Agora sim, até o mais empedernido pessimista acredita que estamos na briga de novo. Como diria um gangster de filme B dos anos 40, #we are back in business#. Foi uma vitória empolgante, de quem está a fim, apesar da péssima arbitragem.

Pelo menos três pênaltis claríssimos não foram marcados a favor do Flu, e o bufão teve toda a boa vontade do mundo com a violência do Goiás, que abusou de bater por trás e parar os lances com agarrões.

Só três coisas nos agoniam no momento: a ausência do Leandro no jogo de domingo, a contusão do Arouca (nenhum puto esclarece se foi ou não grave) e a dependência enorme do Petkovic # tomara que não se machuque e nem tome o terceiro cartão até o dia 4 de dezembro. Vá jogar bola assim lá em Belgrado!!!

Mesmo com Gabriel, por exemplo, longe de seus melhores momentos, com o Pet e o Tuta muito marcados, e com a tolerância do juiz (como são tolerantes esses juízes com os adversários do Flu!), o nosso time dominou taticamente a maior parte do jogo, principalmente no primeiro tempo, quando houve um dos pênaltis (mão na bola super-intencional do zagueiro).

No primeiro tempo, o Arouca fez talvez sua melhor apresentação entre os profissionais. Show de bola do baixinho, que marcou bem demais e distribuiu jogo como um craque.

Vendo o jogo dentro do estádio, com a visão excelente que o Serra Dourada proporciona, e atrás do gol do Goiás, era possível observar como o Arouca controlava o jogo e matava o time deles.

Quando ele saiu, no intervalo, todo mundo se preocupou. E, realmente, o nível do jogo do Flu caiu, porque o Radamés é guerreiro mas, tecnicamente, está a anos luz do baixinho bom de bola.

Perdemos na saída de bola aquela classe e autoridade que o Arouca começa a mostrar com enorme desenvoltura. Pena que, já, já, vá ser vendido. Nenhum garoto no Flu se destaca tanto sem que a loja entre em ação.

Um parêntese: Mesmo com a vitória, ficou mais uma vez claríssimo que o time titular tem que ter Marcão, Arouca, Preto e Petkovic no meio, Leandro e Tuta no ataque. Tiuí, só como opção no segundo tempo. Acho que todos os tricolores do país hoje concordam com isso.

Perdemos depois também Leandro e Gabriel, junto com o Arouca, dois dos nossos principais jogadores. A nossa sorte é que o Goiás também perdeu o ótimo Rodrigo Tabata e o Souza, e entrou o Jardel, totalmente pesado e sem mobilidade.

E mais uma vez a preparação física do Fluminense calou a boca dos críticos: quem parecia estar em uma cruel maratona ao final do jogo era o Goiás. O Flu ganhou sobrando fisicamente.

Os dois gols foram duas pequenas obras de arte. Leandro também respondeu à turma que o considera #um marqueteiro que não sabe fazer gols#. Sabe sim, e como!

Primeiro, o Guerreiro deu no Rogério Correia um daqueles dribles em que puxa a bola de letra. O zagueiro deve ter deslocado algumas vértebras antes de desabar pesadamente no gramado, como um saco de batatas vazio. Driblou ainda o André Leone e bateu de canhota, com estilo e categoria, no canto direito do baixotinho que defende o gol do Goiás. Eram 13 minutos do segundo tempo.

Aos 17 minutos, o Goiás empatou, com Dodô, de cabeça, depois de um bate-rebate enorme na seqüência de um escanteio.

Quando Pet recebeu aquela bola pela esquerda do nosso ataque, aos 47 minutos do segundo tempo, os cerca de 14 mil espectadores no estádio (e alguns milhões em suas casas, pela tevê) pararam de respirar.

Parecia uma cena repetida de filmes já vistos, e que a gente nunca se cansa de rever, porque são filmes sensacionais.

Como disse o Sidney Garambone há pouco no Arena-Sportv, o Pet pegou a bola e, como sempre faz, disse ao zagueiro Júlio Santos: #Meu amigo, me dá licença, eu vou passar por aqui, pela esquerda, e vou fazer o gol lá, e você não vai fazer nada pra impedir#. Passou, foi lá e fez.

Foi uma delícia ver a onda verde da torcida do Goiás abandonando o estádio rápida e silenciosamente, de cabeça baixa, humilhada, e a multidão tricolor de homens, mulheres e crianças, muitas crianças, alucinada, aos berros, a maioria de porre (de cerveja ou de felicidade, caso das crianças), e os próprios jogadores do Flu se abraçando dentro do campo, também enlouquecidos de alegria.

Era uma cena há muito esperada por todos nós: ir ao Serra Dourada e, em vez de ser humilhados, humilhar. Como havia sido a goleada sobre o Patético-PR. Tabus sobre tabus quebrados neste ano. Por isso é ainda possível acreditar no título, este Flu é o time das façanhas inesperadas e quase impossíveis.

Como nos sentimos superiores ao ouvir na tevê ou ler nos jornais que tal ou qual time #sonham com a vaga na Sul-Americana#! Que Sul-Americana, que nada! Assim como sorrimos com desdém quando vemos Leão ou PCGosmão na tevê falando em Libertadores, ou com os ridículos e patéticos #comentaristas# de tevê falando de Curintcha, justificando a derrota, ou do Santos.

Vamos em frente, atropelar.
Goiás 1 x 2 Fluminense: Kleber; Gabriel (Juninho), Gabriel Santos, Igor e Juan; Marcão, Arouca (Radamés) e Petkovic; Leandro (Preto) e Tuta.
Gols: Leandro, aos 13, e Petkovic, aos 48 minutos do segundo tempo. Cartões amarelos: Radamés e Leandro.

Cezar Motta - cezar_motta@uol.com.br