SEMPRE FLU

Cheiro de semifinalista

?Eu vou de arquibancada pra sentir mais emoção.?
Era o primeiro jogo da minha namorada pé-quente no Maraca. Em todos os jogos que fiquei no setor da imprensa, o Flu venceu. Em vários que fui de arquiba, perdemos ou empatamos. Confiando na estrela da minha gatinha, optei por ficar com ela pouco acima da faixa da Sempre Flu. Geralmente não dou sorte quando vejo jogos por lá e meu retrospecto em jogos de Maracanã cheio não é tão bom, mas era o momento de exorcizar o fantasma do Azulão e todos os traumas do passado.

?O Maraca é nosso!!!?
Como é lindo ver o anel do mais carismático estádio do planeta tomado pela melhor torcida do mundo. O verde, grená, branco, cinza e laranja davam um colorido especial ao ensoladorado domingo. Aliás, diga-se de passagem, o horário de 16h (15h na verdade, por causa do horário de verão) é um absurdo. A emissora-mãe devia rever isso. Não é à toa que vários jogadores passaram mal e o Yan ficou mortinho em dez minutos. E muitos torcedores também sofreram, com a falta de líquido para vender.

?Sai do chão! É a torcida do Fluzão!?
Apesar do calor, o time voava em campo devido ao ótimo trabalho do Paulo Paixão. Fora dele, quem não parava é a torcida, que envergou duas lindas camisas gigantes. O público anunciado foi de pouco mais de 60 mil pagantes, mas tinha, pelo menos, 20 mil pessoas a mais. A beleza dos tricolores encanta. Qualquer homem ou mulher de bom gosto sabe que o melhor índice de gente bonita por metro quadrado está na torcida do Fluzão.

?É tempo de sorrir, sorria!?
No sábado houve show do Rush (para minha surpresa, a Suderj deixou o gramado em boas condições), mas quem ditou o espetáculo do domingo foi o trio elétrico do nosso ataque. Foi um duelo em que cada equipe se colocou em seu lugar. Nós como um verdadeiro time grande, com sua imensa torcida, e o queridinho da imprensa paulista como o time pequeno que é, com seus meia-dúzia de bengalas na torcida. A ordem natural voltou. E se aproxima uma reedição sensacional das semifinais de 76 e 84.

?Melhor do Rio!!!?
Botafogo rebaixado. Flamengo quase rebaixado de novo. Vasco e Eurico em visível decadência. No ano do centenário, quem manda no Estado é, com perdão da redundância, o Fluminense. Voltamos a ser o time da moda. Vale destacar a enorme quantidade de crianças que entraram em campo. O mais amado do Brasil voltou ao seu lugar de origem para o bem do futebol carioca e nacional. É balela acreditar que as torcidas rivais querem o nosso sucesso, mas somos um representante digno do Rio de Janeiro.

?E abençoa esse povo que te ama.?
Foram distribuídos milhares de apitos antes e durante a partida. No primeiro tempo, eles e a musiquinha do papa ditaram a trilha sonora. O São Caô estava superior, mas o nosso goleirão Kléber mostrava segurança. César, Zé Calos, Marquinhos e Marcão estavam bem, mas Flávio, Marciel, Beto e Yan não viviam o seu melhor dia. A tensão era grande, principalmente quando o carrasco Adhemar tocava na bola. Chance real de gol para a gente só uma falta muito bem cobrada pelo Yan.

?Re-na-to! Ga-ú-cho!?
Voltamos bem diferentes do intervalo. Eles também. Duas simples modificações surtiram um grande efeito. Do nosso lado saiu o limitado Marciel para a entrada do habilidoso Carlos Alberto. Do lado deles entrou o veloz Anaílson no lugar de Robert, que foi o jogador mais perigoso na primeira etapa. No duelo dos técnicos boleiros, Renato foi bem mais malandro do que Mário Sérgio. As substituições mortais vieram pouco depois, quando saíram Yan e Adhemar, entrando Magno Alves e Wagner respectivamente.

