Entra jogo, sai jogo, e o Fluminense continua com os mesmos defeitos táticos e técnicos.

Estamos felizes com a magra vitória contra os reservas do Figueirense, mas a performance do time é cada vez mais preocupante.

Aliás, falar em defeito tático é um engano. Não há tática ou organização alguma, como sempre, como não houve mesmo nos jogos mais empolgantes da Libertadores. Dependemos do brilho individual de alguns jogadores.

Os defeitos técnicos são conhecidos: Júnior César faz tudo certo, mas não consegue acertar um passe ou cruzamento quando chega ao fundo.

Washington luta muito, mas não consegue jogar futebol. Erramos muitos passes tolos.

Foi mais um sábado de Washington saindo da área para armar jogo (armar para quem?), Júnior César desperdiçando suas arrancadas, marcação frouxa no meio de campo, o que sempre nos deixa em risco.

Mais uma vez Arouca foi terrivelmente irregular, faz algumas poucas boas jogadas com a bola no pé, mas depois começa a errar tudo e, fundamentalmente, não marca ninguém, apesar de ser um segundo volante.

Aos 39 minutos do primeiro tempo, um retrato da nossa bagunça tática: Washington #arranca# pela ponta esquerda, é desarmado (claro!), e consegue um arremesso lateral.

O que acontece então? Um show de absurdos! O próprio Washington prepara-se para cobrar o lateral (onde já se viu centro-avante cobrar lateral?), e ninguém, eu disse NINGUÉM, se aproxima para receber a bola.

O que se segue é um bate-boca, Washington com a bola na mão, esperando, gritando, e Thiago Neves dentro da área, provavelmente gritando #cobra logo esse troço!# Onde estava o Júnior César?

O começo do jogo nos enganou a todos. O time veio cheio de vontade, marcando por pressão, desarmando os volantes e zagueiros do Figueirinha.

Washington, com menos de um minuto de jogo, recebeu dentro da área, pela esquerda, deu um drible inesperado em um zagueiro e cruzou para Thiago Neves na cara do gol.

Thiago só encostou o pé pra marcar o gol, mas o goleiro Wilson atirou-se e fez uma defesa espetacular.

Na seqüência, Conca enfiou uma bola em diagonal para Dodô entrar, na cara do goleiro, pela direita, exatamente como aquele gol que ele marcou contra o Vitória.

Desta vez, em vez do toquezinho por cima do goleiro, ele encheu o pé, e a bola foi na trave. E tínhamos apenas três minutos de jogo!

Seguiram-se faltas que, na Libertadores, seriam gols certo. Mas, desconcentrado, Thiago Neves cobrou na barreira, ou por cima do gol.

Na terceira falta perigosa, foi a vez de Washington cobrar e acertar o travessão do Figueira, aos 10 minutos de jogo.

Parecia que era questão de tempo o primeiro gol. Mas não era. O desleixo começou a tomar conta do time, exceto da defesa, e as coisas foram se complicando.

Nossa sorte é que, com time reserva, o Figueirense foi ao Rio para empatar.

Eles deram alguns chutes a gol perigosos, mas sempre de longe. O único atacante era Tadeu, um grandalhão muito forte, mas lento.

Mas pressionavam nosso meio de campo e desarmavam com facilidade os atrapalhados Fabinho e Arouca, além do Rafael e do JC.

No finalzinho do primeiro tempo, Rafael recebeu sozinho, como um ponta direita, na linha da área. Escolheu mirar a cabeça de Washington, mas o zagueiro conseguiu se antecipar e cortar.

No segundo tempo, o mesmo panorama. Na base da individualidade e da improvisação, o time buscava entrar na área, mas sem organização, sem jogadas, sem esquema de jogo, tudo é difícil.

Por que, por exemplo, Arouca não faz o overlapping com o Rafael, pela direita, e Conca com o Júnior César, pela esquerda? Aquela jogada rápida, dois-em-um em cima dos laterais adversários.

Mas não. Vemos apenas Júnior César chegar ao fundo e desperdiçar o cruzamento, ou Rafael ser desarmado pelo lateral esquerdo deles.

