Está sendo uma tarefa ingrata acompanhar futebol, inclusive os jogos do Fluminense, neste pós-Copa do Mundo. Para piorar tudo, o time não ajuda.

Por que o time não joga sempre com a mesma vontade, a mesma raça que demonstrou depois da expulsão do Arouca, e da mesma forma que jogou no segundo tempo do jogo contra o Botafogo?

Sim, porque no início do jogo, antes do gol do Botafogo e da expulsão do Arouca, o time jogou com um intolerável salto-alto, salto agulha, daqueles bem fininhos. Foi de matar de raiva.

O time entrou como se a vitória fosse questão de tempo, esnobando o adversário, dando mole . E o Botafogo, ao contrário, veio com a faca nos dentes.

Confesso que, aos 10 minutos do primeiro tempo, quase desanimei, desliguei a tevê e fui cuidar de outra coisa.

Aos 17 minutos, depois de pedir, quase implorar, para tomar um gol, o time do Flu finalmente conseguiu:

O tal do Joilson, que não joga nada, fez um carnaval pela ponta esquerda e cruzou na cabeça do também péssimo Reinaldo, jogador odiado pela torcida do Botafogo, pela ruindade (alguém duvida? É só perguntar a um torcedor do Bota o que acha do Reinaldo e do Joilson...).

O Reinaldo não fazia gols há mais tempo do que o Pitbull, acho que desde o Campeonato Carioca. Tinha que ser, claro, contra o preguiçoso e displicente time do Flu.

Só os dois zagueiros, Thiago Silva e Roger, o Marcão e o sacrificado Arouca tentavam jogar seriamente até aquele momento. O resto apenas assistia ao Botafogo jogar.

Li várias mensagens de tricolores, ao longo da semana, alertando, com toda razão: com este 4-4-2, vamos tomar sufoco de qualquer time, porque há pouquíssimos jogadores capazes de marcar, com pegada.

O Pet apenas observa com ar entediado, não participa do jogo e não permite que ninguém cobre faltas ou escanteios. Joga para si, apenas. O Juliano tenta, luta, está evoluindo, mas não é jogador de marcação.

A bomba estoura em cima do Arouca e do Marcão, além dos dois zagueiros.

Como os laterais também marcam mal, o Arouca tem que cobrir sempre o Rogério, o que tem prejudicado suas atuações. O resultado é que ele fez duas faltas pesadas e acabou expulso aos 20 minutos de jogo.

Não haveria nada a reclamar se o juiz aplicasse o mesmo critério contra o Botafogo. Mas não. O Rafael Marques, o Ale e o Júnior César cometeram agressões sucessivas do outro lado, e o paulista Sálvio Espíndola apenas aplicou cartões amarelos.

O que acontece é que, todo juiz paulista, influenciado pela mídia de lá, e pelo Leão e Luxemburgo (que reclamam que #o Maracanã é do Flu#), todo juiz paulista, como dizia, é mais rigoroso contra o Flu. Podem reparar. Sempre que um paulista apitar nossos jogos, seremos de alguma forma prejudicados.

Depois da expulsão, pensei: acabou. Com placar adverso, um jogador a menos e um time adormecido em campo, vamos tomar uma goleada de um time fraquíssimo.

Mas, para minha surpresa, o Flu reagiu. Partiu para cima e começou a jogar com mais vontade. Por que não fez isso desde o começo do jogo, quando tinha onze em campo?

Pela televisão, deu a impressão de que a torcida cresceu junto (finalmente!) e começou a empurrar o time. Até o Tuta passou a correr pelo campo todo, fazer desarmes atrás, o Marcão, o Thiago Silva e o Roger se agigantaram e puseram uma pressão sobre o Bota.

Perdemos duas chances claras de gol, antes do empate. O Botafogo também perdeu, mas apenas porque o Flu partiu com tudo para a frente e, com um a menos, deixava espaços atrás.

Na primeira chance, o Marcão combinou com o Petkovic em uma bola parada e apareceu de surpresa, para receber e cabecear para trás, tentando municiar o Tuta. Se tivesse cacoete de atacante, Marcão teria dominado a bola e marcado sem problemas. Mas a cabeçada caiu nos pés de um zagueiro.

Aos 36 minutos, nova bola parada lançada sobre a área do Botafogo. O goleiro falhou e permitiu a Thiago Silva dominar, junto à linha de fundo, e cruzar rasteiro para Marcão que, de primeira, passou a Tuta. Gol que vinha amadurecendo, por causa da pressão.