?Romário é sinistro!?
O nosso salvador estava na dele, como sempre. Caladinho, esperando uma oportunidade para dar o bote. Na hora certa, ele apareceu. Aos 21 minutos, Romário estava com a bola na entrada da área e daí veio a luz. O Baixinho percebeu o Magnata entrar quase na pequena área pela diagonal e deu um passe genial. Magno girou rápido e colocou a bola no cantinho direito de Silvio Luis. 1 a 0! O grito de gol entalado na garganta foi liberado. O Maraca explodiu.

?Juiz! Ladrão!?
Logo após o gol, Iriney, um típico cabeça-de-bagre, deu um chute no Romário e não tomou cartão porque já tinha amarelo. Romário foi beber a beira do campo e foi inexplicavelmente advertido com um amarelinho. Sabia que esse Luciano de Almeida era fraco e a previsível falta de critério deu raiva. O árbitro ainda inverteu várias faltas e não expulsou o zagueiro Serginho que também bateu o tempo todo. Espero que o juiz escolhido para a partida de volta seja melhor.

?Roni é um terror!?
O Flu recuou um pouco depois do gol e eles tiveram uma chance clara para empatar. Kléber salvou um chute de Wagner e Marquinhos afastou o perigo com um bico. O Azulão partiu muito afoito e poderíamos ampliar num contra-ataque. E foi isso que aconteceu. Aos 29`, Romário roubou a bola do fraco Iriney e lançou Roni. Nosso atacante deu o drible da vaca em Lúcio, que ainda ficou no chão. Era só fazer e Roni finalizou com precisão no cantinho esquerdo de Silvio Luiz. 2 a 0!

?Mais um!!!?
Após o segundo gol, o monstrinho azul que criamos se entregou. Augusto ainda entrou no lugar de Roni para segurar o dois a zero, que já era um ótimo resultado, mas a torcida queria mais. Romário, como um maestro, regia a orquestra em campo. Impressionante a diferença do Fluminense de cada tempo. Renato já estava satisfeito com o placar, até que, aos 44`, Magno avançou e sofreu falta perigosa.

?Ah!!! Magno Alves!?
Faltava o gol do Baixinho. Cantei na hora isso para a Dany. 3 a 0 seria perfeito. Um gol para cada derrota que sofremos deles. Ao contrário do lance do jogo contra o Vasco, quem ameaçou chutar dessa vez foi o Beto. Romário veio de trás e deu um bico. Silvio Luiz deu uma de Oliver Kahn e Magno completou para o fundo das redes. Loucura total! A Flunião foi mostrada em campo com todos os jogadores se abraçando. Não saiu o gol do Romário, mas ele colaborou decisivamente nos três.

?Olé!!! Olé!!!?
O ?olé? que cantamos nos minutos finais vai para certos jornalistas, incluindo alguns da imprensa carioca, que insistem em subestimar o nosso time e superestimar equipes ridículas. Vai para todos os torcedores recalcados que riram da nossa cara com os gols de Adhemar e Marcos Sena. E também vai para os demais clubes paulistas, que adoram andar de salto alto (bem a cara deles) e vão ficar caladinhos ao ver o que nossos calçados da humildade são capazes de fazer contra cada um deles.

?Dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe Nense! Seremos campeões!?
Temos agora um confronto difícil no Anacleto, mas a pressão passou para o outro lado. Espero que tenha sido aprendida a lição de 95, quando tínhamos a mesma vantagem de três gols. Acredito que o Renato adotará o 3-5-2, mas precisamos jogar para vencer. Nosso técnico (como jogador) estava na época e sentiu na pele o que um oba-oba
antes da hora é capaz.

P.S.: Para a alegria de muitos e a tristeza de poucos, a SporTV não renovará o contrato de seus comentaristas ?boleiros? (Rivelino, Junior, Zenon, Leivinha, Raul Plasman e Gonçalves). A moda poderia pegar para os ex-ábitros, inclusive os da TV aberta.

P.P.S.: Barcelona x Real Madrid e Milan x Internazionale foram dois jogos horríveis. Perdi meu tempo assistindo esses ?clássicos? dos campeonatos espanhol e italiano. O Campeonato Brasileiro sobra em qualidade técnica, mesmo com vários atletas nacionais no exterior. Comparar o nível do futebol brasileiro nas quatro linhas com o europeu chega a ser uma heresia.