FLUMINENSE 1 X 2 Vasco (II) - 26/03/2003

Anatomia de uma derrota

No futebol tenho o espírito juvenil muito exacerbado. Não é à toa que quis sair do jornalismo esportivo por não agüentar esconder a minha grande paixão. Após mais uma derrota, a motivação para escrever o raio-x da minha querida Sempre Flu não vinha. Assumo que, obviamente, sinto muito mais à vontade quando escrevo nas vitórias, talvez com exceção da última derrota para o São Caetano.

Pensei que não conseguiria escrever sobre mais uma decisão em que voltei decepcionado por não saciar a minha ansiedade por títulos. Só que apelei para a ajuda do meu fiel amigo Ant, que é um dos maiores tricolores que conheço, e produzimos um texto, mais em tom de desabafo, que simboliza um pouco do que vimos no Maracanã.

A tarde de 23 de março de 2003 estava perfeita para uma grande conquista. Sem aquela chuvinha traiçoeira do jogo passado e com o apoio maciço de uma exuberante torcida diferenciada poderíamos facilmente ganhar daquele timinho do Vasco por dois ou mais gols de diferença. E o Fluzão entrou em campo para isso. Unido e forte, como diz o seu hino, parecia imbatível.

Pena que aquele time coeso, imponente com o mais belo uniforme do mundo (camisa tricolor, calção branco e meias brancas), abandonaria o campo antes mesmo dos cinco minutos iniciais. A garra do maior campeão do Rio de Janeiro foi suplantada por uma péssima arbitragem e pela falta de compostura do clube adversário. O xerife Eurico, o delegado Lopes e o juiz de araque estragaram o que poderia ser um grande espetáculo.

Como a lambança já estava formada no infeliz Campeonato Carioca, um time com a dignidade do Fluzão, limpo por natureza e história, não se sentiu bem. O Vasco, ao contrário, jogava em seu ambiente preferido. Cena perfeita para a palhaçada total. Pior é que a imprensa esportiva, sem o senso crítico de outrora, nem se incomoda com a zona rolando solta.

No primeiro minuto do jogo, uma trapalhada resumiu o que estava por vir. Djair tentou lançar uma bola para a esquerda, mas o juiz (ele mesmo) interceptou a pelota de cabeça. O que aconteceu? O marrentinho promovido pela mídia ficou livre, em posição de marcar, e chutou. O nosso goleiro Kléber desceu alguns níveis, até se equiparar a Júlio César, e soltou a bola nos pés de Léo Lima. Gol do Vasco.

Tudo errado! Começo pior, impossível. Na hora, numa revolta natural de qualquer torcedor, eu e meu amigo Cauê ficamos indignados com o Kléber, que já não trazia boas lembranças do duelo contra o Corinthians. O Vasco deu moral para as pratas da casa Hélton e Fábio. E nós, com a jóia rara chamada Fernando Henrique no banco. Mas tudo bem. Deixa o Renato. Ele sabe o que faz. Será que sabe?

Precisávamos, agora, de três gols. Bola pra frente. Prefiro tomar um gol no início do que no fim da partida. Tudo dependia de como o Flu iria assimilar aquele golpe. Com o nosso meio-campo aparentemente ofensivo, sem o Marciel, não seria difícil fazermos gols. E time de tradição é assim: enche os olhos da torcida e joga para superar as adversidades.

O gol saiu rápido. Aos quatro minutos, jogada linda do craque Carlos Alberto pela direita, que cruzou para Ademílson completar. Gol!!! 1 a 1. Na hora certa. Foi fantástico ver os nossos geraldinos explodindo de alegria atrás do gol. ?Ah!!! É Ademílson!? Aliás, que falta de criatividade! É ?ah...? para Magno Alves, Agnaldo, Carlos Alberto, Ademílson, só falta o Edmundo aparecer no Laranjal para eternizar esse grito.

O empate era tudo que precisávamos para ignorar completamente o acidente do minuto inicial. No entanto, o infeliz auxiliar, talvez maldosamente, levantou a bandeira e invalidou o nosso gol que foi nitidamente legal. Todo o mundo se calou com aquela marcação. Ninguém sabia explicar o que fora marcado. Ali, naquele lance, o título carioca foi decidido.

Os jogadores do Flu cercaram a pobre e caricata imitação de bandeirinha e, com toda a educação, perguntaram se ele ficou louco. Sorte dele que aqueles eram jogadores tricolores. Se fosse do outro lado, seria normal vê-lo agredido violentamente, tamanha a gravidade de seus atos. Incrível é que o presidente da Federação dá nota sete para a arbitragem do Estado. Se essa coisa é sete, até a Elane, do Big Brother, é dez.

