?Tristeza não tem fim, felicidade sim?

Num brilhante furo de reportagem, o meu amigo Antônio Carlos de Almeida, mais conhecido como Ant, descobriu algo que nenhum jornalista esportivo foi capaz de apurar. Ele revelou como o nosso Fluzão foi eliminado das semifinais do Brasileiro. Traduzimos juntos a verdadeira história para os mortais e o relato segue abaixo.

Quarta-feira (04/12/2002) ? 20h45
Lá embaixo, nos confins da imaginação nefasta, o gavião chega à porta de uma casa do inferno:
- Aí meu, posso entrar?
- Opa! Que boa surpresa! Entre.
- Obrigado. Daqui a pouco tem um jogo decisivo do Timão contra o Fluminense. Eles levam a vantagem do empate, têm Romário no ataque, Kléber no gol... Vamos precisar da sua ajuda para vencer esse campeonato.
- De novo? Aquela escorregadinha daquele zagueiro só pegou bem porque a repeti numa partida de um dos times do chefe. Daí ganhei moral, mas o Diabão quase me demitiu por causa daquela ajudinha contra o time daquele senador. Você precisa entender que a ave preferida dele é o urubu.
- Pois é. Fico sem jeito de sempre ficar pedindo uma colaboração, mas o São Jorge está muito ocupado com o dragão da inflação e o Fluminense está muito reforçado lá no céu.
- Ok. Tudo bem. Você sabe que tenho uma quedinha pelo Corinthians. Que horas começa o jogo?
- Nove e quarenta. Talvez uns cinco minutos a mais. Depende da novela. Horário ruim, mas a Globo...
- Sei, sei. Fiz uns bicos ali também. Temos por volta de uma horinha. Vamos dar uma volta pelas novas dependências do inferno até o jogo começar. Tenho umas coisinhas pra te mostrar. Gosta de pagode?

Uma hora depois
- Bom, o jogo começou. Vê lá o que pode fazer por nós.
- Tem certeza de que sou mesmo necessário? O Fluminense vai começar o jogo só com dois atacantes, três zagueiros, o Carlos Alberto está no banco...
- Ah, vai ser preciso sim. Eles já jogaram bem com essa formação. Tô cansado de sempre perder para eles. Só esse ano foram três vezes. Chega! Vão acabar achando estranho o puxa-saquismo da imprensa paulista.
- Beleza! Dê um tempinho. Vou ficar observando o jogo...
- Meu, olha esse César. O cara tá comendo a bola. O Flávio ajuda, mas o César conserta.
- Esse zagueiro é bom mesmo. Tá atrapalhando. Vou dar um jeitinho nele.
- Orra, meu! O mano começou a sangrar! Você não brinca em serviço mesmo, hein? Não foi estranho sangrar sem pancada? O povo pode desconfiar.
- É, empolguei, mas não temos tempo a perder. Agora já foi. Dane-se. Com a cabeça enfaixada ele não vai render o mesmo.
- Putz! Não adiantou nada. Gol do Fluminense! Roni. Aí, sem uma grande ajuda não vai dar.
- Hummm... O Roni estava ali e nem vi. Pensei que era café com leite com esse baixinho em campo. Vou mexer meus pauzinhos. Quando passar dos 20 minutos me avise.
- Já passou... 24.
- Já? Então é essa a hora exata. Vou providenciar um lançamento longo para o Romário. Ele vai tentar uma arrancada e vai ser mole. Pode deixar que ele facilita. Veremos aquela cena clássica. Hehehe!!!
-Funcionou!!! Ele levou a mão à virilha. Você é animal!
- Essa foi fácil. Taí! O Romário não era a principal preocupação de vocês? Tá fora.
- É, mas olha lá quem entrou: Magno Alves. Esse aí também é perigoso.
- Nem sempre, meu amigo. Tenho acompanhado tudo de perto. Ciúmes, inveja, egoísmo, revolta... Ele está fora de combate, envolvido com essas coisas há tempos.
- Mesmo assim tenho medo dele. Olha!!! Contra-ataque do Fluminense. Lançaram o Magno livre na direita. Primeira participação dele na partida, tá com todo o gás... Aí, meu De... Diabo, o Roni está correndo livre pelo meio, não quero nem ver... É meio gol.
- Fique tranqüilo. Tá lá, viu? O Magno arriscou de longe, nem quis saber de tocar pro Roni. Esse está sob controle. E digo mais: hoje ele não vai jogar nada.
- Se é você quem diz, eu acredito. Oba! Escanteio pra nós. Tá na hora de sair o empate. O primeiro tempo está acabando e não queria virar tendo que fazer dois gols.
- Pode deixar. Tá comigo, tá com o Diabão.
- Gol! Goooooool!!! Valeu! Coringão!!! Ê!!! Ô!!! Todo poderoso Timão!
- Gostou da obra, né? O juiz nem reparou que o Guilherme segurou o César. Ficou fácil para o Gil. Mas o goleiro deles preocupa. Ainda tocou naquela bola. Quase defendeu. Já andei mexendo na perna dele, mas ele está colocando outro para bater os tiros-de-meta. Vou dar um jeito de tirá-lo no intervalo.
- Sem Romário e sem Kléber? Puta tesão!!! Agora estou otimista.

