O gol perdido por Ivan logo a um minuto de jogo, de forma bisonha, com o gol escancarado à frente e com Alex Dias livre e pedindo a bola pelo meio mostrou que seria uma noite de sofrimento.

Nada está perdido, claro. Sofremos em casa a mesma raiva nos jogos contra o Bahia e o Atlético Paranaense e conseguimos vencer fora.

Mas a postura do Flu tem mudar muito. O time não jogou como quem deseja realmente ser campeão, foi mole, dispersivo, errático nos passes, displicente na apatia de jogadores como Cícero e Ivan.

Não se entende também que Renato poupe jogadores e o time sofra com câimbras e lesões musculares durante o jogo. Que raio de preparação física é essa?

Desperdiçamos chances de gol por falta de concentração, assim como foi por desatenção o gol estúpido que tomamos aos 38 minutos do segundo tempo.

Logo a um minuto, troca de passes rápida no ataque, e Alex Dias meteu para Ivan, pela esquerda, livre diante do goleiro. Era uma questão de calma, até de caminhar mais com a bola e deslocar o goleiro deles, que é inseguro.

Havia ainda o Alex Dias pelo meio, livre, por causa da rapidez do lance. Mas Ivan, bisonhamente, chutou de canhota, com o lado de dentro do pé, um chute torto que saiu à esquerda do goleiro.

Marcação duríssima do Figueirense, e uma atuação impressionante deles do ponto de vista físico. O que correu o Rui Cabeção, por todo o campo, sem sentir câimbras ou lesões, é um espanto.

Erros do juiz: com a pressão, algumas chances de gol surgiram. Ivan bateu falta para Carlos Alberto, curta, na ponta direita. Ele cruzou, Thiago Silva estava impedido, mas Cícero veio de trás em condição legalíssima, com pelo menos dois beques do Figueira dando condições. O bandeira errou feio e nos tirou outra chance clara.

Se fosse um erro cometido contra o Botafogo, seria um escândalo, o Montenegro iria querer arrancar com pinça cada fio do bigode do bandeira. Mas erro contra o Flu, tudo bem, ninguém liga.

Em outro lance, Adriano Magrão recebeu pela esquerda, foi obrigado a sair da área e levou um empurrão. Seria um escanteio bem curto, mas o juiz, com dois pesos e duas medidas, mandou seguir.

Carlos Alberto decepcionava totalmente, errando passes, perdendo bolas bobas que propiciavam contra-ataques perigosos.

O mesmo com o Cícero. Caminhava em campo, desinteressadamente, desperdiçava bolas e não participava do jogo.

No finalzinho do primeiro tempo, o bandeira errou desta vez a nosso favor. Adriano Magrão recebeu com meio corpo na frente, na cara do goleiro, mas assustou-se.

Tocou leve demais, à esquerda do goleiro, quando o correto seria esperar um pouco mais e chutar mais forte, à direita do Wilson. A bola saiu mansamente, para nosso desespero.

Magrão não jogava mal, ao contrário. Participava muito do jogo, buscava a bola, acertava os passes. Mas um gol desses não se perde # é por isso que Romário joga até hoje, aos 41 anos: o Baixo não desperdiçaria.

No segundo tempo, parecia que o Flu viria com mais disposição. Cícero perdeu um gol, Magrão perdeu outro, e nós perdemos o Luiz Alberto, com uma estranha lesão muscular na parte baixa do abdomem. Pela cara que fez, está fora também do próximo jogo. Entrou Roger, de novo muito bem na parada.

O tempo passava e o Flu não deslanchava. O jogo não fluía, Arouca caía de cinco em cinco minutos com câimbras. Renato, então, tirou Fabinho e pôs David, uma mudança que me incomodou, porque aparentemente deixaria o time vulnerável.

David perdeu dois gols # mas eram realmente bolas difíceis. Em uma delas, cruzamento de Carlos Alberto, mas ele chegou dividindo com um zagueiro. Na outra, a bola veio no primeiro pau, cruzada pelo Alex Dias, ele mergulhou de peixinho e a bola passou perto.

Roger, novamente, esteve soberbo ao entrar no lugar do Luiz Alberto. Ganhou todas as bolas que disputou e deu até mais segurança do que o titular, porque é mais rápido, e o perigo eram os contra-ataques.

De dez em dez minutos, o Flu cometia cochilos incríveis na marcação, principalmente quando Arouca caía. Em uma dessas bobeiras, a bola veio cruzada da esquerda do ataque deles, o tal Victor Simões dominou e bateu cruzado para boa defesa do Fernando Henrique, que fechou bem o ângulo.

Saiu Cícero e entrou Thiago Neves. Achei que iria melhorar o time, porque o Cícero entrou em campo, mas não jogou. O Thiago Neves, por sua vez, também entrou muito mal, errando tudo.

