Amigos e amigas, é difícil escrever sobre um jogo assim. A adrenalina ainda está fluindo violentamente. Uma exibição de gala, tão fantástica que o Petkovic, o Gabriel, o Kleber e o Preto Casagrande deveriam ter jogado de smoking, de black-tie, não de calção.

Os gols do Pet precisam ser exibidos diariamente aos garotos em Xerém, no Globo Esporte, na abertura de programas esportivos, pelo talento, pela garra. Há muito tempo não víamos uma exibição tão espetacular do nosso time.

Começamos o jogo a meia bomba, sonolentos, enquanto o Cruzeiro corria de forma alucinada, disputando cada palmo do Mineirão, criando a falsa impressão de que era melhor do que o Flu. Não era, e todos nós sabíamos disso.

Parece fácil falar agora, mas bastava ver as escalações: o Flu tinha Pet, Felipe (depois Preto), Arouca, Gabriel, Leandro e, ao lado do campo, Abelão. O Cruzeiro tinha Louzada, Batatais, Kelly, Moisés e outros perebas, comandados pelo marqueteiro neurastênico PCGosmão.

Era questão de tempo. Não fiquei nervoso nem mesmo quando eles marcaram o primeiro gol. Disse ao meu filho: #Vamos virar. Temos muito mais time#. Nem mesmo quando Felipe saiu, com menos de 10 minutos de jogo, temi pela nossa sorte. Eles não conseguiriam manter aquele ritmo alucinante nem mesmo por 45 minutos.

Depois do gol que o Flu tomou, o time começou a impor sua maior técnica e o Petkovic justificou seu salário, seja qual for a bufunfa. Ele merece cada tostão ou dracma que ganha no fim do mês.

Gol de placa, gol mil do Flu no Campeonato Brasileiro e gol cem em 2005. O Pet entrou pela esquerda, driblou três na habilidade e na raça, na força e na vontade, e tocou com categoria por cima do Fábio, que tem que beijar as chuteiras e as luvas do Kleber.

No segundo tempo, show absoluto de bola. Logo aos 8 minutos, Petkovic recebeu do Leandro em frente à meia-lua, quebrou duas ou três vértebras do volante do Cruzeiro, deslocou-lhe a coluna, fingindo que chutaria de direita, e bateu de canhota, com uma curva poucas vezes vista no futebol.

Um golaço, de craque, de quem nasceu pra jogar futebol na vida. Uma das melhores contratações do Fluminense dos últimos tempos. Espero que todos os "jornalistas" que inventaram confusões entre Abel, Pet e Felipe estejam morrendo de raiva e frustração # e devem estar, realmente. Nós, tricolores, da nossa parte, estamos felizes da vida, doidos pra ver o Felipe de volta, barbarizando junto com o gringo.

Os pupilos do Gosmão nem tiveram tempo de respirar. Três minutos depois, falta a favor do Fluminense no lado direito do nosso ataque. Leandro sofreu um atentado homicida, o lateral deles foi expulso e, adivinhem quem preparou-se para cobrar: ele mesmo, Petkovic.

E cobrou magistralmente, cruzamento na cabeça do Igor, que ajeitou na medida para o Gabriel arrematar de primeira, de canhota, na linha da pequena área. Eram 11 minutos do segundo tempo. A partir daí, veio o relaxamento. Toques excessivos para fazer o tempo passar, alguns cochilos e abusos, preguiça.

E em uma falha coletiva de Igor, Marcos Aurélio, Juan e Arouca, aos 22 minutos, eles marcaram, em uma avenida que se abriu pelo lado esquerdo de nossa defesa.

Não fazia mal. Marcaríamos o quarto gol. Brilhante jogada de Gabriel pela direita, aos 30 minutos. Recebeu passe na medida do Pet, invadiu e chutou. O Fábio defendeu com o pé para o meio da área. Tuta chutou, a bola bateu no beque e sobrou para o Beto, que entrara no lugar do Leandro, e chegamos ao quarto gol.

Aos 37 minutos, falta na intermediária. Pet ajeitou, e pensei: é o nosso quinto gol. Preto antecipou-se e deu um porradão por cima da barreira. A bola quicou antes de chegar no Fábio, que deu rebote no pé do Gabriel, que não perdoou e tocou no canto: 5 a 2, aos 38 minutos.

Estava mole, mole, e poderíamos ter feito mais uns três ou quatro gols, em uma goleada histórica. Mas o time relaxou um pouco e passou a tocar a bola e buscar contra-ataques. Em um deles, Juan fez belíssima jogada pela esquerda e tocou na medida para Tuta, que entrou pela meia-lua e tocou entre as pernas do Fábio, que saía desesperadamente do gol. Eram 41 minutos, e voltamos a perder mais uns três gols, até o fim do jogo, por pura falta de capricho.

Ninguém jogou mal. Kleber foi, novamente, sensacional, Gabriel brilhou intensamente e fez dois gols, Gabriel Santos é muito melhor do que parecia no começo, Igor é eficientíssimo, Juan jogou bem, enfim, todos estiveram muito bem.

Mas o destaque absoluto vai para Petkovic, com seus dois gols de antologia, de placa, e para Gabriel, que também brilhou. Preto Casagrande esteve excelente também, mostrando que tem vaga no time. Se tudo correr de acordo com o script, temos tudo para ser campeões.

No SportvNews, clima de luto, caras de tristeza. A apresentadora Vanessa Riche e o Alex Escobar lamentaram a perda do Fred e a má fase do Cruzeiro, sem ao menos mencionar a sinfonia do Flu. Disseram que "o gol da rodada foi o do Marques". E nós felizes da vida, rindo da cara deles, apesar de pagarmos o PPV resignadamente.

Cruzeiro 2 x 6 Fluminense: Kleber; Gabriel, Gabriel Santos, Igor e Juan; Marcos Aurélio (Milton do Ó), Arouca, Felipe (Preto Casagrande), Petkovic; Leandro (Beto) e Tuta. Gols: Petkovic, aos 30 minutos do primeiro tempo; Petkovic, aos 8 minutos do segundo tempo; Gabriel, aos 11 do segundo tempo; Beto, aos 30 minutos; Gabriel, aos 37 minutos e Tuta, aos 41 minutos. Cartões amarelos: Marcos Aurélio, Preto, Petkovic e Beto.

Cezar Motta - cezar_motta@uol.com.br