Não precisava ter sido tão sofrido. Nosso time é melhor, nossa zaga é segura, jogávamos em casa com apoio de 23 mil torcedores, tínhamos uma grande vantagem. Mas ainda falta confiança ao time, falta aquele hábito de jogar dos grandes times, quando a bola é tocada com segurança, a cobertura sai fácil. Falta o calo da vitória, como dizia João Cabral de Mello Neto.

E falta Petkovic. O Oswaldo deveria conversar com ele: #Pet, meu gringo, você está em uma fase ruim. Então, deixe o Rogério bater faltas e escanteios, deixe o Tuta bater pênalti, não queira ser o dono do time#. Ele está mal, embora não haja ninguém no elenco em condições de substituí-lo.

Se o Pet voltasse a ser decisivo, seríamos, sem dúvida, o melhor time do país. Zaga perfeita. Sem falhas. Mas estamos sobrando, por enquanto. Acredito que este time possa melhorar bastante, jogar #de olhos fechados#.

Mas vamos ao jogo: primeiro tempo ruim. Um pouco por culpa do nosso técnico, que funciona bem no Flu, mas tem defeitos. O mesmo problema do jogo contra o Vasco. Começamos perdendo o meio de campo, sem marcar a saída de bola do fraco time adversário, com um enorme espaço entre a defesa e o meio de campo.

Resultado: Eles conseguiam criar jogadas aproveitando esse espaço. Recuperavam a bola facilmente na própria defesa, porque Lenny e Tuta estavam muito isolados, e tocavam sem problemas. Sem marcação no meio, a coisa estourava em cima da defesa. Felizmente, temos uma zaga de altíssimo nível.

Felizmente, também, o time do Cruzeiro é fraquíssimo. Quando eles tinham a chance e o espaço, erravam de forma grotesca. Mas eu, pelo menos, confio neste nosso time. São jogadores que têm vontade, acostumados a vencer, e aí destaco Roger e os dois Thiagos. Dão caráter ao time, porque têm ótimo nível técnico e são vencedores natos, têm garra, disposição, não brincam em serviço.

Esperava também esse caráter do Rogério, e espero que ele venha a demonstrar isso. Quando apostei neste time no começo do ano, era exatamente porque era formado por jogadores habituados a vencer Libertadores, Copas do Brasil etc. Rogério, Roger, Thiago.

Mas as coisas começam a acontecer. Os garotos estão jogando muito, e os veteranos rendem bem. Eliminamos o primeiro time grande de uma Copa do Brasil, sem contestações, desde que eliminamos o Vasco em 2001, com aquele show do Roger Galera em São Januário (lembram?). No ano passado, eliminamos o Grêmio, mas eles estavam no pior momento de sua história. Não valeu.

Enfim, marcamos mal no primeiro tempo e permitimos que o Cruzeiro, com seu fraco time, desse a impressão de que poderia ser uma ameaça. Não era. No segundo tempo, o Flu começou a jogar. Esperávamos o time deles, e quando recuperávamos a bola, os contra-ataques eram perigosos.

Arouca e Marcelo, principalmente, começaram a mostrar as garras. Jogam (e jogaram) muito. Mas Pet e Tuta estavam em um mau dia. As chances se sucediam nos contra-ataques, sem que Fernando Henrique (graças a Deus!!) fosse ameaçado.

Aos 14 minutos, Tuta recebeu uma bola açucarada dentro da área, e sofreu um golpe de jiu-jitsu de um dos gorilas da zaga cruzeirense. Pênalti, que o próprio Pet bateu como se fosse um Thiago de Olinda, e isolou na arquibancada. A torcida, lúcida e confiante, aplaudiu o gringo quando eu, em casa, xinguei-o até à última geração, até os tempos de Iugoslávia e de Josip Broz Tito.

O Cruzeiro ganhou um certo gás, mas o time deles é ruim mesmo. Aos 20 minutos, Marcelo recebeu passe do Pet, em ótima manobra do ataque, como um ponta-esquerda, mas bateu mal, sem jeito, à direita do Fábio. Aos 22 minutos, de novo, Marcelo entrou pelo meio e bateu de pé direito, sobre o gol.

Aos 28 minutos, ótima manobra do nosso ataque, e Tuta recebeu na cara do Fábio, e mostrou toda a sua lentidão. Passou pelo goleiro, mas demorou cinco minutos para girar o corpo e decidir o que fazer. Acabou arriscando um cruzamento, Fábio deu uma espalmada, e ninguém aproveitou.

O gol era questão de tempo, e de capricho, de vontade. E ele veio. Bola cruzada da esquerda, confusão na área, Pet chutou, goleiro defendeu, sobrou na canhota do Marcelo, que jogou para dentro. Delírio total e assunto resolvido.

Depois, foi só administrar. Poderíamos ter metido mais uns dois gols, mas o inconsciente dos jogadores já registrava a vitória, e deu aquela moleza geral. O Cruzeiro apelou para a violência; um animal pré-histórico e com instintos assassinos chamado Luisão deu um bico criminoso sem bola na canela do Lenny, mas nada aconteceu.

Agressão pode, mas comemorar o gol, como fez o Marcelo, não pode. Por isso, cartão amarelo para o Marcelo (terceiro e suspensão), mas a agressão do truculento, isso é permitido, sem problema.

Aos 41 minutos, Oswaldo, finalmente substituiu (o cara é ruim de substituição mesmo): pôs Pitbull no lugar do Lenny, Bruno no lugar do Petkovic e Jean no lugar do Marcelo. Os três titulares saíram glorificados pela torcida do Flu. Fim de jogo e vitória. São 34 anos sem perder do Cruzeiro no Maracanã (a última derrota foi em 1972, é mole?).

Agora é comemorar e esperar a próxima vítima. Temos muito mais time do que os outros três semifinalistas. Só mesmo um desastre nos tira esta Copa do Brasil. Resta ainda lamentar (e reclamar sempre, por telefone, e-mail etc) dos criminosos monopolistas da Sportv e da Globo, que nos sabotaram, mas tiveram que se render à pressão da turma de Brasília e transmitir por um dos canais do PPV.

No noticiário SportvNews, a impressão era de que o único jogo da noite tinha sido Parmêra e São Paulo. Meia hora de entrevista grotesca do cafajeste Muricy Ramalho. Mais meia hora do careca Escobar falando das excelências do São Paulo, do Parmêra, do futebol paulista etc. Luto fechado da canalha pela eliminação sanitária do Santos (oh, que noite quase perfeita!).

E vamos que vamos. Desta vez, seremos campeões, como canta a nossa torcida na saída vitoriosa do Maracá.
Fluminense 1 x 0 Cruzeiro: Fernando Henrique (5); Thiago Silva (8), Thiago (8) e Roger (8); Rogério (6), Romeu (7), Arouca (8), Petkovic (5) depois Bruno (sem nota) e Marcelo (9) depois Jean (sem nota); Tuta (6) e Lenny (7) depois Pitbull (sem nota).
Cartões amarelos: Marcelo (terceiro da série, está fora da semifinal) e Romeu.
Gol: Marcelo, aos 33 minutos do segundo tempo.

Cezar Motta - cezar_motta@uol.com.br