete no prostíbulo chamado Curintcha, nesta quarta-feira.

Perdemos o Marcelo, que vai pra Oslo, merecidamente, vestir a Amarelinha. E, cá pra nós, o Marcelo neste domingo, mostrou por que o Dunga o chamou. Joga demais. Tem só 18 anos. O gol que marcou foi antológico.

Quero, aliás, lembrar aos amigos que também o Lenny tem só 18 anos, que o Juliano tem 20 (e ficou um ano afastado por causa de uma cirurgia), que o Arouca tem, também, apenas 20, que o Thiago Silva tem 21. Vai ser difícil manter essa turma.

Assim como fico insuportável com derrotas inaceitáveis, fico também empolgado com vitórias na base da garra, como a de hoje. Por isso, estou de novo acreditando no título.

Mas há defeitos a corrigir: muitos chutões da defesa para o ataque, falta de padrão de jogo, o que facilita a vida dos zagueiros adversários, falta de ligação no meio de campo, marcação errada no meio-de-campo (o que provoca faltas do Arouca, do Juliano e do Marcão, que são obrigados a correr atrás do adversários), lentidão no contra-ataque.

Cruzeiro 2 x 3 Fluminense: Fernando Henrique (8); Marcão (7), Thiago (7) depois Beto (5) e Roger (8); Rogério (5), Ângelo (5) depois Romeu (5), Arouca (6), Petkovic(6), Juliano (5) depois Pitbull (6) e Marcelo (9); Tuta (6).
Cartões amarelos: Juliano, Thiago, Arouca, Marcão, Pitbull e Marcelo.
Gols: Marcelo (golaço!), aos 25 minutos do primeiro tempo; Roger, aos 25 e Tuta, aos 45 do segundo tempo.