No intervalo, Oswaldo acordou do seu sono letárgico e pôs Beto no lugar de Tuta. A intenção era clara: o campo estava pesado, encharcado, o time com um a menos, e era preciso velocidade e pulmão para virar o jogo. O Tuta é um jogador pesado, lento, e não daria conta de puxar contra-ataques.

Infelizmente, o Beto entrou mal no jogo. Errou tudo o que tentou. Na melhor chance que ele teve, o trio de arbitragem fez a vontade de Leão, Luxemburgo, Bebeto de Freitas e Milton Neves, e prejudicou escandalosamente o Flu.

Beto estava praticamente sobre a linha divisória do meio de campo, na mesma linha dos dois zagueiros que o marcavam.

Pet lançou uma bola rápida e ele saiu na frente dos pesados zagueiros adversários, pequeno e leve, e iria livre em direção ao gol.

Não sei se teria talento para driblar o goleiro e marcar. Mas o juiz não nos deu tempo de conferir isso. Marcou um impedimento absurdo.

Em seguida, Marcelo lançou Lenny sozinho pela esquerda, com Beto solto na área. O zagueiro veio na cobertura e bastaria a Lenny dar um tapa na bola, sobre o zagueiro, para que Beto recebesse livre, na marca do pênalti.

Mas o garoto preferiu chutar de canhota, de forma bizarra, nas nuvens. É compreensível, ele quer mostrar serviço. Mas era a bola do jogo.

Até o fim, a partida decorreu desta forma. O Flu se fechava e saía em contra-ataques perigosos, mas faltava o atacante que decidisse.

Petkovic jogou de forma burocrática, apática, como vem fazendo sempre. Cria um ou dois lances decisivos, como passe para o Beto, o cruzamento para o Marcão no primeiro tempo. Mas não se dedica ao jogo, parece desinteressado.

Oswaldo voltou a surpreender positivamente ao substituir Pet por Fernando. Quis dar mais força e consistência ao meio, já que o Botafogo dava sinais claros de cansaço e acomodação. Mas também Fernando não deu conta do recado.

Aconteceu somente depois da expulsão de Arouca, mas vários jogadores atuaram muito bem, com raça e vontade.

Fernando Henrique esteve seguro e sólido, Rogério melhorou, Thiago Silva e Roger (esta dupla de zaga talvez seja o que de melhor tenha acontecido este ano) estiveram estupendos, Marcelo fez uma ótima partida, Marcão foi excelente (salvou inclusive um gol, já nos descontos), Juliano lutou como um leão e Lenny também melhorou bastante.

Um outro episódio do jogo me chamou a atenção. O Felipe Adão teve câimbras e o Fernando Henrique chutou para fora, para que o atacante fosse atendido.

Em vez de devolver a gentileza, o time do Botafogo cobrou o lateral e tentou fazer o gol, o que revoltou os jogadores do Flu.

Uma vez, o Radamés foi acusado de fazer isso em um Fla-Flu e quase apanhou de todo time do Fla e foi crucificado pela mídia, que chegou a pedir a suspensão dele.

O Botafogo cumpriu o figurino de seu presidente: sujo, desleal, aético, um Eurico hipócrita e engomadinho.

Não sei se Petkovic voltará a jogar com vontade e motivação, principalmente depois da substituição de ontem (demonstrou claramente que não gostou), se Lenny recomeçará a evoluir (talento e potencial ele tem), se também o Juliano ganhará mais consistência (tem jogado bem, mas pode melhorar muito). Mas o Flu depende disso para ambicionar alguma coisa este ano. E não sei também se o Thiago cabeludo conseguirá jogar uma seqüência de partidas sem se machucar. São jogadores fundamentais.

Como sempre, é duro ouvir uma transmissão em que o locutor torce desesperadamente pelo adversário. O menino do Sportv nos deu a impressão de que enfrentávamos o Barcelona, e que o fraquíssimo Reinaldo era a cópia do Ronaldinho Gaúcho ou do Zidane.

Enfim, mais dois pontos jogados na lata do lixo e mais uma chance de encostar no São Paulo desperdiçada de forma melancólica.

Fluminense 1 x 1 Botafogo: Fernando Henrique (9); Rogério (5), Thiago Silva (9), Roger (9) e Marcelo (7); Marcão (8), Arouca (2), Juliano (7) depois Radamés (sem nota) e Petkovic (5) depois Fernando (sem nota); Tuta (6) depois Beto (3) e Lenny (6).
Gols: Reinaldo (Bota), aos 17 minutos; e Tuta, aos 37.
Cartões amarelos: Lenny, Arouca (2) e Marcão. Vermelho: Arouca.

Cezar Motta - cezar_motta@uol.com.br