E vamos nós, a caminho da zona da Sulamericana até o fim do primeiro turno, e na zona da Libertadores até o final do campeonato, em dezembro. Virada espetacular, mas só depois que Tartá e Somália entraram nos lugares de Fabinho e Washington.

O Vitória vinha de cinco vitórias consecutivas, inclusive um 3 a 0 contra o Inter e um 5 a 2 contra a pobre e sofrida cachorrada.

Destaque para a excelente atuação de Ricardo Berna, seguro e com uma virtude a mais em relação a Fernando Henrique: sai melhor do gol, sabe jogar como um líbero quando nosso time joga muito à frente.

No primeiro tempo, corremos riscos ao atacar, porque o contra-ataque do Vitória é muito rápido.

Aos poucos, nossos melhores jogadores se recuperam da decepção da perda da Libertadores, embora o time continue uma bagunça tática, desta vez com Fabinho no lugar de Cícero.

Podíamos ter vencido mais facilmente. Um verdadeiro milagre, uma coisa raríssima aconteceu no Maracanã hoje: um pênalti marcado a favor do Fluminense, e logo pelo Gaciba, que adora nos prejudicar.

Logo aos sete minutos do primeiro tempo, Júnior César cruzou e um jogador do Vitória, Marco Aurélio, cortou com a mão.

Para surpresa geral, Gaciba marcou pênalti. Dodô ajeitou e errou. Mau presságio.

Mesmo assim, o jogo continuou igual. Chances de gol de ambos os lados. Pelo lado tricolor, Washington recebeu bola limpíssima na área, mas precipitou-se e isolou.

Em outro lance, bastante estranho, Washington foi derrubado por um zagueiro do Vitória, que chutou pra escanteio.

Júnior César, aos poucos, vai melhorando, mas ainda não aprendeu a cruzar, a aproveitar melhor as boas jogadas que cria pela ponta esquerda.

Conca e Thiago Neves ainda não recuperaram o brilho da Libertadores, jogam ainda de semblante fechado e sem prazer de jogar, mas mostram raça e, pouco a pouco, vão melhorando.

Rafael tem menos técnica do que Gabriel, mas mostra mais vontade de decidir, joga com mais empenho. Thiago Silva também recuperou a confiança e hoje fez um partidaço, talvez tenha sido o melhor em campo.

Perdido o pênalti, o primeiro terminou com o chamado lá e cá. Pelo lado do Vitória, o tal do Marquinhos entrou na cara de Ricardo Berna, mas o nosso goleiro, que é muito bom, soube sair do gol e esticar o braço para salvar.

Achei que Somália já entraria no lugar do Washington no intervalo. Mas este não é jeito do Renato. O time voltou igual, e parecia destinado a levar uma chinelada no Maracanã.

Desorganizado, o Flu não conseguia sair jogando, porque o Vitória impunha marcação forte sobre nosso meio de campo, e Fabinho, como sabemos, tem grande dificuldades para jogar.

Não conseguíamos ultrapassar o centro do campo, enquanto eles pressionavam, com um time leve e veloz. Até o Ramon está correndo.

E, aos 12 minutos, aconteceu o que já se anunciava desde o reinício do jogo. Passe errado no meio de campo quando saíamos para o ataque.

Arouca e Fabinho se enrolaram, o Vitória retomou e Ramon esticou para Marquinhos nas costas da nossa defesa. Com categoria, o magricelo baiano tocou no canto.

Parecia que a casa ia cair. Time desorientado, Washington perdido em campo, lento, pesadão, sem ao menos conseguir dominar uma bola, Dodô apático, Vitória absoluto.

Logo, Renato pôs Somália e Tartá, nos lugares de Washington e Fabinho.

Parecia ousadia demais, porque o único jogador de marcação no meio iria sair, nosso time ia ficar muito ofensivo, à mercê do contra-ataque baiano.

Mas o time deles não é tão bom assim. Bastou o Flu ter mais presença no ataque, principalmente graças ao feitiço e às bruxarias de Tartá, e passamos a dominar completamente o jogo.

Com mais gente habilidosa para dialogar (ou seria trialogar?), apareceu o futebol de Thiago Neves e Conca. Somália não joga nada, mas se mexe muito, atrapalha e confunde a marcação adversária.


Aos 25 minutos, falta a favor do Flu na meia direita do nosso ataque. Quantos gols nossos têm saído por ali, com a cobrança de Thiago Neves!

E, novamente, aconteceu. Só que, desta vez, a bola foi um passe rasteiro e inteligentíssimo para Thiago Silva, que entrou de surpresa como um meia direita.

Thiago cortou um zagueiro pra dentro e bateu de canhota. A bola sobrou então para Rafael, como um centro-avante, jogar pra dentro da teia de aranha do colombiano Viafra, nosso freguês (era o goleiro do Patético Paranaense na nossa vitória lá na Arena da Baixaria, pela Copa do Brasil, em que os eliminamos).

A vitória (nossa) parecia iminente. E era mesmo. Pressão total, e desperdiçamos algumas ótimas chances de gol.

Tartá dava um baile na defesa do Vitória pelo lado esquerdo do nosso ataque.

Dodô começou a sair da área e buscar jogo # e ele sabe jogar. Lá atrás, Thiago Silva segurava as pontas quando eles tentavam contra-atacar, sempre com a velha categoria que todos nós conhecemos e reconhecemos no Thiagão, o melhor zagueiro do Brasil.

Finalmente, aos 36 minutos, boa manobra dos nossos meias e, se não me engano, Conca enfiou com enorme precisão para Dodô, que entrou pela direita como uma flecha e fez aquele gol que consta no manual dos grandes artilheiros, como Romário, Ronaldo, Pelé, Flávio Minuano, Valdo...e Dodô.

Entrou na corrida em diagonal e, quando o Viafra saiu apavorado, Dodô deu um leve toque por cima dele.

Era a vitória, e era esperar pelo terceiro gol ou pelo fim do jogo, o que viesse primeiro.

Poderíamos ter feito o terceiro, se Rafael não se apavorasse em um lance absolutamente idêntico ao do segundo gol.

Rafael e Dodô entraram juntos, em alta velocidade, em diagonal, na mesma bola enfiada genialmente por Conca.

Mas Rafael encheu o pé e possibilitou a defesa de Viafra. Se deixasse para Dodô, certamente teríamos presenciado uma nova obra de arte.

Mas foi de bom tamanho, saímos da lanterna e já, já, estaremos entrando na zona da Sulamericana.

E eu confesso que não agüento algumas figuras da Sportv. O comentarista e o locutor foram perfeitos, mas um asno chamado Rui Guilherme insiste em torcer contra o Flu, quando cabe a ele cobrir o nosso time.

Além de não informar nada, o cretino inventa falsas notícias, como a saída de Dodô para o Galo, insiste em ver crises no elenco, teima em enfatizar os aspectos momentâneamente ruins, como a má performance do nosso ataque até agora (claro, vínhamos jogando com jogadores sub-18), a incapacidade do Flu em virar jogos em que sofre o primeiro gol.

Felizmente, semelhante animal viu suas previsões darem em nada.

Fluminense 2 x 1 Vitória # Ricardo Berna (9); Rafael (7), Thiago Silva (9), Luiz Alberto (8) e Júnior César (6); Fabinho (6) depois Tartá (9), Arouca (6), Thiago Silva (8) depois Maurício (6) e Conca (8); Washington (5) depois Somália (6) e Dodô (7).
Gols: Rafael, aos 25, e Dodô, aos 36 minutos do segundo tempo.
Cartões amarelos: Arouca e Washington.

Cezar Motta - cezar_motta@uol.com.br