A gente já desconfiava. Por que perdemos tão miseravelmente para um time tão medíocre, que joga apenas na base da força física, da vontade, da concentração, da disciplina tática, do preparo físico?

Resposta: porque o nosso time não teve nada disso. Não teve força física (à exceção de dois ou três jogadores, como Luiz Alberto), não teve vontade, não teve concentração, disciplina tática, preparo físico.

Como todos nós, no fundo, sabíamos. Afinal, não ganhamos nem do Botafogo...

Nossos zagueiros e volantes sequer podiam respirar, porque eram atacados e desarmados por dois ou três são-paulinos, fossem atacantes, meio-campistas, que marcavam por pressão e com vontade, não concediam sequer um centímetro de campo aos nossos jogadores.

O time do Flu, enquanto isso, rebolativo e cadenciado demais, permitia que os três zagueiros deles, e até o Rogério Ceni, saíssem jogando com enorme facilidade.

Muita rebolada, muito toquezinho de calcanhar, passe pra trás, passes curtos de meio metro, ritmo de time de masters, lento, cadenciado, pipocadas nas divididas, tudo isso deixou o jogo mole, mole para o São Paulo, que não deixou ninguém respirar, marcou duro, jogou com o coração na ponta da chuteira, comeu grama.

O pior é que todo mundo sabia que seria assim. Muricy avisou, com todas as letras: #o time deles é mais técnico, mas o nosso é mais guerreiro, mais brigador.# A gente já viu essa preguiça, essa covardia, contra o Botafogo.

Veio o jogo, e o que vimos?: o time do Flu novamente rebolando, pipocando nas divididas, tentando toquezinhos de letra, jogando em câmara lenta, cadenciando o jogo, preguiçoso, mole.

Levamos sempre meia hora pra ultrapassar o meio de campo - isso quando conseguimos...

Do outro lado, um time que comia a grama, que jogava com a faca nos dentes, com gosto de sangue na boca, que marcava a nossa saída de bola, que ganhava todas as divididas já na nossa meia-lua. Revoltante! De emputecer!

Quando vi a escalação na televisão, antes do jogo, quase desisti. Nosso único jogador guerreiro, típico de Libertadores, e que sabe jogar bola, iria assistir ao jogo do banco: Renato barrou Conca!! E pôs o sonolento e apático Arouca no jogo! É dar mole demais!

Juro que quebrei um copo vazio quando vi o Arouca avançar pela intermediária do São Paulo, no único momento em que eles cochilaram na marcação, pela meia direita.

Livre, com chance de entrar e dar uma porrada para o gol, além de várias outras alternativas, o Arouca talvez tenha se lembrado dos dreadlockos do cabelo, da proposta do Benfica.

Praticamente na linha da grande área adversária, Arouca cochila, pensa no penteado, (#será que está legal na tevê?#) e, antes que pudesse fazer qualquer coisa, veio um são-paulino e lhe bateu a carteira, pra delírio dos bâmbis.

Um vexame, uma coisa inadmissível em jogo decisivo. Eu o tiraria de campo naquele momento.

O Thiago Neves, até agora, vinha pelo menos cobrando faltas perfeitas, pelo alto, nas cabeças do Thiago Silva (ah, como fez falta!!), do Roger, do Luiz Alberto, do Washington. Só conseguimos este ano fazer gols assim, porque não temos mais jogadas de ataque.

Nesse jogo decisivo, porém, o Thiago Neves, desconcentrado, amarelado, acovardado, cobrou todas as faltas à meia altura, na barriga do lateral que fazia a falsa barreira, pertinho dele.

Ah, e os rebolados, os rebolados, os toquezinhos de letra e de calcanhar que armaram contra-ataques pra eles...Ah, que raiva!!

Quando me lembro de que Jancarlos, em 2002, era lateral do Flu, e Gabriel lateral do São Paulo, e eles nos golearam no Morumbi, com gol do Gabriel e péssima atuação do Jancarlos, penso em como é importante um clube ser estruturado, com centro de treinamento com três ou quatro campos perfeitos e de tamanho oficial, com mentalidade vencedora, com direção, com organização, ah...

A diferença de ritmo de jogo, de vigor físico, de pegada, de vontade, de organização tática, de objetivos pré-determinados contra um outro grupo que não sabe o que fazer, é a diferença de uma instituição que funciona para uma outra que apenas improvisa.

Sei que, se eliminarmos o São Paulo daqui a uma semana (e temos time, torcida, camisa e tradição para isso), vou levar cacete de todo lado. E vou merecer. Podem bater. E quero mais é levar mesmo, porque vou torcer para o Flu como um alucinado.

Mas a paixão tricolor não me deixa cego: o Flu é um bom time, mas com uma estrutura, uma base e uma retaguarda que estão na primeira metade do século 20. E o São Paulo já chegou ao Século 21. E falta alma ao nosso time.

Confesso que em nenhum momento achei que o Fluminense poderia empatar o jogo. Washington, grande caráter, grande profissional, não tem mais condições físicas de disputar uma competição altamente física em sistema de mata-mata.

Não tem mais arrancada, impulsão, velocidade. É duro admitir, mas é fácil para zagueiros altos, velozes, jovens e fortes como os do São Paulo neutralizar o nosso Coração Valente.

Dodô está totalmente fora de ritmo, e depende muito de um grupo bem treinado.

E o gol deles? Um absurdo!! Um time que não chega ao ataque tem, pelo menos, a obrigação de marcar direito. Mas não foi o que vimos. Adriano recebeu livre quase na meia-lua, ninguém marcou, ninguém chegou perto ou atrapahou.

O grandalhão gordo olhou, sem qualquer problema, e lançou Dagoberto, livre, livre, na linha da área, pela esquerda.

Onde diabos estava o Gabriel?? Dagoberto sozinho. Mole, mole, parecia jogo de casados e solteiros.

Dagô chutou cruzado, de canhota. FH rebateu para o meio da área, e Adriano, que ninguém marcou (o que fazia o Ygor em campo?), andando, como quem vai à padaria da esquina, preguiçosamente, tocou de pé direito, sem ninguém chegar perto.

Não temos ataque. Se dependermos de uma arrancada do Dodô, uma jogada individual do Washington, não ganhamos mais de ninguém. É só figuração, ou se sobrar uma bola limpa pra conclusão.

Washington já virou o fio. E com o Conca no banco, nosso único jogador típico de Libertadores...francamente! Ô Renato! E ele ainda broxa o time, gritando que #acabou!!# #acabou!!# .

Então, a força física, a disposição, a concentração, a melhor organização tática, o melhor banco e elenco do São Paulo, fizeram a diferença.

Mas não quero ser totalmente pessimista. Podemos reverter no Maracanã. Um a zero não é o fim do mundo. Mas...

São Paulo 1 x 0 Fluminense: Fernando Henrique (5); Gabriel (4), Luiz Alberto (8), Roger (7) e Júnior César (6); Ygor (4), Arouca (3), Cícero (4) e Thiago Neves (2) depois Conca (8); Washington (4) e Dodô (4).

Cezar Motta - cezar_motta@uol.com.br