Aquela maravilhosa torcida, linda, colorida, com famílias, crianças, mulheres belíssimas, não merecia nada diferente dessa vitória mágica, épica, ciclópica, avassaladora, homérica, para matar de raiva todos os secadores, principalmente os falsos jornalistas que passaram o dia a enaltecer a #invasão argentina# do Rio, a #Fla-Boca# e outras aberrações genéticas e cérberos de última hora.

Para eles, antiéticos e torcedores vulgares, o Boca Juniors era o Brasil na Libertadores, falavam apenas em Riquelme, Palacio, no #imbatível# Boca, analisavam jogador por jogador do Boca, como se conhecessem profundamente o time argentino, que jogaria sozinho no Maracanã, porque não havia adversário. O Fluminense? Nada. Ia apenas ser mais um sparring para o Boca, para felicidade deles, já eliminados.

Mas este time tem espírito, caráter e jeito de campeão, mesmo depois de um primeiro tempo em que jogou assustado mais com a fama do que com a bola do Boca. Inesquecível também a festa da torcida, que teve até a volta de Chico Buarque no papel de torcedor do Flu, ele, que havia decretado a morte do Tricolor no fim do século passado.

A nossa torcida, a melhor e mais linda do mundo, deu mais um show de entusiasmo, criatividade e inteligência, com enormes bandeiras com rostos de Chico, de Cartola (que faria cem anos se estivesse vivo), do imortal Nelson Rodrigues, homenagens justíssimas que só a torcida do Flu é capaz de fazer # porque, também, só nós temos torcedores assim.

Fernandaço Henrique, o melhor goleiro do Brasil, calou a boca até dos tricolores que insistem em torcer contra ele, de forma masoquista. Fechando Henrique. Dupla de zaga perfeita, disparado a melhor do Brasil, principalmente Thiago Silva, que é a personificação em campo da nossa torcida e de toda a história gloriosa do Flu.

Não importa se o Flu se encolheu no primeiro tempo. Em nenhum momento deixamos de acreditar na vitória, graças à capacidade de reação do nosso time, ao espírito guerreiro e vencedor de alguns jogadores.

Mas a marcação não existia, os jogadores do Boca desfilavam livres por todo o primeiro tempo e só encontravam resistência quando esbarravam em Thiagaço Silva e Luiz Alberto # e, principalmente, no paredão Fechando Henrique.

Quando, finalmente, tomamos o gol que o time insistia em querer sofrer, aí sim, surgiu o verdadeiro Fluminense, como o lutador de boxe que precisa antes apanhar, para só então massacrar o adversário.

A entrada de Dodô no lugar de Arouca nos devolveu o #punch#, porque o solitário Coração Valente passou a ter com quem dividir a responsabilidade de prender a bola na frente e guardá-la nas redes. Se Washington é mortal nos cabeceios e nas finalizações, Dodô tem o talento com os pés, a habilidade de dominar a bola e executar lindas jogadas sem ser desarmado.

Dodô recebeu, passou por dois milongueiros e foi derrubado perto da linha da área. Todos os tricolores, vivos e mortos, tiveram a certeza: gol de Thiago Neves. Para surpresa de todos, o Coração Valente meteu o joanete no balão, que fez uma curva caprichosa e fez o goleiro Peggiore (sim, porque Migliore é Fechando Henrique) dançar um tango argentino. Sem defesa.

Eles continuaram em seu ritmo, buscando o jogo com Riquelme, com seu toque de bola envolvente, enquanto o outro craque do time, Palacio, era completamente anulado por Thiago Silva e Luiz Alberto. Não via a cor da bola, o que matava o ataque deles.

De novo reluziu o talento de Dodô. Recebeu no meio de campo para um contra-ataque e viu Conca correndo pela esquerda, quase desmarcado. Dodô esticou a bola para o nosso argentino e correu para receber de volta no meio. Conca carregou e, na entrada da área, tentou o cruzamento para Dodô.

A bola bateu em Ibarra e, em vez de chegar em Dodô, desviou-se e matou mais uma vez Peggiore, que foi miseravelmente pego no contrapé. Conca merecia o gol, porque tem sido um guerreiro, muitas vezes anulando o próprio talento para ser mais um combatente no meio de campo. Dois a um, e a certeza de que a vaga estava no papo.

Mas a vitória viria com requintes de crueldade. Tínhamos ainda mais a saborear, como aquele digestivo sofisticado e delicioso depois de um grande jantar. Júnior César ganhou de Ibarra na esquerda, entrou em velocidade, esperou a saída de Peggiore e pôs...na trave!

A essa altura, o imbatível Boca, o preferido da Rede Globo e dos bobalhões do Sportv, era só desespero. Não conseguia mais sair jogando. E justamente Palácio, o segundo mais perigoso dos argentinos, tentou sair jogando pela lateral direita, arriscou um passe na frente da área e...

...Errou. Dodô tomou a bola, aplicou um drible que deve ter destruído a coluna vertebral e provocado uma hérnia de disco no paraguaio Cáceres e, com todo o seu estilo e categoria, guardou no canto esquerdo de Peggiore.

A partir daí, placar elástico, categórico, para não deixar dúvidas sobre quem será o campeão e quem é o melhor time das Américas, a partir daí, dizia, foi só festa. E que festa!! Uma festa rapidamente escondida pelas tevês, que preferiam, claro, falar do Curintcha, porque a nossa vitória deve ter incomodado e doído demais.

Três a um!! E em meio ao delírio de gritos, luzes e cores verde, grená e branco, ouviu-se um lamento: #Adios amigos, compañeros de my vida...#.
Cabe aqui apenas a escalação, com um solene dez para todos os nossos heróis # e esperemos que todos estejam no Japão no fim do ano, embora saibamos que o mais provável é que alguns sejam vendidos, tal o estado de penúria financeira do clube:
Fluminense 3 x 1 Boca Juniors: Fernando Henrique; Gabriel, Thiagaço Silva, Luiz Alberto e Júnior César; Ygor (Dodô), Arouca, Conca e Thiago Neves (Maurício); Cícero e Washington (Roger, o Senhor Libertadores).
Gols: Washington, aos 17, Conca aos 25 e Dodô, aos 47 minutos do segundo tempo.
E QUE VENHA O MANCHESTER!!

Cezar Motta - cezar_motta@uol.com.br