2º tempo
- Murilo no lugar de Kleber? Você é bom mesmo. Nessa hora deve ter tricolor tremendo até no Uruguai. Murilo em decisão é porteira aberta.
- Fique quieto. Preciso concentrar. Cá entre nós, o Corinthians não está ajudando muito.
- Dá uma luz pro Parreira! Ele gosta muito de tocar a bola, eu quero gol.
- Não posso. Ele é intocável para mim. Esse técnico tem alma. O Parreira é tricolor.
- Então atua mais nos caras do campo.
- É isso que estou fazendo. Tem muito material bom ali. Sorte que são poucos os tricolores de coração.
- Beleza! O ataque do Flu está arruinado. Magno nunca passa pro Roni quando tem que passar e não chuta quando dá pra chutar. No meio vejo o Beto parando no famoso drible a mais e o Zada não rendendo nada. Agora, bem que esse Flávio podia dar ainda mais espaço pro Gil e o Kleber...
- Tenho trançado as pernas do Flávio nos últimos vinte e oito jogos, mas confesso que hoje não estava prestando atenção nele. Tava mais preocupado em garantir que o Carlos Alberto não entrasse. Você viu o que ele fez com a torcida do chefe? Mandou eles calarem a boca lá dentro. Esse cara é iluminado.
- Sorte que o Carlos Alberto não está em campo, então, mas trança as pernas do Flávio de novo, vai. Hoje ele não está tão mal. Aí fica difícil.
- Tá, vou lançar uma maldição no setor dele. Zzaaaaaasss!!! Ih, pegou no Roni!
- Tudo bem, armou o contra-ataque... Vai, vai, vai!!! Gol! Goooool!!! Gooooooooooooool!
- Hehehe!!! Não era bem assim que eu queria que começasse, mas tudo bem. O final era o mesmo. Esse gol era pro Gulherme fazer. Gosto dele. É dos nossos.
- E o Murilo nem ameaçou a defesa. Você matou a pau quando tirou o Kléber.
- É! Com o Murilo fica mais fácil. E olha que não estou fazendo nada. Só promovi sua entrada.
- Agora é só manter os 2 a 1. Ufa, estou mais tranqüilo, mas sei não. Pode sair um gol deles, por acaso, e tudo ir por água abaixo. Não dá pra fazer aquele famoso gol a mais. Só pra garantir.
- Vocês nunca estão satisfeitos, né? Olha, quando o chefe acertar as contas com a sua torcida, espero que todos estejam cientes...
- Tá, tá... Vá lá, faça seu trabalho.
- Ok.
- Gol! Goooool!!! Timão!!! Outro do Guilherme? Esse cara não tava jogando nada. Você gosta mesmo dele, hein?
- Somos, ermm... amigos.
- E o Murilo nem pulou na bola de novo. Cá entre nós, essa o Kléber pegaria. Ele iria acompanhando a trajetória da bola e com certeza estaria mais perto do canto direito. O Guilherme chutou sem olhar. Impressionante! Que sorte!
- Sorte? Ôôoo!!! E eu? Não conto?
- Ah, é... Desculpe. Agora dá pra respirar tranqüilo. Ahhh... Ih, lá vai o Roni. Pipoca, bate, rebate, trancos, barrancos, gol! Merda! Gol deles.
- Sorry. O santo desse carinha tá forte hoje. Passou despercebido de novo.
- Tudo bem. Mas veja lá, hein... Nos ajude a segurar esse placar.
- Tranqüilo. Veja só. Tudo sob controle. O Beto parando no drible a mais, Magno tentando achar espaço para o chute egoísta, o Roni cansado e entregue à sua limitação técnica. O Flu está perdido. Tá tudo dominado.
- Tô percebendo, mas aí... Sei que você já ajudou em todos os impedimentos, mas faz o árbitro dar poucos descontos. Não quero sofrer muito.
- Você é folgado, hein... Fizeram cera à beça. Foi um cai-cai sem parar. O juiz já ajudou ao não dar nenhum amarelo para os pendurados de vocês. E olha que vocês enfrentarão depois todos os santos.
- É, mas eles estão ocupados com o outro jogo. Aha!!! Dois minutos só? Nem acredito. Muito obrigado mesmo.
- Cara, você deu muito trabalho hoje. Estou exausto. Era o centenário deles. Tudo conspirava a favor.
- Fico devendo uma. Opa! Fim de jogo!!! Ufa! Valeu! Sabia que daria certo com a sua ajuda.
- É! E ainda arrumei um golzinho pro Grêmio lá em Porto Alegre, que é pro Fluminense nem pensar em fazer contas para a Libertadores. O caminho de vocês ficará mais fácil por lá. Trabalho comigo é assim: serviço completo.
- Ok, então estou indo. Vou curtir umas baladas agora. Coloca na nossa conta.
- Já coloquei. Nem sei se um dia vou receber. Parece que só quem é tricolor tem alma. Mas, bem, maldade é comigo mesmo.
- Então até mais.
- Até.

Amigos, o raio-x chega ao fim em 2002. Agradeço aos quatro webmasters da Sempre Flu pela confiança. Como vimos, o destino, às vezes, é muito injusto, mas tudo precisa ter uma explicação. Vou me inspirar em nosso saudoso Nelson Rodrigues nesse desfecho. Os fatos não confirmaram a profecia. Então, pior para os fatos...

Daniel Cohen - daniel.cohen@sempreflu.com