Na direita, Rafael parece sempre que vai deslanchar, fazer uma grande jogada, mas invariavelmente se atrapalha todo.

Dodô e Washington juntos, com 34 e 33 anos, respectivamente, sem velocidade, tornam nosso ataque muito fácil de marcar, lento e previsível, embora os dois venham sempre lutando.

Renato faz sempre a mesma alteração, Tartá no lugar de um volante, no caso deste sábado o Fabinho. E é mais um a buscar resolver sozinho as coisas.

Somália entrou depois no lugar do Dodô. Outro atrapalhado, o Somália, cheio de pernas, como uma aranha gigante. Mas pelo menos tem mais mobilidade.

Confesso que, lá pelos 30 do segundo tempo, comecei a temer pelo gol deles. Já vimos filmes assim antes: pressionamos, pressionamos, e tomamos um gol bobo e fortuito no fim do jogo.

Nossa sorte é que temos um monstro chamado Thiago Silva na defesa. Uma segurança, principalmente se levarmos em conta que Luiz Alberto também joga sério e dificilmente perde divididas.

Lá pelos 30 e poucos minutos, um jogador do Figueira recebe na linha de fundo, pela esquerda, entra na área, tenta driblar Ricardo Berna e, quando vê que não vai conseguir, atira-se ao chão.

De longe, parecia pênalti, mas ficou claro que Berna nem encostou no atacante.

Mas um palhaço fronteiriço, debilóide, com cara de sapo, olhos botocudos, torcedor do Flamengo de viajar com torcidas organizadas, alcunhado de #Sérgio Lobo#, gritou, no microfone do Sportv: #Pênalti escandaloso, e o banco do Figueirense grita de revolta#.

Se não foi exatamente isso, foi quase isso.

Antes da confirmação do VT, o imbecil decretava um escândalo no Maracanã, solidarizando-se com o banco do Figueira. Torcedor do Flamengo fingindo-se de repórter é assim mesmo...

Mas o juiz foi bem, embora pudesse ser mais rigoroso com algumas faltas violentas do Figueira.

Perdemos em seguida algumas chances incríveis por displicência e falta de decisão de Dodô e Washington

Com Somália em campo, no lugar de Dodô, começou a seqüência de bolas altas na área, improdutivas.

Até que, aos 39 minutos, o superzagueiro Thiago Silva arrancou como um meia, passou por dois adversários e tocou, já dentro da área, para Thiago Neves, na cara do goleiro.

O goleiro Wilson, mais uma vez, fez ótima defesa, pra escanteio. Seguiu-se a cobrança, Júnior César fez mais um cruzamento errado, alto, mas Washington subiu junto com o goleiro, que errou o tapa na bola.

A bola sobrou limpa pra Thiago Neves emendar, de voleio, e jogar lá dentro, para delírio e alívio de todos nós.

Os jogadores do Figueira correram para cima do juiz, reclamando ao mesmo tempo o pênalti que não existiu e uma falta também inexistente de Washington no goleiro.

Era a terceira vitória em quatro jogos, mas o futuro é incerto e preocupante. Os dois Thiagos, nossos dois únicos fora-de-série, vão pra seleção olímpica, e o time vai piorar. Será que Branco vai, enfim, contratar algum reforço??

Temo que venha, por exemplo, o Felipe, que vai tornar o time ainda mais lento e preguiçoso.

Precisamos de dois volantes fortes, marcadores e que saibam sair jogando, um meia habilidoso, rápido e forte pro lugar do Thiago Neves, e um atacante de velocidade. Será??

Fluminense 1 x 0 Figueirense: Ricardo Berna (5); Rafael (5), Thiago Silva (9), Luiz Alberto (7) e Júnior César (7); Fabinho (6) depois Tartá (7), Arouca (6), Thiago Neves (8) depois Maurício (sem nota) e Conca (7); Washington (6) e Dodô (5) depois Somália (6).
Gol: Thiago Neves, aos 39 minutos do segundo tempo.
Cartões amarelos: Arouca e Luiz Alberto.

Cezar Motta - cezar_motta@uol.com.br