A partir daí, 30 e poucos minutos, só deu Figueirense. Tocavam bola com enorme facilidade em nossa metade do campo, e o time do Flu sofreu novamente aquela pane, aquele branco inexplicável que nos atormenta desde o começo do ano.

O gol deles, realmente, parecia questão de tempo. Pela televisão, só se ouvia o grito da minúscula torcida de manezinhos.

Lá pelas tantas, bola perigosa cruzada em frente ao gol, e o Fernando Henrique dá um socão de segurança, em direção a David e Thiago Neves, em nossa intermediária.

Nosso time parecia sofrer de amnésia, todo mundo desligado. David deixou para Thiago Neves, que deixou para David, os dois se olharam românticamente, e o tal do Henrique, um magrelinho que corre como maratonista, entrou no meio dos dois como um raio, tomou a bola, adiantou-a um pouco e mandou um foguete no ângulo direito do FH. Eram 38 minutos do segundo tempo.

Se o 0 a 0 já era uma frustração, uma derrota em casa seria o fim do mundo e das esperanças.

Parecia o desastre. A vontade foi desligar a televisão, abrir um Johnnie Walker e cuidar de outra coisa, esquecer futebol, talvez para sempre.

E tome gritaria por parte da meia dúzia de catarinas. Humilhação total, inveja do Grêmio que massacrava o Santos, da força de vontade do time deles, daquela tradição de garra e invencibilidade doméstica em decisões.

Quando tudo parecia perdido, Thiago Neves finalmente acordou. Aos 43 minutos, foi à linha de fundo pela direita, correu uns dois metros paralelo à linha de cal que marca a saída de bola, e viu Adriano Magrão livre.

Thiago cruzou e, para nossa sorte, a bola chegou aos pés do Melhor-que-Shevchenko.

Gol que pode ter sido a redenção. Mas o espírito do time tem que ser outro lá em Floripa. Se entramos com a bunda-mole dessa quarta-feira, adeus.

Precisaremos daquele mesmo espírito demonstrado na Arena da Baixada, na vitória por um a zero. Se o time entrar mole, preguiçoso e amarelado como nesta primeira partida, vamos mais uma vez passar vexame, ser sacaneados por todos, virar piada nacional.

No segundo tempo também houve erros do juiz. Uma falta em cima da linha no Ivan, que seria então pênalti. E uma furada monumental do grandalhão Felipe dentro da área deles, lance em que só o juiz viu um pretenso empurrão do Alex Dias.

Mas nosso time foi apático, sem vibração, sem inteligência, com atuações abaixo da crítica de jogadores importantes como Carlos Alberto, Cícero, Ivan e Arouca, o rei das câimbras.

O time amarelou, esta é que é a verdade. Mas há tempo de reverter. Como revertemos em Salvador e em Curitiba. Assim como perdemos no Maracanã mas ganhamos do América em Natal. É possível.

Não é possível que tudo dê tão certo para eles e tão errado para nós como neste primeiro jogo. Não é possível que os jogadores não se encham de brios novamente.

E eu não me conformo com esta merda de #poupar# jogadores#. O time deles jogou com seis titulares lá em Natal, bateu o América fora de casa, viajou pra burro nos últimos doze dias, e correu o dobro do nosso time. Achei que o Fábio Mahseredjian era o preparador físico deles.

De tanto #poupar# o time, os jogadores pareciam sem ritmo de jogo. O Carlinhos jogou muito bem no primeiro tempo, Thiago Silva e Roger estiveram muito bem, assim como Luiz Alberto, até se machucar. Ivan esteve mal, perdeu um gol feito e parecia sem coragem e sem talento para ousar.

Cícero também, apático, amarelado, errando tudo. Adriano Magrão e Alex Dias correram muito, mas os ataques eram muito lentos por culpa do meio de campo, e aí as bolas não chegavam em condições.

Magrão jogou bem, mas cometeu alguns erros de colocação imperdoáveis para um centro-avante. Ele recebeu uns três ou quatro cruzamentos de Thiago Neves, Ivan e Carlinhos dentro da área, bolas rasteiras, perfeitas pra escorar e marcar. Mas ele, invariavelmente, colocava-se atrás dos zagueiros.

Vamos ver se dá pra virar. Se metermos logo um gol no primeiro tempo lá em Floripa, eles terão que se abrir mais (ô chavão terrível, esse). O fundamental é que o time acorde, tome vergonha e se encha de brios. Como no jogo lá na Baixada contra o Atlético e no jogo do Maracanã contra o Brasiliense.

Fluminense 1 x 1 Figueirense: Fernando Henrique (6); Carlinhos (7), Thiago Silva (7), Luiz Alberto (6) depois Roger (7) e Ivan (5); Fabinho (7) depois David (6), Cícero (3) depois Thiago Neves (6, pela jogada do gol) e Carlos Alberto (2); Alex Dias (7) e Adriano Magrão (7).
Gols: Adriano Magrão, aos 43 minutos do segundo tempo.
Cartões amarelos: Ivan e Alex Dias.