Precisávamos vencer por dois gols de diferença. Até aí tudo bem. Somos superiores e podemos facilmente marcar vários gols no Vasco. Porém, com um gol legal anulado logo no começo, e depois de termos tomado um gol acidental com o auxílio físico do árbitro, nossos jogadores perderam a confiança. Naquele momento, o Flu abandonou o campo, deixando apenas as sombras dos nossos transtornados guerreiros a lutar contra o mal sem fim.

Vinte minutos mais tarde, fizemos o segundo gol, oficialmente o primeiro. A emissora-mãe ainda tratou de tentar redimir o erro grotesco do árbitro, que anulou nosso tento aos quatro minutos, alegando que dessa vez Ademílson estava impedido. Sim, o tira-teima deles assinalou 40 e poucos centímetros num lance onde só um louco marcaria impedimento. Até parece que um árbitro nos beneficia contra o Vasco...

A jogada do nosso gol que valeu foi maravilhosa. Carlos Alberto roubou a bola no meio e tocou para Marcão. Nosso capitão deu uma bela arrancada e lançou Fábio Bala. O artilheiro do Campeonato, que não fez nada na hora da verdade, tocou para Ademílson. O neocarrasco rubro-negro, que no máximo devia ser um bom reserva para o Flu, só completou para o fundo das redes. Linda obra coletiva!

O time e a torcida se animaram com o gol. E mais ainda quando o bibelô carioca, para não perder o costume de aprontar em finais, arrumou um jeito de ser expulso, e de quebra levou o nosso Marcão. Dessa vez, ele se esqueceu de encenar o bom menino e não lembrou que o mestre Parreira observava o jogo. Um adeus à seleção caiu bem, apesar de só ele e uns idiotas da objetividade acreditarem que ainda havia chances.

A torcida do Flu botava pressão, enquanto a massa bacalhau estava caladinha, temendo mais um vice. Quando tínhamos tudo para virar, um verdadeiro circo ocorreu após uma entrada criminosa de Léo Lima em Alex Oliveira, naturalmente ignorada pelo árbitro, e uma agressão ridícula do técnico deles na seqüência. Os torcedores presentes não mereciam um ato tão medíocre em pleno Maracanã, um palco que presenciou tantos lances geniais.

O jogo ficou parado por muitos minutos e esfriou o ímpeto tricolor. O árbitro ainda fez o favor ao infrator de não dar nenhum desconto assim que a partida voltou. Impressionante a inversão de valores protagonizada pelo homem de preto. O autor de toda confusão foi o grande beneficiado e ainda teve a cara de pau de falar que não fez nada. Ele é tão inocente quanto o Saddan. Ou será o Bush?

Na volta do intervalo, os jogadores tricolores se abraçaram em círculo, um gesto que marcou nas finais, e a torcida gritou o nome de cada um. Dava a impressão que a torcida, assim como tirou o time do inferno na marra, conseguiria a proeza de executar uma virada sensacional. Claramente a torcida tricolor aprendeu a ser atuante em horas adversas. Como diria Nelson Rodrigues, quando o time mais precisa, estamos lá.

Parecia que o Flu, o verdadeiro, entrava em campo de novo, mas era uma ilusão passageira. Ilusão que se desmanchou quando o fraco Vasco, num contra-ataque comum, caiu pela esquerda com Léo Lima, que tem o pé esquerdo apenas para cultivar chulé e, por isso, resolveu cruzar de letra. Para completar a meleca, o lance gerou o segundo gol deles e nossas chances de reação foram por terra.

O que deu mais raiva é que, diferente das eliminações para o Atlético-PR e o Corinthians, não demos tudo que podíamos. Kléber, Jadílson e Fábio Bala, por exemplo, três dos nossos destaques, não renderam nem metade do que se esperava. Era um bicampeonato fácil, que foi jogado pelo ralo. Agora não adianta também lamentar a ausência do Romário. Temos que manter essa base, que é boa, e fazer contratações verdadeiramente cirúrgicas.

Sobre o Estadual, os números não mentem. Antes de 86, período pré-Eduardo Viana, o Fluminense tinha 27 títulos, o Flamengo; 21, e o Vasco; 15. Hoje, o Flu tem 29, o Fla; 27, e o Vasco; 22. Anteriormente havia seis times grandes no Rio de Janeiro, agora só há três, apesar da tentativa de bipolarizar entre as forças do mal. Contudo, fiquem tranqüilos que nos campeonatos nacionais e internacionais, sem certas parciais arbitragens, vamos mostrar quem é, realmente, o melhor do Rio.

Daniel Cohen - daniel.cohen@sempreflu.com


 
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